Vivemos em um mundo desenfreadamente dinâmico, em que somos levados a agir mecanicamente no dia a dia, com afazeres, obrigações, compromissos e nem percebemos, aliás, até percebemos, mas não paramos para avaliar se nossas escolhas estão dando certo, aquelas que fizemos e traçamos como metas para percorrer e alcançar durante o ano.
Aí de repente, chega o final de ano, momento que nos remete às avaliações sobre nossa vida, nossas conquistas e objetivos alcançados. É uma época que nos permite olhar para trás e rever tudo o que realizamos, tanto de positivo quanto de, digamos, não positivo. Nesse momento surgem sentimentos de alegria, realização, conquista, coragem, arrependimento, frustração, tristeza, enfim, tudo aquilo que vivenciamos durante o ano.
E aí vem a pergunta: o que fazer com tudo isso? Somos impulsionados a refletir e reavaliar, dar significado a tudo o que aconteceu e fazer novas escolhas, para, assim, seguirmos em frente.
O ano de 2020 foi atípico. Com toda a certeza, não realizamos quase nenhum de nossos objetivos, pelo menos não da forma que havíamos planejado. Tivemos a oportunidade de grandes aprendizados, mas não foi na escola, e nem no trabalho, da maneira tradicional. Aprendemos de dentro de nossas casas, trancados, presos, sem a liberdade e o direito de ir e vir. Sofremos, choramos, perdemos e ganhamos.
Mas ele chegou ao fim, 2020 está findando. Chegou dezembro, o mês mágico, que nos oferece várias oportunidades, de encontros, de fechamento de ciclos, e este ano com muito mais significado. Esperamos e aguardamos ansiosamente por 2021, por um ano novo, mas dessa vez não queremos coisas novas, muito pelo contrário, queremos as nossas coisas antigas, aquelas que fazíamos um ano atrás: sair de casa sem máscara, ir pra escola, almoçar na casa dos avós no domingo, ir à igreja, ir à festa de casamento, abraçar. Ah, o abraço, gesto tão simples, e tão intenso! Abraço que não será permitido nas tradicionais confraternizações, na troca de presente do amigo secreto, no reencontro da família que mora distante, mas que aprendemos a transformá-lo através do olhar e de gestos de carinho. Aprendemos novas maneiras de trabalho, diversão, relacionamento, espiritualidade, de viver e sobreviver diante de tudo o que a vida nos apresentou durante essa fase.
Ter a oportunidade de encerrar esse ano e iniciar um outro nos faz reacender a chama da esperança de uma vida diferente da que tivemos recentemente. Abre-nos horizontes, nos dá chances de recomeçar, de reconstruir, de construir. O ano novo simboliza momento de escrever uma nova história, deixando pra trás o que não deu certo e apostando em novas formas de desenhar o futuro, em um cenário novinho em folha, folha esta que se apresenta em branco, sem nenhum rabisco, para que possamos, ao nosso modo, projetar aquilo que desejamos, com tudo o que temos direito. Quando fazemos isso, assumimos um compromisso conosco e podemos vislumbrar um horizonte com realizações, planos a serem executados e a vida sendo vivida com significado e intensidade. Olhamos para nossos projetos com orgulho, motivados a seguir em frente, apesar das dificuldades, pois antes de colocar no papel, a mente humana, sábia como é, nos proporciona, enquanto planejamos, a sensação da vitória, do sonho realizado e consequentemente nos encoraja a transpor qualquer barreira para realizar o que desejamos e colocamos como meta.
Assim como a simbologia do ano novo é representada pela cor branca, temos o Janeiro Branco, que para a área da saúde mental tem grande importância e significado. A oportunidade de escrever a nova história e dar sentido ao recomeço é salutar e necessária, para todos, indistintamente. É uma forma de olhar para dentro, no vazio de um re-começo e enfrentar, mesmo com medo, insegurança, os desafios que a vida oferece. É respirar fundo, buscar forças, reunir energia e dar o primeiro passo rumo a um futuro incerto, porém promissor. É sonhar com novas possibilidades de crescimento pessoal e profissional, de novas conquistas e de deixar que a vida siga seu curso com leveza e paz.

Ana Lúcia Lopes dos Santos é psicóloga e coordenadora do curso de psicologia e gestão de recursos humanos da Unimar

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Ano novo simboliza o momento de escrever uma nova história