A pandemia impôs mudanças a diferentes setores da sociedade e da economia, sendo isso uma realidade também para o setor de alimentos e bebidas. Com a percepção sobre a importância de uma alimentação equilibrada para a manutenção da saúde, é cada vez maior o número de consumidores recorrendo a produtos de alto valor agregado como forma de melhorar o funcionamento do organismo e fortalecer o sistema imunológico. É nessa esteira de mudanças que as bebidas funcionais e enriquecidas com determinados nutrientes ganham espaço na cesta de compras de milhares de famílias brasileiras. Dados compilados pela Tetra Pak junto a diferentes institutos de pesquisa indicam que, em comparação com o ano anterior, em 2020 o consumo de bebidas lácteas com alto teor de proteína cresceu 27%. No mesmo período, o consumo de leite UHT de alto valor agregado cresceu 19% em volume. Os dados se alinham a um estudo divulgado pela Kantar no primeiro semestre de
2020 e que revelava que 27% dos brasileiros consideravam comprar mais alimentos saudáveis em decorrência da pandemia. O gatilho para isso é simples: em associação a outros cuidados, como utilizar máscara e manter distanciamento social, uma alimentação rica em nutrientes pode contribuir para a manutenção da boa saúde. Não coincidentemente, no último ano a venda de alimentos saudáveis atingiu R$ 100 bilhões, segundo a consultoria Euromonitor International. Essa foi a maior cifra para a categoria em quinze anos, desde quando o segmento passou a ser monitorado. Ou seja, falamos de um mercado bilionário que nos últimos anos não parou de crescer. Mas ao analisar a expansão de alimentos e bebidas de alto valor agregado e com apelo saudável, também é necessário um olhar atento aos produtos à base vegetal. Novamente citando a Euromonitor, nos últimos cinco anos o país registrou um crescimento anual de 11,1% nas vendas de produtos substitutos à proteína animal, o que revela o surgimento de um novo público. Ainda que os veganos e vegetarianos representem 14% da população brasileira, segundo o Ibope, é cada vez maior o número de pessoas seguindo dietas flexitarianas – aquelas em que o indivíduo aumenta o consumo de produtos de origem vegetal, ainda que não elimine por inteiro o consumo de proteínas animais. Por trás desse movimento há uma série de fatores, com destaque para a maior conscientização ambiental de uma parcela importante de consumidores. Para eles, não se trata apenas de seguir uma alimentação saudável. Aliada à saudabilidade, suas escolhas de consumo se baseiam sob a seguinte lógica: para ser bom para mim, também precisa ser bom para o meio ambiente. Em 2019, o Tetra Pak Index já antecipava essa tendência, notavelmente acelerada após a pandemia. Ainda que a análise desses dados claramente aponte para uma tendência no setor de alimentos e bebidas, isso não significa dizer que categorias tradicionais irão perder relevância. Pelo contrário, nos últimos anos o consumo de lácteos como leite UHT, leite condensado e creme de leite se manteve estável, mostrando que eles continuam sendo uma parte importante na cesta básica do brasileiro. Frente aos novos drivers de consumo, há uma série de oportunidades que podem ser exploradas por fabricantes de alimentos e bebidas. Junto aos produtos tradicionais, se destacarão nas gôndolas opções que oferecerem maior valor agregado ao consumidor, seja por melhorarem o funcionamento do organismo, complementarem a ingestão de determinados ingredientes ou por equacionarem saúde com a preservação do meio ambiente. No fim das contas, a pandemia somente acelerou uma transformação que já estava em movimento e que se manterá nos próximos anos: a busca por alimentos com maior valor agregado.

*Monica Pieratti é formada em Marketing pela Universidade Luterana da Califórnia; diretora de portfólio para a área de Processamento da Tetra Pak, sendo responsável por toda a região Américas.

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Revolução à mesa: a oferta de valor  agregado como ingrediente essencial