Novos estudos identificaram em laboratório que a variante delta possui grande potencial de contaminação mesmo entre vacinados. Os dados apontam que a nova cepa consegue ser viável em 70,4% de células humanas de vacinados, frente a 17,4% da variante alfa. Pesquisadores reforçam que os imunizantes seguem com alta eficácia para reduzir infecções graves e mortes. Porém, ressaltam que nenhuma vacina é 100% eficaz. Logo, se o vírus consegue circular com intensidade entre vacinados, é possível concluir que, sem controle efetivo da disseminação do novo coronavírus, o número de mortes tende a seguir elevado.
“Resumindo, a variante delta será um grande desafio, uma nova pandemia”, afirma o infectologista e pesquisador da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS) Alexandre Zavascki. Contudo, o cientista aponta que estudos seguem atestando a eficácia das vacinas, mesmo diante do chamado escape maior da variante delta. “Vacinas protegem do agravamento da covid-19 por qualquer variante. A delta esteve associada com maiores cargas virais considerando a viabilidade em cultura, maior escape vacinal, mas apresentou porcentagem de hospitalização similar à (variante) alpha, confirmando achados prévios. Ou seja, a vacinação completa protege muito de adoecimento grave e de morte. O efeito na transmissão talvez seja menor do que o desejado, mas não é nulo”, completa.
Mesmo com o grande poder de proteção das vacinas, os especialistas seguem com a recomendação de que o vírus precisa circular menos. Para isso, são necessárias medidas não farmacológicas, além da vacinação de mais de 80% da população total. “Medidas de bloqueio da transmissão continuarão necessárias”, alerta o especialista.
Mortes x casos
No Brasil, a redução em relação às mortes diárias por covid-19 prossegue, resultado direto do avanço da vacinação. A média móvel de vítimas diárias está em 765 óbitos a cada um dos últimos sete dias. É o número baixo desde o dia 6 de janeiro. Na última semana, foram notificadas 5.421 mortes por covid no Brasil – a semana com menos vítimas oficialmente registradas desde a última de 2020 (quando grande parte dos serviços de medicina diagnóstica estava na folga de Ano Novo).
Por outro lado, o número médio de casos diários apresenta uma tendência diferente. Depois de indicar queda sustentável entre a segunda quinzena de junho e a segunda semana de agosto, o movimento passou a mostrar leve crescimento. Foram 206.345 novos casos, diante de 198.363 no período anterior. A reversão da tendência de queda nos casos tem relação com a maior disseminação da variante delta pelo país. Por enquanto, apenas o Rio de Janeiro já declarou a prevalência da nova cepa no estado. A mutação é até 70% mais contagiosa e possui maior resistência às primeiras doses das vacinas em circulação. Diante disso, completar o esquema vacinal é essencial. Novo estudo, divulgado segunda pela universidade Johns Hopkins (EUA), junta-se aos que apontam a maior circulação da delta entre vacinados e mostra que a cepa também tem maior poder de infecção.