A expectativa de vida do brasileiro superou os 76 anos. Contudo, mais do que viver muitos anos, não seria bem mais interessante viver todos eles com qualidade de vida? Chegar a idades mais avançadas com privação de autonomia, grandes falhas de memória, dificuldade de movimentação e dependência de diversos remédios, não parece tão atrativo, não é mesmo?
De acordo com a médica Carmen Verônica Alves José, é possível atingir até mesmo a nona década de vida com muita energia e disposição. “Para garantir uma longevidade saudável, esclarece que é necessário adotar um estilo de vida comprometido com a saúde. Tenho exemplos de pacientes que chegam a idades avançadas sem serem portadores de doenças crônicas. Isso é um exemplo para nossa saúde”.
A médica ressalta a prática da medicina integrativa, que prima pela avaliação do ser humano como um todo. “As consultas costumam ser mais longas, não focadas num determinado problema, mas sim no diagnóstico integral do paciente. Olhamos aspectos como o intestino, hoje já considerado como nosso segundo cérebro, pois esse órgão é responsável por comandar a síntese de diversas substâncias no organismo, inclusive cerebrais. É preciso investigar todas as potenciais causas do adoecimento”.
Se o indivíduo possui uma deficiência nutricional ou incide em erros alimentares, isso repercute em doenças que o acometem e podem ser um empecilho para que melhore. “Por essa influência, buscamos associar o trabalho do médico e do nutricionista, num atendimento ainda mais global. Para isso, o paciente precisa se comprometer com o tratamento, uma vez que melhoras de condições de saúde sã associadas a diversos fatores”.
REPOSIÇÃO
Em alguns casos é possível realizar a reposição de nutrientes faltantes via endovenosa. “Essa proposta tem ganhado força em grandes capitais, mas não recomendamos que seja feita de maneira indiscriminada. A reposição de nutrientes deve ser feita exclusivamente com prescrição médica, em dosagens de acordo com a necessidade individual de cada paciente. Há vitaminas e minerais que são contraindicados em algumas condições de saúde. Por isso a avaliação médica se faz ainda mais importante”.
O mesmo olhar cuidadoso é oferecido para pacientes candidatos a terapia de reposição hormonal, normalmente buscadas por pacientes em menopausa (mulheres) e andropausa (homens). “Pessoas hoje entre 35 e 40 anos estão buscando médicos e por estarem cansadas, indispostas, com fadiga, muitas vezes antes mesmo de fazer uma dosagem hormonal, já buscam pela reposição. É preciso cuidado para não banalizar a reposição, que é um tratamento com muitos critérios de indicação”, pontua a especialista.
“Vemos opções até mesmo de chips hormonais. Pessoalmente, não indico essa opção, pois não há possibilidade de controle preciso da dosagem que será liberada. Muitas vezes há uma deficiência hormonal momentânea, mas na verdade isso está relacionado muito mais a um período de estresse, um cansaço crônico envolvido com o cortisol (hormônio do estresse). Muitas vezes esse cortisol cai ou aumenta demais, e isso provoca uma alteração momentânea no corpo. Uma mulher na faixa de 45, 50 anos, está climatérica, começando a perder hormônios. Antes disso, a reposição de hormônios não é indicada. Elas tem hormônios, que podem estar momentaneamente em baixa e podem ser estimulados através da correção de sintomas do estresse, não com o hormônio, pois este pode desencadear doenças como câncer de mama, de ovário, de endométrio e linfoma”.
A médica destaca ainda que tem sido comum o uso de altas dosagens de testosterona por mulheres. “As pacientes que adotam essa pratica ficam bem por alguns anos, mas depois incorrem nos mesmos riscos. E além desses, pode haver o rompimento de fibras musculares e outros problemas relacionados a ossos e ligamentos. É uma situação bastante grave, com repercussão que poderemos sentir em 10 ou 15 anos”, comenta.
INDICAÇÃO PRECISA
Há, contudo, casos nos quais a prescrição da reposição hormonal pode ser extremamente benéfica, como no caso da endometriose – uma doença na qual o endométrio, mucosa que reveste a parede interna do útero, cresce em outras regiões do corpo, podendo atingir regiões como o intestino, por exemplo, provocando dores intensas em mulheres em idade reprodutiva. Em casos mais severos, o tratamento indicado pode ser a histerectomia (cirurgia de retirada do útero). “As mulheres com essa condição tem mostrado obter grande benefícios com o tratamento hormonal, desde que sejam bem avaliadas para essa reposição. Este tratamento hormonal não tem indicação para mulheres fora da fase reprodutiva e não pode ser prescrito indiscriminadamente. O bom médico sempre realiza uma criteriosa avaliação antes de prescrever. Não é porque uma artista famosa usa, ou a colega da academia, que isso fará bem para o seu organismo”.
Na reposição para menopausa, os critérios são igualmente rigorosos. “Recebemos casos de mulheres com câncer cada vez mais jovens. Mesmo mulheres já na menopausa devem ter uma avaliação muito criteriosa antes de receber a indicação. Se há casos pregressos de câncer de mama ou endométrio na família, o indicado é não realizar”.
MÉTODOS
Quanto aos métodos recomendados pela médica para a reposição destes hormônios estão os de contato transdérmico (adesivos) ou até mesmo via vaginal ou oral. “Porém haverá sempre controle com exames, inclusive prévios, para investigar marcadores para o câncer e outras informações importantes sobre o corpo da paciente. Mesmo exames hormonais devem ser bem avaliados. São diversos detalhes que demandam atenção. Não se pode ceder ao apelo comercial”, define.
No caso de reposição em homens, Carmem explica que o declínio hormonal mais acentuado ocorre por volta dos 55 a 60 anos. “Antes disso há hormônios circulantes, com quedas de libido, cansaço, ganho de peso e uma série de intercorrências, mas estão comumente mais conectadas a questões socioeconômicas, afetivas e estresse, do que propriamente por uma deficiência hormonal. Ao dosarmos, em qualquer momento da vida, até jovens de 30 anos podem apresentar queda. Mas isso não significa uma andropausa precoce, não significa perda ou falta de hormônio. E não se deve repor hormônio nesses casos, e sim investigar e tratar as causas. Só há indicação quando atingida a andropausa, com manifestação de efeitos, e – muito importante – com indicação médica”.
Em casos de histórico de câncer de próstata na família, por exemplo, o paciente não deverá fazer a reposição. Ou ainda se houver outras patologias associadas e/ou obesidade, também estará contraindicada a reposição, uma vez que o sobrepeso indica a presença de grandes quantidades de estrogênio. “Tanto homens como mulheres obesos possuem contraindicação à reposição. É necessário adotar práticas de emagrecimento, pois a presença de excessos de estrogênio periférico pode levar a doenças mais graves”, ressalta.
PERIODICIDADE
A terapia de reposição hormonal é uma escolha séria, que deverá ser muito bem orientada pelo profissional após a realização de consulta clínica e mediante muita investigação – tanto clínica como hormonal – com critérios rigorosos para sua indicação. Importante ressaltar ainda que durante o período de terapia de reposição os exames devem ocorrer a cada seis meses. Os exames de imagem devem ser repetidos anualmente – ultrassom transvaginal e de mama. O mesmo ocorre para homens em reposição: exames de marcadores e de imagem.
“É de grande importância uma ponderação e discernimento no uso hormonal, bem como o entendimento do conceito de que longevidade, qualidade de vida e rejuvenescimento não são conceitos correspondentes a uso de hormônios, mas sim um processo mais amplo, que une projetos de vida, com um olhar mais saudável sobre as escolhas do estilo de vida (alimentação, atividade física ) e o abandono de processos mais destrutivos, como o abuso de álcool, tabagismo e vivências tóxicas . Isto sim é buscar longevidade”.
SAIBA MAIS
Carmen Verônica Alves José (CRM 66996) é médica clínica com atuação em Medicina Integrativa. O consultório fica na Rua Silvio Marinho, 68, Jardim Tangará. Telefone (14) 3433-2111.