(Foto: Paulo Cansini)
Conhecida também como “otite do nadador”, a otite externa é uma afecção comum nos meses mais quentes do ano. “Otite é toda doença relacionada à orelha. Podemos ter a otites externas, médias e internas (labirintite). Contudo, nesse período do ano é possível constatar um aumento da ocorrência de otites externas especialmente pelo contato mais frequente com praias e piscinas”, pontua a médica otorrinolaringologista Vanessa Pires Dinarte.
Composta pelo pavilhão auditivo, conduto auditivo externo e membrana timpânica, a orelha externa tem a função de captar o som ambiente, transmitindo-o para a orelha média, que leva o som à orelha interna. Além dessa função, tem papel de ser uma barreira física para a proteção das orelhas média e interna. O cerume, presente no conduto auditivo externo, também é parte dessa proteção. “A cera não é uma sujeira, mas sim parte importante da proteção do ouvido, pois produz a lubrificação adequada para a região do canal da orelha, evitando a entrada de corpos estranhos e, por ser mais ácida (pH entre 4 e 5), evita a proliferação de agentes causadores de otites, reduzindo o risco de infecções”.
A remoção do cerume de forma inadequada – com o uso de hastes flexíveis, por exemplo – pode levar a microfissuras e rompimento da integridade do canal. “Ao causar microfissuras, possibilitamos a entrada de agentes infecciosos, que na otite externa são principalmente bactérias, mas pode ocorrer também a otite externa fúngica, conhecida como otomicose”, salienta a médica. Além da remoção voluntáriado cerume, o contato frequente com piscinas, rio e mar podem ocasionar, além da remoção involuntária da cera, o acúmulo de água na região, que pode levar a quadros inflamatórios e até mesmo infecciosos, gerando a otite externa.

SINTOMAS
Os principais sintomas da otite externa são as dores e sensação de ouvido entupido, reduzindo a acuidade auditiva. Pode haver também a sensação de tontura – o equilíbrio pode ser prejudicado devido à dificuldade de localização das fontes sonoras, aumento de secreção do canal auditivo e vazamento (otorreia), acompanhada ou não por prurido (coceira), bastante comum quando há presença de fungos.

PREVENÇÃO
O uso de hastes flexíveis é totalmente contraindicado. “O cerume é uma proteção natural da orelha e deve existir. O próprio organismo se encarrega de expelir o excesso da cera. Se, por alguma razão houver um acúmulo excessivo, um médico poderá avaliar a necessidade de remoção no consultório”, ressalta a especialista. Nos casos de histórico de otites anteriores, prática de esportes aquáticos ou aumento do contato com piscinas e praias no período, é possível recorrer ao uso de tampões de silicone, que ajudam na vedação do canal auditivo e evitam o contato excessivo com a água.
“Para nadadores, temos uma opção bastante interessante, que é a moldagem de tampões sob medida, que podem ser feitos após avaliação médica, com encaminhamento ao fonoaudiólogo, profissional que confecciona esse molde, geralmente em silicone, e que provoca a vedação do conduto auditivo”. Não tentar manipular para melhorar a audição – isso só vai piorar; Enquanto aguarda a consulta com o especialista, para aliviar, use analgésicos por via oral, de uso habitual; Evitar pingar qualquer tipo de produto sem orientação médica; Se muito intensa, pode fazer compressa quente, passando um pano com o ferro e bolsas térmicas devidamente protegidas para não queimar a pele.

TRATAMENTO
Há casos em que a infecção se estende, levando as dores até regiões retroauricular, da mandíbula e da cervical, comprometendo por adjacência órgãos da região da cabeça e pescoço. Há casos de complicações especialmente em pacientes imunossuprimidos, como diabéticos, pacientes HIV positivo e outras comorbidades que diminuem as defesas do organismo, como a otite externa necrotizante, com bactérias extremamente agressivas (mais frequente Pseudomonas aeruginosa), que podem causar até mesmo perda do pavilhão auricular e irradiação para base de crânio, demandando internação, com medicação endovenosa e observação médica. Por isso, em caso de dores ou suspeita de otite é importante procurar o médico tão logo quanto possível. “O diagnóstico de otite externa é feito no consultório através da história do paciente e avaliação clínica. Na presença de excesso de secreção, o médico poderá realizar a aspiração do conduto visando facilitar o uso da medicação tópica prescrita de acordo com o caso. O tratamento pode envolver ainda anti-inflamatório oral e até mesmo antibiótico, a depender da gravidade da infecção”.

A otorrinolaringologista Vanessa Ramos Pires Dinarte (CRM 109244) é doutora pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo – USP. Diretora do Ambulatório Médico de Especialidades Mário Covas – FAMEMA. Atende na Clínica Pires Dinarte, que fica na Rua Coronel José Brás, 975. Telefone (14) 3301- 9176. E-mail: piresdinartesaude@uol.com.br. Instagram: @vanessadinarteotorrino.

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