A tecnologia é capaz de identificar a origem e a espécie das abelhas produtoras do mel brasileiro, além de detectar adulterações

Pesquisadores do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da USP, em Piracicaba (SP), desenvolveram uma ferramenta que pode ajudar a garantir a autenticidade do mel brasileiro. A tecnologia, baseada em técnicas químicas e inteligência artificial, é capaz de identificar a origem e a espécie das abelhas produtoras do mel, além de detectar adulterações.

Para quem tem pressa:

  • O mel é o terceiro produto alimentício mais adulterado do mundo, atrás apenas do leite e do azeite de oliva;
  • As adulterações podem prejudicar a qualidade e o valor nutricional do produto, além de abrir brechas para flutuações de preço;
  • Para isso, os pesquisadores criaram uma ferramenta capaz de identificar a origem e a espécie das abelhas produtoras do mel a partir da análise da composição química do produto;
  • Segundo os especialistas, a tecnologia é baseada em técnicas químicas, além da inteligência artificial (IA).

Em 2022, o Brasil foi o sétimo maior exportador de mel do mundo, com uma produção de 61 mil toneladas, um aumento de 9,5% em comparação com 2021. A apicultura é uma atividade importante para a geração de renda no campo, especialmente para pequenos produtores. Por isso, há uma grande demanda para garantir a qualidade ao méis do país.

Ferramenta da USP

A ferramenta desenvolvida pela USP é capaz de identificar a origem e a espécie das abelhas produtoras do mel a partir da análise da composição química do produto. Para facilitar as pesquisas, uma Inteligência Artificial (IA) de previsão tornou possível o acesso a diversas informações com uma precisão de até 98%.

Além disso, os pesquisadores utilizaram dois métodos: análise por ativação neutrônica (NAA) e espectrometria de massas (TQ-ICP-MS).

A análise por NAA usa a energia nuclear para bombardear a amostra com nêutrons, induzindo reações nucleares nos núcleos dos elementos presentes. Já a espectrometria de massas consiste em detectar os íons dos elementos químicos presentes em uma solução de méis.

Abelhas investigadas

abelha mel
(Imagem: TerriAnneAllen/Pixabay)

Os pesquisadores investigaram duas espécies de abelhas: a Tetragonisca angustula, conhecida como Jataí, e a Apis mellifera spp, que possui o ferrão. Foram mais de 300 amostras de méis coletados do Cerrado e da Mata Atlântica. Ao todo, 35 elementos químicos foram detectados.

Foi possível observar que méis de Apis, quando comparado com os de Jataí ou com os de outras sem ferrão, têm uma concentração mineral inferior. Para alguns elementos, inclusive, os de Jataí apresentavam o dobro ou triplo da concentração de alguns desses minerais. 

Nandà Luccâs, doutora pelo Cena, em entrevista ao Jornal da USP

Os méis do Cerrado apresentam maior densidade e presença de minerais do que os da Mata Atlântica. Além disso, a análise das amostras revelou informações importantes sobre a saúde ambiental, destacando o mel como indicador da qualidade do ambiente.

O Cerrado é um dos ecossistemas mais ameaçados do Brasil. Então, alguns elementos que não se esperam achar em um alimento, como, por exemplo, o mercúrio (Hg), foram encontrados. No bioma atlântico, destaca-se a presença do vanádio (V). O mercúrio, que é tóxico, e o vanádio são metais utilizados em algumas atividades econômicas predatórias, como a mineração. 

Ferramenta em desenvolvimento

A tecnologia desenvolvida pela USP ainda está em fase de desenvolvimento, mas já tem potencial para revolucionar o mercado do mel brasileiro.

Temos que refinar um pouco mais esses modelos para que eles levem em consideração não apenas a composição química elementar dos bens, mas também outros compostos orgânicos – como os compostos fenólicos, derivados diretamente do pólen e que podem ser marcadores específicos de espécies.

Sendo assim, a ferramenta poderá ser utilizada por empresas, órgãos reguladores e consumidores para garantir a autenticidade do produto. Além disso, um banco de dados da quimiodiversidade dos méis está em produção e poderá ser acessado pelo público.



Por Estella Abreu, editado por Pedro Spadoni

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USP desenvolve ferramenta para garantir autenticidade do mel brasileiro
Foto: PollyDot/Pixabay