Alexandre Raith, da Agência Einstein
Um boletim do Observatório Covid-19 Fiocruz apontou um pequeno aumento na incidência de casos e na mortalidade por coronavírus entre os dias 30 de maio e 12 de junho. E ainda projetou uma possível piora da pandemia com o inverno. O clima mais frio pode realmente provocar um aumento de contágio do Sars-CoV-2?
Como com outros vírus respiratórios, há uma possibilidade de maior contágio nessa época do ano. “Mas isso acontece por uma questão comportamental”, pondera Pedro Giavina Bianchi, imunologista e coordenador do Departamento Científico de Asma da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai). “Nessa estação, as pessoas ficam mais tempo em lugares fechados e pouco ventilados, o que facilita a transmissão”, arremata.
Entretanto, as medidas sanitárias adotadas para enfrentar a pandemia (como manter o distanciamento físico e evitar ir a lugares com outras pessoas) evitaram que esse período frio acentuasse ainda mais a disseminação do Sars-CoV-2. “No inverno do ano passado, não houve registro de aumento de casos”, revela Bianchi.
Segundo o imunologista, esse maior cuidado em 2020 resultou inclusive em menos casos de gripe, rinovírus e até crises de asma. “Mas as pessoas estão relaxando agora, e ficarão mais tempo em ambientes fechados por causa do frio. Isso pode realmente agravar a pandemia”, conta o imunologista.
Ou seja, estimular medidas preventivas é a melhor forma de evitar a infecção em qualquer época do ano. Usar máscara facial, manter distanciamento físico, deixar os ambientes ventilados e lavar as mãos com frequência interrompem o ciclo de transmissão do coronavírus e de vários outros agentes infecciosos.
E será que as baixas temperaturas e o clima seco exercem alguma influência direta sobre o sistema imunológico? “Não existem pesquisas científicas comprovando isso. Mas o frio e a baixa umidade são irritativos para as vias aéreas, o que poderia facilitar doenças respiratórias, uma vez que o nariz não consegue cumprir as suas três funções, que são aquecer, umidificar e filtrar o ar”, esclarece o coordenador da Asbai. Atenção: não há qualquer estudo robusto ligando a temperatura ou o clima a uma maior facilidade de instalação do coronavírus no organismo.
Rejuvenescimento da pandemia
O Boletim do Observatório Covid-19 Fiocruz também indica uma tendência de concentração dos novos casos dessa infecção em adultos mais jovens. Na semana entre os dias 30 de maio e 12 de junho, a idade média dos casos de internação caiu de 62 para 52 anos, enquanto o de mortes, de 71 para 61 anos.
Há diferentes razões para isso. Primeiro que os mais velhos apresentam uma maior taxa de vacinação, inclusive com a segunda dose. “Além disso, os jovens respeitam menos as regras de prevenção e as variantes se tornaram mais transmissíveis”, complementa Bianchi. Segundo o informe da Fiocruz, o cenário de rejuvenescimento prosseguirá até que a cobertura vacinal atinja todos os grupos etários.