Artigo por Carlos R. Ticiano

As câmeras fotográficas sempre tiveram o seu glamour, fazendo a diferença nas mãos de um bom fotógrafo. Frank Albert Moore é um desses fotógrafos arrojados, que para conseguir uma foto especial, não mede esforços, nem tão pouco hesita em arriscar à sua própria vida. Para conseguir idealizar um click diferenciado, com sua câmera acoplada a uma lente teleobjetiva, faz malabarismos para enquadrar a cena que se descortina à sua frente.
Contratado da Revista Week, uma famosa revista americana de variedades, é considerado o melhor fotógrafo da redação, em função da sua criatividade e talento em clicar cenas icônicas, que outros fotógrafos não conseguem idealizar. Frank, por ser um fotógrafo com uma intuição refinada, possuir um bom relacionamento e ser um solteirão bon-vivant, vive viajando pelo mundo em busca do inusitado.
Nessas viagens que Frank chama de aventuras, já fotografou guerras, catástrofes, atentados e outras tragédias humanas, consideradas por ele como anunciadas, por serem evidentes do ponto de vista ideológico. Como também já teve a oportunidade de fotografar corridas de Fórmula I, jogos do Campeonato Mundial de Futebol, cerimônias de casamento de celebridades, posse de presidentes e tantos outros eventos.
Suas fotos, deixam os leitores admirados com a sua forma magistral de emoldurar as cenas, dando a elas, formas diferenciadas e inimagináveis, ao representá-las com exatidão e veracidade. Por suas façanhas, adquiriu fama, prêmios e o status de melhor fotógrafo. Mas como tudo têm um preço, por tirar certas fotos com sua câmera teleobjetiva, Frank já passou por poucas e boas.
Em muitas de suas coberturas pelo mundo, por não fazer vista grossa e ter tido à coragem de fotografar determinadas cenas ousadas, já o deixou várias vezes em situações embaraçosas, a ponto de ter que se esconder ou deixar o local correndo. Como o caso em que flagrou através das lentes de sua câmera, um político influente do leste europeu numa noite de esbórnia, festejando à sua reeleição com toda sua comitiva.
Como costuma dizer, suas melhores fotos ocorrem quando está de folga e a redação liga informando de uma ocorrência, muitas vezes agradáveis, e outras vezes nem tanto. Quando isso acontece fora do país, antes de sair voando para o aeroporto, Frank têm pouco tempo para colocar em sua maleta apenas alguns objetos de uso pessoal. Onde vai ficar, o que vai comer, onde vai dormir, fica sempre em segundo plano.
As piores coberturas a serem fotografadas, são aquelas que envolvem um país em guerra, como é o caso atualmente da Rússia atacando e bombardeando a Ucrânia, em especial Kiev sua capital. Deprimente, chocante e triste ver e ter que bater fotos de famílias desesperadas, correndo pelas ruas, muitas vezes com os seus filhos no colo, a ponto de serem atingidas por uma bomba ou um disparo qualquer.
Recentemente, recebeu da redação a missão de fotografar um desfile da Fashion Week (Semana da Moda), pelo fato do fotógrafo que cobre estes eventos, estar de licença médica. De imediato, Frank tentou rejeitar – Como vou me apresentar num evento de modas em meio a tantas celebridades, dirigindo um jipe todo enlameado, barba por fazer, desalinhado e cabelo desgrenhado. Você consegue! Você é o nosso melhor fotógrafo!
Diante de tanta insistência e elogios de Jimmy, seu editor chefe, não teve como dizer não a missão espinhosa, como ele mesmo ironizava. Muito embora fora do seu habitat natural, após se identificar diante de um aparato de segurança na chegada ao evento, Frank foi se adaptando e procurando um lugar de onde pudesse fazer fotos diferenciadas dos demais fotógrafos, que normalmente ficam todos aglomerados.
Desacostumado em ver tantas celebridades à sua frente, Frank aos poucos foi se ambientando ao cenário e fotografando as modelos, que uma após a outra, adentravam à passarela. Dentre todas que fotografou, uma de certa maneira chamou-lhe atenção, não só pela sua beleza e leveza em desfilar, mas também pelo seu charme e carisma.
De volta à redação, fotos entregues e alguns dias de descanso. Na semana seguinte, uma nova edição da Revista Week circulava pelas bancas e pelo site, destacando entre vários assuntos, o desfile de modas. Como era de se esperar, suas fotos sempre diferenciadas foram alvo de elogios, em especial de uma modelo de nome Agnes, que ligou para à redação para saber o nome do fotógrafo que cobriu o evento.
Diante de sua insistência em conhecê-lo conseguiu o número de seu telefone. Só que em vez de ligar, Agnes Carol Brandt apareceu de surpresa na porta do seu apartamento. Ao abrir à porta e não conseguir identificá-la, Frank perguntou – Quem é você? Sou uma das modelos que você fotografou na Fashion Week. Meu sexto sentido me garantiu que você gostaria de rever-me. Estou enganada?
Se for a Agnes, seu pressentimento está corretíssimo. Provavelmente sua visita têm haver com as fotos e um provável elogio ou uma crítica. Estou correto? Somente elogios, pois tenho acompanhado seu trabalho na revista e lido as notas veiculadas na mídia. Quando vi as fotos, confesso que não tive dúvidas, de que só poderiam ter sido feitas por você. Sempre tive vontade de conhecê-lo pessoalmente. As fotos, foram o passaporte para chegar até você.
Poderíamos sair está noite? Estou curiosa em saber das suas aventuras pelo mundo da fotografia, e das situações engraçadas e perigosas que provavelmente têm vivido. Se você tiver paciência em ouvi-las, terei o maior prazer em contar-lhe em detalhes. Como que prevendo o final deste encontro, nem tanto casual, eu arriscaria dizer que a vida desse solteirão, está com os dias contados.
Vocês concordam comigo?

Carlos R. Ticiano é advogado, romancista e colunista.

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