Por Cristiane Bomfim, da Agência Einstein
Quase 17 milhões de brasileiros adultos têm diabetes. De acordo com dados divulgados no fim de 2019 pelo Atlas da Diabetes, publicação internacional que mapeia a situação da doença em 138 países, nos últimos dois anos o Brasil teve um crescimento de 31% no número de diabéticos. Para ajudar a rastrear e prevenir a doença, ao longo de cinco anos, médicos do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, conduziram estudo que comprova que a aplicação de um questionário aos pacientes que procuram serviços de saúde é capaz de predizer os riscos da diabetes tipo 2 – mais comum e associado ao estilo de vida – em médio prazo para pacientes saudáveis.
Para o estudo, os pesquisadores aplicaram pela primeira vez em grande escala no Brasil o questionário de oito perguntas Finnish Diabetes Risk Score (FINDRISC), criado em 2001 na Finlândia, para rastreamento da diabetes. Entre 2008 e 2016, os formulários foram preenchidos com dados de 40 mil pacientes que passaram pelo serviço de check-up do hospital. Entre as informações coletadas estavam gênero, idade, índice de massa corporal (IMC), prática de atividade física e consumo de legumes, frutas e verduras.
“O objeto do estudo era verificar a eficácia do questionário na previsão de risco de diabetes tipo 2 em médio prazo para pessoas até então saudáveis.”, explica Antônio Eduardo Pesaro, cardiologista do Hospital Israelita Albert Einstein e um dos responsáveis pela pesquisa. Para isso, foram comparados os dados de 10 mil pacientes que retornaram ao serviço de check-up cerca cinco anos depois. O risco indicado nos questionários de 3,5% dos pacientes foi confirmado com o diagnóstico de diabetes tipo 2 na segunda visita para rotina de prevenção primária.
O estudo mostrou ainda que pacientes com risco alto de diabetes pelo questionário FINDRISC têm mais chances de inflamação vascular, o que potencialmente poderia levar a um maior risco cardíaco. Os dados foram analisados pelos pesquisadores entre 2019 e 2020 e apresentados no Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo e no Congresso Europeu de Cardiologia, que aconteceram entre junho e setembro deste ano.
“O grande diferencial desta pesquisa é a evidência de que o uso de uma ferramenta de baixo custo e simples aplicação, como é o caso deste questionário, pode contribuir para a condução de políticas públicas para a prevenção e o controle da diabetes tipo 2 no país”, explica Pesaro.
Diabetes tipo 2:
Associada ao aumento do risco de infarto e AVC, a Diabetes Tipo 2 é caracterizada pelo excesso crônico de açúcar no sangue, provocado pela resistência à insulina. Com isso, o organismo se torna incapaz de aproveitar esse hormônio no processo de transformação da glicose em energia dentro das células. Sua causa está diretamente ligada ao sobrepeso, sedentarismo, hábitos alimentares inadequados e hipertensão. Ou seja, o estilo de vida pode aumentar ou diminuir os riscos para a doença.