Antes de adentrarmos no enredo que envolve o descobrimento e a independência do Brasil, vamos voltar um pouco no tempo, rebobinar a fita e detalharmos de forma compacta, os 322 capítulos/anos do folhetim que foi ao ar de 1500 à 1822. Qualquer semelhança com a realidade, não é pura coincidência.
Devido à probabilidade de haverem terras a serem descobertas por estes lados do Mar Oceano, como era conhecido o Oceano Atlântico na época, havia muitas especulações e interesses por parte das imobiliárias europeias. O navegador espanhol Vicente Yáñez Pinzón, diante da possibilidade de existir terras além mar, chegou com sua comitiva no litoral de Pernambuco, em 26 de janeiro de 1500.
Aqui chegando, se depararam com a hostilidade dos indígenas, tornando impossível um contato e um diálogo amistoso. Impossibilitados de uma aproximação amigável, os espanhóis bateram em retirada. Sabendo do acontecido, Pedro Álvares Cabral, cavaleiro da Ordem de Cristo, cansado da rotina de pescar todos os dias e à noite ficar bebericando nas tabernas, foi ter com o Rei Dom Manuel uma conversa.
Com tempo bom e vento favorável, o navegador português, Pedro Álvares Cabral, saiu à procura inicialmente do caminho para às Índias. Com o incentivo do Rei Dom Manuel, partiu do Rio Tejo com uma poderosa esquadra, formada de dez naus e três caravelas, composta por uma numerosa tripulação, em 09 março de 1500. Não sabemos se por problemas na bússola, traçado de rota do GPS ou falta de vento, que o próprio Vasco da Gama, já o havia alertado, acabaram nos costados do que viria ser à América do Sul.
Depois de navegarem por um bom tempo, do alto da gávea (cesto de observação) de uma das caravelas, alguém avistou e gritou – Terra à vista! O dia exato, que aportaram por aqui, ninguém sabe dizer direito, provavelmente em 22 de abril de 1500. Aos sinais de terras avistadas, denominaram – Monte Pascoal (monte). Porto Seguro (porto), Ilha de Vera Cruz (ilha), Terra de Santa Cruz (terra).
Depois de consultarem as cartas de tarô, decidiram finalmente pelo nome de Brasil. O navegador Gaspar de Lemos, foi enviado de volta à Portugal levando uma carta escrita pelo escrivão Pero Vaz de Caminha, relatando o descobrimento de uma nova terra. Diante da mesma hostilidade que tivera o espanhol Pinzón, o astuto Cabral e sua tripulação, saíram distribuindo todo tipo de “quinquilharia” para agradar os índios.
Caravelas ancoradas, parecendo mais um desfile de escola de samba, Cabral redigiu um contrato de gaveta, considerando que à sua intenção era de se apropriar das riquezas naturais, entre elas pau-brasil, ouro e pedras preciosas. Como os índios não tinham leitura, houve um princípio de tumulto. Mas usando de diplomacia e de um relacionamento amigável, para com os silvícolas, estes acabaram “engabelados” entregando suas terras sem maior resistência aos caras pálidas, com sotaque lusitano.
Apesar de celebrada uma missa, pelo bispo Henrique Soares de Coimbra, em 26 de abril de 1500, continuou uma hostilidade velada, entre os indígenas e os portugueses, a ponto de capturarem toda tripulação de uma embarcação, que naufragou na região da foz do Rio Coruripe, em 16 de junho de 1556, entre eles o bispo Dom Pedro Fernandes Sardinha. Todos acabaram entrando para o cardápio do serviço self-service, do restaurante do Cacique da Tribo dos Índios Caetés.
Enquanto isso, para iludir os índios, o bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva (Anhanguera) ameaçou colocar fogo nos rios e fontes, ateando fogo em uma vasilha com aguardente, na intenção de que os índios revelassem onde se encontravam as minas de ouro e pedras preciosas. Com o passar do tempo, diante da realidade do Brasil ser apenas uma Colônia Portuguesa, deixavam as elites coloniais revoltadas, em ver toda riqueza retirada do solo brasileiro, serem enviada à Portugal.
Em contra partida, uma carta vinda de Portugal, contestava os privilégios brasileiros, à ponto de considerar o estadista brasileiro José Bonifácio de Andrada e Silva, um traidor. O estadista conhecido como “Patriarca da Independência”, foi o mentor de todo processo que desencadeou a independência. Em 02 de setembro de 1822, em sessão extraordinária, a corte portuguesa presidida por Maria Leopoldina, esposa de Dom Pedro, sancionava e deliberava pela então independência brasileira.
Está mensagem que mencionava o rompimento com Portugal, chegou às mãos de Dom Pedro através do mensageiro Paulo Emílio Bregaro, que o alcançou com sua comitiva, a caminho de São Paulo, às margens do Rio Ipiranga. Diante do relato que trazia a correspondência, mesmo acometido de uma dor de barriga, não teve outra alternativa a não ser proclamar à “Independência do Brasil”. Decisão tomada, Dom Pedro foi aclamado e coroado Imperador do Brasil, tornando-se Dom Pedro I.
Depois da independência oficializada naquele nebuloso 07 de setembro de 1822, o Brasil começou a se organizar politicamente. Sua decisão de optar por uma monarquia, foi na contramão dos países que optaram por uma república. No continente das américas, apenas o Brasil, Haiti e México, viveram a experiência monárquica.
Através do “Tratado de Paz e Aliança”, redigido em 29 de agosto de 1825, Portugal oficializou o reconhecimento pela independência brasileira. Segundo as cláusulas deste tratado, o Brasil deveria pagar uma indenização de “dois milhões de libras esterlinas” aos lusitanos, para que o acordo tivesse validade. Como o Brasil não tinha recursos para saldar à dívida, recorreu à um empréstimo junto aos bancos ingleses.
Neste “Bicentenário da Independência” (1822/2022) será que realmente nos tornamos uma nação internamente independente, principalmente com relação às nossas mazelas?
Carlos R. Ticiano é advogado, romancista e colunista.