Estes são os Sete Pecados Capitais que no século VI foram enumerados e agrupados pelo Papa São Gregório Magno (540-604) como sendo os “cabeças” dos demais pecados que se desdobram a partir deles. Definições religiosas à parte, observamos que milênios se passaram e a fragilidade humana continua a patinar no mesmo lodo dos maus hábitos e falhas de caráter. Os avanços da modernidade não nos salvam de instintos vorazes e ainda ativam os cromossomos de insatisfação, intrínsecos ao homem e os lançam na ribanceira dos desejos desenfreados e excessos desnecessários. Esbanjamos recursos, perfeição e tecnologia, porém muitos permanecem na sarjeta suja da categoria humana, segurando um iPhone de última geração nas mãos. Interessante que estes pecados capitais também são chamados pecados mortais, porque significariam a morte da alma. Sim, em várias situações nos vemos nos bancos gelados de um triste velório onde choramos a morte da essência na vida. Que perda irreparável! Justo ela, que nos levava a caminhar na estrada da vida com leveza, apreciando o belo, valorizando o simples, com relacionamentos sinceros, sendo felizes com o suficiente e apreciando a força das delicadas flores que desabrocham entre as pedras do caminho. Quando fascinados exclusivamente à matéria o essencial definha e morre. Exupery resgata-nos do materialismo no livro O Pequeno Príncipe: “o essencial é invisível aos olhos”. Assim, quanto mais presos à matéria estamos, mais nos distanciamos do essencial da vida. Muitos vivem a proposta marxista do materialismo, onde a tese salienta que a realidade material determina o pensamento, as ideias e a vida. Engana-se quem busca a felicidade neste ópio ilusório da Sociedade Líquida. Libertar-se desta condição artificial pode construir uma sociedade melhor. As contas bancárias podem estar cheias, mas o poço emocional está seco e a alma morta. Como viver o essencial da vida quando ficamos acorrentados à sedução irresistível da matéria? Sempre em busca de suprir nossos desejos, porém nunca satisfeitos? Isso não seria “Gula”!? Se eu tivesse que reunir os sete pecados em um, escolheria a gula, nela encontramos todos os outros seis. Localizamos a gula não só na comilança compulsiva, mas na ânsia humana de querer sempre exageradamente mais. Mais dinheiro, mais prazer, mais mulheres, mais descanso, mais carros, mais beleza, mais sucesso, mais perfeição física, mais, mais… Patricia Vaz, em estudo sobre a gula, escreve que o guloso é aquele que incorpora a tudo e todos. Para que uma bolacha se há todo o pacote? Para que saciar-me com uma mulher, se posso seduzir a todas? Empurrados pela ideia “ter é poder”, a gula invade a simplicidade do cotidiano e enxerta o universo humano com a fascinante possibilidade de ser além do que se é. Um instinto, enfim, um animal que deve ser domado. O sábio dito popular enuncia “Quem quer tudo não tem nada”. Trocamos a segurança de ser quem somos pela bulimia emocional de devorar tudo que cobiçamos ser e ter para vomitar em seguida. Assustador este asco humano que mastiga friamente para depois cuspir quando não servir mais. Temos gula por tudo aquilo que queremos mais e por isso, para além da comida, este pecado está relacionado ao egoísmo humano. Ainda assim podemos gerar um antídoto para esses vícios principais, a Igreja Medieval contrapôs os sete pecados com as seguintes virtudes: disciplina (para combater a preguiça), generosidade (avareza), castidade (luxúria), paciência (ira), temperança (gula), caridade (inveja) e humildade (soberba). Mas antes destas virtudes, a possibilidade de reversão deste quadro alucinante, será possível quando domarmos o animal dentro de nós e nos envolvermos com amor e satisfação pela nossa própria vida, respeitando a do próximo, além de valorizar o muito que já temos e agradecer com intensidade a riqueza que encontramos no melhor dia que é hoje.

Edilene Nassar é psicóloga, professora, palestrante e especialista em inteligência emocional. Contatos pelo (14) 98149-7242 e edilenenassar@hotmail.com

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