Você é porco ou galinha para trabalhar? Se trabalhou em empresa, já deve ter ouvido a historinha do porco e da galinha em um daqueles treinamentos para motivar. Nesta parábola, comparam os que trabalham na equipe como porcos, que são os “comprometidos”, ou galinhas, os “envolvidos”.
Sempre me intrigou a injustiça com essas figuras. Pela ótica da metáfora, devemos trabalhar “comprometidos”, como os porcos, que fazem tudo pela empresa, dando seu sangue, bacon, coração, enfim, “morrem” pela causa. Enquanto galinhas, considerados apenas “envolvidas”, doam pontualmente seus ovos, só não morrem por isso.
Claro que a primeira espécie citada é a mais desejada pelos empresários famintos por números e cifrões. Neste sistema empreendedor insaciável, muitos usam a pressão terrorista para jorrar resultados e outros, mais atualizados, incentivam a equipe “porcorativa” a darem seu pescoço, com treinamentos para melhor performance e premiações pelas metas alcançadas. No fundo, o que motiva o autossacrifício desses porcos brilhantes são outros fatores. O principal está associado às necessidades emocionais de serem aceitos, aprovados, reconhecidos e amados através do que fazem. Aqueles que sacrificam a própria vida em função do trabalho possuem a total aprovação da chefia e assim trabalham arduamente sem se queixarem, fazendo até função alheia. Mas com tanta doação, um dia, o porco acaba. O comprometimento nesse nível requerido realmente compromete o “porcão” inteiro, adoece sofrendo prejuízos físicos, psicológicos, pessoais e familiares. Para piorar, ao fim de seu vigor, não consegue mais cumprir tudo que se propôs, então é desqualificado e até destituído do cargo sem reconhecimento algum, simplesmente porque “não presta mais”. Se o porco ainda não tinha morrido, isso acaba por matá-lo. A gravidade dessa situação é observada nas estatísticas do Ministério do Trabalho, com altos índices de afastamentos e licenças médicas pelo INSS.
Em entrevista com a mestre psicóloga do Centro de Referência Regional em Sáude do Trabalhador de Marília (onde acolhem e tratam “porcos esgotados e feridos”) Daniela Maia revela em suas palavras qual é o fim desses porquinhos tão prestativos. Diz ela: “A pressão por parte do empregador ao trabalho ágil e eficiente, mais o intenso senso de responsabilidade dos trabalhadores, são uma combinação adoecedora. Ao contrário do que se pensa, os trabalhadores que adoecem não são os que querem ter vantagem ou simulam doenças para não trabalhar. Quem adoece é por ter perfil muito dedicado, crítico, proativo e perfeccionista. Ou seja, são os profissionais mais dedicados que adoecem. As empresas perdem seus melhores funcionários quando estes adoecem”.
No ranking das doenças causadas pelo trabalho excessivo estão: LER/DORT (lesões por movimentos repetitivos) e transtornos mentais (ansiedade e depressão). Tudo gerado pelo excesso das duas partes: o empregador que pressiona e o empregado que corresponde intensamente, ultrapassando suas atribuições e negligenciando suas limitações. “Porquices” do tipo realização de multifunções, cobrir as faltas de outros, além de seu serviço, carregar tudo sozinho sem incomodar ninguém, ficar além de seu horário, enfim, ser “porco” é admirável. Mas revoltante. Tem seus dias contados.
Do outro lado vemos galinhas saudáveis e felizes. Elas conhecem seu valor e colaboram assiduamente com seus preciosos ovos. Mesmo assim, essas galinhas são depreciadas e instigadas pela massa “porcorativa”, que insiste em se dar por inteiro, enquanto galinhas persistem com seus ovos insignificantes em comparação ao pernil sacrificado pelo porcão. Mas elas continuam botando seu melhor ovo. Aliás, sua produção é excelente, afinal, botar ovos não é uma tarefa tão simples assim. Permanecem bem porque não botam ovos 24 horas por dia, pois elas ciscam, alimentam-se, curtem o galinheiro e dormem. Se não fizerem assim, adoecem e morrem. Elas se respeitam e priorizam suas vidas. Quando as galinhas são respeitadas em suas necessidades, ficam satisfeitas e correspondem com dezenas de ovos, incluindo ovos de ouro. De ouro também é a saúde dessa galinha, seus relacionamentos, sua família, sua disposição. E podem ajudar transformar a empresa em ouro também.
Bem-sucedida é a empresa que desperta para o bem-estar da equipe e promove equilíbrio ecológico para todos os tipos. Colaboradores satisfeitos satisfazem. Valorizando as galinhas não precisarão sacrificar os porcos e estes também serão prósperos, trabalhando na medida certa, cada um fazendo sua parte. Unindo-se à leveza das galinhas serão mais fortes, alegres, saudáveis e com tempo para todos cuidarem do mais importante patrimônio que possuem: sua vida!

Edilene Nassar é psicóloga, professora, palestrante e especialista em inteligência emocional. Contatos pelo (14) 98149-7242 e edilenenassar@hotmail.com

 

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