*Por Nicola Ferreira, da Agência Einstein
Em 2015, o Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística) constatou que crianças e adolescentes no Brasil estavam passando ainda mais tempo na frente da TV: 5h35 por dia dias, quase uma hora a mais do que dez anos antes. Agora, uma pesquisa norte-americana mostra que o aumento de exposição dos jovens à telinha, além de nocivo a eles próprios, também pode prejudicar os seus pais, que ficariam mais estressados.
O estudo, feita pela Universidade do Arizona, analisou dados de 433 pais de crianças com idades entre dois e 12 anos, e notou que, quanto mais tempo os pequenos passavam diante da TV, mais irritados eram os seus progenitores. Segundo os pesquisadores, o motivo seria o “bombardeamento” de comerciais de produtos, o que estimularia o desejo de consumo dos jovens.
“Há uma angústia nesses pais. Primeiro, eles recebem pedidos constantes de novos brinquedos, e, no caso de não conseguirem, veem os filhos frustrados. Esse desejo, mais a chateação por não conseguir presentear as crianças, leva a uma tensão e irritação por parte dos pais. Essa frustração somada com as irritações cotidianas do trabalho leva a um quadro de maior estresse”, explica Thais Chies, psicóloga e psicanalista da Sociedade de Psicologia do Rio Grande do Sul (SPRGS)
Para chegar a essa conclusão, os estudiosos perguntaram aos pais: quanto tempo os filhos ficavam assistindo à TV? Qual a frequência de pedidos de produtos em idas aos shoppings? Quantas vezes as crianças têm atitudes coercitivas nesses passeios? E quais eram os níveis de estresse dos pais? Após coletar essas informações, os pesquisadores conseguiram chegar ao resultado da investigação.
“Hoje, o acesso a produtos e comerciais é mais fácil para as crianças, seja pela televisão ou de outras formas. Elas são suscetíveis a essas propagandas, já que ainda não conseguem diferenciar quando o seu personagem favorito está fazendo uma publicidade ou não”, afirma Chies. “É importante ficar atento se não há outras mensagens nesses constantes pedidos, já que podem ser uma forma das crianças de chamarem a atenção dos pais para brincar ou estarem com eles”.
Limitação no horário da TV é importante para a saúde da criança
Os estudiosos norte-americanos apontam que uma das saídas para reduzir o estresse é limitando o horário dos pequenos diante do aparelho. “Reduzindo o tempo de tela, permite-se que a criança tenha novas vivências com outros colegas. A partir dessas experiências e do convívio com outros pequenos, ela aprende a lidar com frustrações e necessidade de dividir o brinquedo, por exemplo”, comenta a psicóloga.
No ano passado, a OMS (Organização Mundial da Saúde) divulgou um estudo que aponta que crianças de dois a quatro anos devem ficar, no máximo, uma hora na frente de telas de computador, celular ou TV. Esse número reduz ao diminuir a idade. Por exemplo, com um ano, a organização recomenda que o bebê não deva ser exposto a nenhum tempo de tela. Isso, somado à leitura, boa qualidade do sono, da alimentação, e à prática de atividade física, seria a chave para um crescimento saudável da criança.
Conversar com seu filho sobre os perigos da propaganda é uma alternativa
Caso seu filho já esteja assistindo muita TV, uma forma indicada pela pesquisa é de conversar com as crianças e explicar as diferenças e os perigos das propagandas. Os pesquisadores notaram que os pais que conversam com os filhos, e os inserem nas decisões da família – um exemplo dado pelos estudiosos é a afirmação “Vou te escutar em alguns pedidos” –, também reduzem o estresse e os pedidos constantes de produtos.
“Além de conversarem, os pais devem estar atentos ao que as crianças estão assistindo. Vendo os conteúdos que elas veem, os pais estão mais prontos para orientar e guiar os filhos sobre a publicidade”, informa Thais Chies, psicóloga e psicanalista da SPRGS.
Efeitos da pandemia
A pandemia e o isolamento social fizeram com que muitas crianças e adolescentes criassem o hábito de assistir muita televisão. Segundo a Divisão de Psiquiatria Infantil e Adolescente da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, que entrevistou 439 pessoas, o hábito de maratonar séries aumentou de 14% para 32% entre os entrevistados. Já o tempo na frente das telas saiu de 3,3 horas para quatro e por fim observou que as pessoas que assistem compulsivamente televisão cresceu de 59% para 72%.
“Com as crianças assistindo mais tempo de TV e as novas tarefas que a pandemia deu para os pais, como trabalhar de casa e ajudar as crianças a estudarem, são uma receita para que haja um aumento no estresse”, complementa Chies.