A vacina dos velhinhos

As coisas sempre têm um porquê. Os velhos deveriam ter prioridade na vacinação. Alguém discorda disso? O porquê são as estatísticas tenebrosas que todos os dias nos informam de que são os idosos os que mais morrem vitimados pela Covid-19. Morreu o Seu João, 65. A dona Maria 72. O seu Tonhão 87. O Seu Felipe, 62. E hoje morreram mais 3. Amanhã, morrerão mais, é só aguardar o jornal. Tem sido assim, a morte continuará ceifando prioritariamente a vida do pai idoso, da mãe idosa, do vovô e da vovó. Decididamente, o vírus não gosta dos velhos. Mas o que me dói muito é perceber que não é só o vírus que não gosta dos idosos. Deles também não gostam todos os que, sabendo o que está acontecendo no país, alimentam o silêncio perverso do “não estou nem aí”. Jovens veterinários, nutricionistas, psicólogos, dentistas, professores de educação física, médicos e inumeráveis outros profissionais da vasta área da saúde estão sendo prioritariamente vacinados, claro, antes dos velhinhos.
Acontece que nenhum deles citados estão na linha de frente combatendo a pandemia. Nenhum deles correndo mais risco do que todos os demais cidadãos. Então por que o privilégio? Eis o nó, difícil de desatar. Por quê? Que critério desumano é este? Seria por que uma mente insana resolveu assim publicar no diário oficial? Se essa for a resposta, a insanidade passa a ser a de todas as bocas caladas. Nada tenho, evidentemente, contra qualquer profissional. Respeito e homenageio cada um deles, principalmente, e com direito à vacina, os que realmente atuam na linha de frente.
Aliás, todos deveriam, sem distinção, estar sendo vacinados. Acontece que, dormimos criminosamente no ponto, ignoramos o tsumani que se anunciava, fizemos pouco caso da “gripezinha” e, agora, o resultado é este: não temos vacinas para todos. E machuca saber que, não estamos respeitando os nossos velhinhos ameaçados de morte. Como podem filhos jovens, netos jovens estarem na fila da vacina antes de seus pais e de seus avós? Que era anunciado como breve, e a realidade triste é a de que não temos vacina. Não temos vacina, menos ainda o respeito que deveríamos ter com os nossos velhinhos.
São filhos saudáveis passando na frente dos pais envelhecidos, trancados dentro de casa, sem contato com a vida. autoridades ou não, mantêm-se em silêncio, mesmo sabendo que há braços saudáveis sendo vacinados antes dos velhos. Em silêncio porque esse é o critério legal, assim está escrito, então só me resta preocupar-me com o meu braço e ponto final. Mas, convenhamos, não é só o vírus, todas as pessoas que, sabendo do que está acontecendo, nada fazem, senão apressar-se a oferecer o braço fura-fila, mesmo não sendo velho, mesmo sabendo que muito menos chances de morte terão se infectados forem. Claro que estou falando o que todo mundo sabe, chovendo no molhado, exercitando tautologia.