É uma constatação óbvia na natureza. O ser humano é uma criatura gregária, ou seja, somente sobrevive se conviver com seus semelhantes. Os heróis da nossa infância, que povoaram nossa imaginação, não passam de lendas. Tarzan, o homem macaco, jamais sobreviveria em uma selva inóspita, criado e alimentado desde a infância por símios.
Robinson Crusoé, o náufrago, jamais sobreviveria em condições tão hostis em uma ilha deserta. Aliás, o homem é o único vivente que depende da mãe em todos os sentidos, para o início da sua vida. Assim, é de se concluir que durante nossa existência, somente teremos uma vida saudável e feliz, se convivermos e nos relacionarmos com nossos semelhantes.
Porém, em algum momento da nossa vida, embora estejamos integrando a trepidante convivência social na família, no emprego, nas reuniões, interagindo com todos quanto nos cercam, somos tomados por um inexplicável vazio da alma, um isolamento amargo sem uma causa definida.
Não há como partilhar, por exemplo, um sentimento de perda, a dor de uma ausência, uma decepção inesperada ou um estado depressivo momentâneo. Esse vazio é pessoal, íntimo e intransferível. Não falo da tristeza que nos acomete por uma razão objetiva e que é comum em certos episódios da vida, mas daquele isolamento íntimo que gera a sensação de estarmos sós, submetidos a uma indiferença do mundo que nos rodeia.
Sentimos então a dolorosa constatação que estamos sozinhos no mundo. Segundo um inteligente texto de Maura de Albanesi, publicado na rede mundial de computadores:
“Mas também existe a solitude que é um sentimento que confunde quem olha de fora, gerando uma sensação entre as pessoas de que aquele ser que está sozinho não está bem, está sofrendo, mas a realidade é outra, é de paz. Isso acontece porque o estado de solitude diverge do estado de solidão. Entende-se por solitude o pleno contato consigo mesmo. Isso quer dizer que não há a necessidade de estar sempre em companhia de outras pessoas e não há solidão por isso. Esta pessoa está bem com ela em tempo integral, mas convive muito bem com os outros. Veja que há um contato direto consigo mesmo, podendo passar vários dias em um lugar sozinho e se sentindo pleno; mas há também uma plenitude ao estar com alguém”.
“Quando só se sente bem, estando sozinha, a pessoa dá indícios de escorregar em algum dos critérios da solidão. Estar cercado de pessoas e ser extrovertido não são sinais de que não há a sensação de estar só, que tem como principal indício o sentir. Na solitude há um equilíbrio entre estar consigo e estar com o outro. Estar consigo significa estar em contato permanente com sua essência, é gostar de você, é cuidar de você e todos esses fatores fazem com que suas relações com o próximo também sejam cada vez melhores e saudáveis”.
Em resumo, a alma humana tem sensações únicas, indecifráveis pelos semelhantes e apenas nós, unicamente nós e sozinhos, podemos avaliar nossos sentimentos e conduzir nosso destino. Superar a amargura da vida e driblar a solidão, são remédios infalíveis para uma vida emocionalmente satisfatória e feliz.
 
Décio Divanir Mazeto é Juiz de Direito.
 

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