O câncer de mama ainda é o mais prevalente entre as mulheres no Brasil, e possui o seu mês de conscientização, o ‘outubro rosa’, mas, infelizmente, existem outros tipos de neoplasias que também requerem atenção e esforços para ampliar o conhecimento a respeito na população¹,². Para tanto, setembro é o mês em referência aos cânceres ginecológicos, como o do colo de útero, o terceiro mais comum em mulheres no Brasil, seguido, respectivamente, pelo câncer de ovário e corpo do útero, da vulva e da vagina². Em geral, mais incidentes na terceira idade, os tumores do trato reprodutor podem também acometer mulheres de outras faixas etárias².
Segundo o oncologista Fernando Maluf, diretor do Serviço de Oncologia Clínica do Hospital BP Mirante /SP; Membro do Comitê Gestor do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE)/SP, fundador do Instituto Vencer o Câncer (Ivoc) e Membro fundador do Grupo EVA, “como nem todas essas neoplasias apresentam sintomas no início da doença, as mulheres precisam incluir visitas anuais ao ginecologista, realizarem os exames necessários, como por exemplo o Papanicolau, e não esquecer de contar sobre o histórico de câncer em sua família, caso haja algum caso” .Alguns sinais, esclarece o médico, podem servir de alerta, como dores pélvicas persistentes, não restritas ao período pré-menstrual, inchaço abdominal, flatulência, dor lombar persistente, sangramento vaginal anormal, febre recorrente, dores de estômago ou alterações intestinais, perda de peso acentuada, anormalidades na vulva ou na vagina e fadiga¹.
“É necessário ficar atenta a qualquer sintoma persistente, uma maneira de aumentar as possibilidades de diagnóstico precoce e início imediato de tratamento. Temos à disposição um novo arsenal de terapias eficazes que atuam em diferentes frentes e conseguem impedir o crescimento do tumor, resultando em maiores chances de controle e proporcionando aumento da expectativa e qualidade de vida à paciente”, destaca.
Identificado pelo exame de Papanicolau, o câncer de colo de útero tem como principal fator de risco a infecção persistente pelo papilomavírus humano (HPV), que hoje pode ser prevenida com uma vacina³. Além da imunização, o rastreamento para identificar lesões precursoras do tumor constitui estratégia importante para o controle desta doença. Pelo menos dois terços das mortes por câncer do colo do útero ocorrem em mulheres que não haviam sido rastreadas com regularidade¹,³.
Por outro lado, o câncer de ovário, mais letal que o de mama, costuma ser detectado em estágio avançado, justamente porque é um tumor silencioso, de difícil rastreio¹. Não existem exames específicos para detectar a neoplasia que acomete o sistema reprodutor¹. “De cada 10 pacientes, apenas duas têm o diagnóstico precoce. Nas demais, a doença é identificada em estágio avançado”, explica o médico. Entre os fatores de risco que devem ser considerados estão: idade superior a 40 anos, histórico familiar, não ter tido filhos ou ter sido mãe após os 30 anos, além do uso contínuo de anticoncepcionais e reposição hormonal⁴.
Outra neoplasia que afeta o sistema genital feminino é o câncer de corpo do útero, mais comum em mulheres na menopausa, embora possa incidir em qualquer faixa etária. Este tipo de tumor pode aparecer em diferentes partes do órgão, mas o mais comum é o do endométrio, tecido que reveste internamente a parede uterina, chamado de câncer do endométrio9. Em abril deste ano, o Food and Drug Administration (FDA) aprovou, para uso nos EUA, em caráter acelerado, o uso de imunoterápico (anti-PD1), indicado para pacientes com câncer de endométrio avançado ou recidivado com deficiência de (dMMR), previamente expostos a um regime quimioterápico baseado em platina..
Raros, os cânceres de vagina e de vulva são responsáveis por 7% dos tumores ginecológicos¹. O controle desses tumores é mais fácil quando a doença é localizada, ou seja, não se disseminou para outras partes do organismo¹. As causas do câncer de vagina são ainda desconhecidas, mas a infecção por HPV aparece como fator de risco¹. Já o câncer de vulva ocorre predominantemente em mulheres de 65 a 70 anos, e geralmente se apresenta como uma úlcera ou placa¹.

Evolução do tratamento
Apesar de o câncer de ovário ser preocupante, a medicina tem evoluído. Há novas terapias disponíveis, como o niraparibe, aprovado recentemente pela Agência de Vigilância Sanitária (ANVISA)11, e recomendado tanto para pacientes que possuem mutações de BRCA (Breast Cancer gene 1 ou 2, genes diferentes que afetam as chances de uma pessoa desenvolver câncer de mama e ovário), como naquelas que não têm⁵. Segundo Maluf, a primeira linha de tratamento do câncer de ovário, em geral, inclui cirurgia para a retirada do tumor, seguida por quimioterapia, mas é possível contar hoje com medicamentos como o niraparibe, chamados de inibidores de PARP, enzima que atua no mecanismo de reparo do DNA das células cancerosas. Indicado para pacientes com câncer de ovário recém-diagnosticadas ou quando a doença reincide, e que fizeram quimioterapia à base de platina e tiveram resposta completa ou parcial a esta terapia5,6.
A eficácia e segurança do niraparibe possuem respaldo de estudos clínicos publicados no The New England Journal of Medicine: o PRIMA e o NOVA, em 2019 e 2016, respectivamente7,8. Segundo resultados do PRIMA, estudo realizado em pacientes recém-diagnosticadas com câncer de ovário, o medicamento apontou redução de 38% do risco de progressão da doença ou morte na população geral e 57% na população com deficiência de recombinação homóloga (HRd); já no NOVA, estudo realizado com pacientes que apresentaram doença recorrente, houve a redução de risco de progressão ou morte de 73% nas pacientes com mutação no gene BRCA, e de 55% nas pacientes sem essa mutação7,8.


NP-BR-ON-PRSR-210002 – Setembro de 2021
Referências:

• Instituto Vencer o Câncer. Disponível em: https://vencerocancer.org.br/noticias-ovario/canceres-ginecologicos-como-prevenir/. Acesso em julho de 2021.

• Instituto Nacional do Câncer (INCA). Disponível em: https://www.inca.gov.br/numeros-de-cancer. Acesso em julho de 2021.

• Instituto Nacional do Câncer (INCA). Disponível em: https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/cancer-do-colo-do-utero. Acesso em julho de 2021.

• Instituto Nacional do Câncer (INCA). Disponível: https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/cancer-de-ovario. Acesso em julho de 2021
• Onconews. Disponível em: https://www.onconews.com.br/site/noticias/noticias/ultimas/5594-anvisa-aprova-niraparibe-no-tratamento-do-c%C3%A2ncer-de-ov%C3%A1rio.html. Acesso em julho 2021.

• Cancer Research UK – PARP Inhibitors. Disponível em https://www.cancerresearchuk.org/about-cancer/cancer-in-general/treatment/targeted-cancer-drugs/types/PARP-inhibitors. Acesso em julho de 2021.

• Mirza, MR, et al. Niraparib Maintenance Therapy in Platinum-Sensitive, Recurrent Ovarian Cancer. Abstract 375. 2016 N Engl J Med.
• GONZÁLEZ-MARTÍN, A. et al; for the PRIMA/ENGOT-OV26/GOG-3012 Investigators. Niraparib in patients with newly diagnosed advanced ovarian cancer. N Engl J Med. 2019;381(25):2391-2402.

• Instituto Nacional do Câncer (INCA). Disponível em: https://www.inca.gov.br/assuntos/cancer-do-corpo-do-utero. Acesso em julho 2021.

• Pharma Times. Disponível em: https://www.pharmatimes.com/news/fda_approves_gsks_jemperli_for_dmmr_endometrial_cancer_1368009. Acesso em julho 2021.
• Diário Oficial da União. Disponível em DOU, Brasília DF. 08 de março de 2021. Seção 1 Pg. 129.

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