Por Augusto Dala Costa | Editado por Luciana Zaramela
Teorias da conspiração são sempre um prato cheio para nos lembrar de que ensinar ciência é necessário para entendermos como o mundo funciona — e como não cair em explicações esdrúxulas de fenômenos naturais e de como o mundo é. Um vídeo que viralizou recentemente mostra uma teórica da conspiração afirmando que os dinossauros não existiram e são um despiste para ossos de gigantes do passado (Nefilins), e, que se fossem verdade, seus ossos estariam por toda parte.
É uma boa oportunidade para explicarmos o porquê de fósseis de dinossauros não estarem em qualquer solo por aí. Não é como se não houvesse evidências de que os dinos já percorreram praticamente toda a extensão do planeta — e é curioso que alguém “exija” ainda mais evidências como condição para crer nisso.
Um aspecto importantíssimo para entender a questão é saber como os fósseis funcionam. Eles não são, como podemos pensar em um primeiro momento, ossos, e sim a preservação de minerais no formato de esqueletos e outros restos mortais antigos.
Como se formam os fósseis?
A fossilização, na verdade, é um fenômeno raro, que precisa de condições muito específicas para acontecer. Quando uma criatura morre, ela precisa ser enterrada sob sedimentos e depois coberta por muitas outras camadas sedimentares para ser fossilizada. O aumento de pressão faz com que os sedimentos se tornem rochas sedimentares, e, durante o processo, minerais acabam se infiltrando nos ossos dos animais presos no subsolo, virando pedras, ou mineralizações, no mesmo formato do esqueleto.
Como o acúmulo frequente de sedimentos é necessário para uma fossilização bem-sucedida, quase todos os fósseis já encontrados estavam onde um dia já foi mar, com areia e lama se empilhando acima do corpo enterrado dos bichos. Dinossauros que morrem acima do solo raramente acabam fossilizados, e a maioria deles estavam próximos de lagos ou rios. Alguns morreram logo antes da área ser alagada, tendo seus restos cobertos de lodo.
Por isso, mesmo que tenham sido encontrados em todos os continentes, a distribuição dos restos de dinossauros é irregular e bastante rara — o que não quer dizer que alguém tenha plantado restos de saurópode pescoçudo anão em São Paulo só para enganar a população.
Para a ciência, seria maravilhoso ter fósseis por toda parte, mas a verdade é que sabemos pouco sobre os bichos ancestrais que viveram em ambientes de selva e floresta, já que é extremamente improvável que restos sejam preservados em tais biomas. A propósito, no vídeo, a internauta comenta que o meteoro que extingiu os dinossauros teria exterminado qualquer fóssil, o que não é verdade — encontramos até mesmo restos de dinos que morreram no dia do impacto.
Vamos descobrir cada vez mais fósseis?
Em 2006, um estudo calculou que cerca de 71% das espécies de dinossauro que já existiram ainda eram desconhecidas ao ser humano. Alguns habitantes das montanhas podem, teoricamente, ter sido levados por fenômenos naturais até bancos fluviais onde podem ter sido fossilizados, mas seria algo incomum — o mais provável é que nunca saibamos como os dinos dessas regiões eram ou como se adaptaram ao ambiente.
É possível, também, que criaturas de regiões pouco favoráveis à fossilização tenham tido parentes que habitavam terras mais fluviais, nos permitindo conhecer um pouco sobre sua anatomia de forma indireta. Deve haver, no entanto, clados (grupos) inteiros de dinos especializados em viver nos ambientes que praticamente impossibilitavam a formação de fósseis.
Há espécies que nunca conheceremos, pois nunca foram preservadas. Em suma, é por isso que não há dinossauros fossilizados por toda parte — e que é bom fazer uma pesquisa no Google antes de gravar um TikTok sobre o assunto.
Fonte: National Park Service, Natural History Museum, Biological Sciences, Smithsonian Magazine