Numa tarde de sábado, depois de uma semana exaustiva de trabalho, Marcos foi ao shopping para descontrair e passear. Sentado em um banco próximo de uma sorveteria, nas imediações da praça de alimentação, percebeu quando sentou-se do seu lado uma jovem muita bonita, saboreando um sorvete, que pela cor verde-cítrico, deveria ser de sabor pistache.
De uma beleza exuberante, cabelo estilo reto e desfiado nas pontas, com franja média na altura dos olhos, hipnotizaram de forma imediata e arrebatadora os olhos de Marcos. Não se contendo, arriscou uma aproximação discreta exclamando – Oi! Tudo bem? Para sua surpresa, com um belo sorriso no rosto e um atraente sotaque francês respondeu – Ça va, et toi? (Estou bem, e você?).
Diante de tal reação amistosa, mesmo não falando e entendendo fluentemente o idioma francês, Marcos respondeu – Ça va! (Tudo bem!). Não querendo perder a oportunidade de continuar o diálogo, indagou – Qual o seu nome? Je m’appelle Catherine! (Meu nome é Catherine!) Quel est votre nom? (Qual o seu nome?) Meu nome é Marcos!
Admirado e surpreso com tantas particularidades, perguntou – Você fala francês? Sorrindo, ela respondeu – Je suis français! (Eu sou francesa!) Estou atualmente no Brasil, fazendo um estágio pela Fondation Alliance Française (Fundação Aliança Francesa), com a finalidade de aprender o idioma brasileiro para desempenhar à função de Analista de Investimentos, de uma exportadora francesa, na Bolsa de Valores do Brasil.
Marcos, fascinado não só com a beleza de Catherine, mas também pela oportunidade de redescobrir-se no amor, uma vez que acabara de terminar um romance que aparentava ser duradouro, sentiu algo diferente por aquela francesinha. Apesar de uma certa dificuldade em dialogar com ela, em função de seu sotaque francês, a conversa foi evoluindo e se tornando amistosa, diante de um vasto leque de assuntos.
Dentre os vários temas, surgiu de forma inesperada o assunto “jogo de boliche”, que parecia ser novidade para Catherine. Que confidenciou, meio que sem jeito, que não sabia jogar, mas tinha vontade de aprender. Marcos, por sua vez, aproveitou a deixa e respondeu que também não sabia, mas tinha curiosidade em saber como eram as regras do jogo.
Animados com a ideia, Marcos mencionou que no segundo andar do shopping, tinha um Clube de Boliche. Catherine não pensou duas vezes e exclamou – Jouons au bowling? (Vamos jogar boliche?) Como um casal de namorados, que mal tinham acabados de se conhecerem, lá foram os dois animados, com à intensão de se divertirem e ao mesmo tempo, aprenderem a jogar boliche.
Na recepção, receberam de Lucas, toda informação de como jogar boliche. Que de forma resumida, segundo o atendente, consistia em arremessar à bola, a fim de derrubar dez peças de madeira, em forma de pinos. Quanto mais pinos forem derrubados, mais pontos o jogador acumularia. Os pinos, são sempre dispostos na formação triangular, no fundo de uma pista de madeira, às vezes sintética.
A bola, como podem ver, continuou Lucas, têm três furos – O maior, é para o dedo polegar e os menores, são para os dedos anelar e médio. O jogo é composto por dez lances, sendo permitido por vez, arremessar a bola duas vezes. Se derrubar os pinos na primeira jogada, consegue fazer um “strike”, mas se isso acontecer na segunda jogada, com os demais pinos que sobraram, consegue fazer um “spare”.
Agradecidos, responderam – Merci! (obrigado!). Só que para quem nunca jogou boliche, apenas a teoria, não foi suficiente para se saírem bem no jogo. Pegar e segurar a bola em seus três furos, com os dedos polegar, médio e anelar já foi uma dificuldade. Atirar a bola em direção dos pinos, uma aventura. Fazer um strike ou um spare, uma missão impossível para quem nunca tinha jogado boliche.
De certo mesmo, apenas a descontração, as risadas e as brincadeiras durante todo tempo em que jogaram. Saindo do Clube de Boliche, Marcos à convidou para irem à uma bomboniere que tinha na praça de alimentação. Demonstrando olhares apaixonados, por terem sido flechados pelo “cupido do amor”, Catherine sem hesitar, tomou uma iniciativa, até certo ponto, inesperada e surpreendente para Marcos.
Em breve vou ter que voltar à França, para buscar toda a documentação necessária para efetivar-me na empresa. Vous ne voulez pas voyager avec moi? (Você não quer viajar comigo?) Pego de surpresa, Marcos ficou imaginando por alguns instantes a proposta de viajar com Catherine e conhecer a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo, o Museu do Louvre, o Rio Sena, e outros pontos turísticos. Após um breve silêncio, num francês abrasileirado, respondeu – Paris, nous voilà! (Paris, aí vamos nós!)
Uma paquera “à la française”, que teve início de forma despretensiosa, tendo apenas como testemunha, um inesquecível e agradável jogo de boliche; um delicioso chocolate cremoso, com pedacinhos de marshmallow; apetitosos brownies de chocolate, recheados com nozes, provavelmente se transformará em um belo e eterno romance.
Desta vez, passeando pela Torre Eiffel, saboreando à dois, um adorável e gostoso sorvete sabor pistache.
Carlos R. Ticiano é advogado, romancista e colunista.