Estamos novamente no mês de dezembro. De uma forma tímida, o Natal vai surgindo nos calendários, sem a tradicional melodia natalina, que já não se houve mais nos rádios e sem o glamour de outrora. Mas prevalece a esperança, de que a data consiga mudar pelo menos um pouco a atitude das pessoas, que no corre-corre do dia a dia, não tem tempo para deleitar-se com o clima natalino.
Não quero parecer piegas e muito menos sem graça, mas a desigualdade na sociedade em que vivemos é tanta, que fico a pensar que os adultos se esqueceram que um dia também já foram crianças, que escreveram cartinhas para o Papai Noel e esperaram ansiosas, pela chegada do presente que pediram. Presentes estes, cada vez mais distante dos bolsos dos pais, muitas vezes desempregados.
Mas a tradição prevalece. Nas igrejas são celebradas missas na véspera, denominadas antigamente de Missa do Galo. Famílias abastadas, fazem a tradicional ceia natalina, com uma mesa farta de guloseimas e bebidas. Famílias carentes, terão que se contentar com um panetone de padaria e um refrigerante de guaraná. Crianças de origem ricas, vão receber um presente de última geração. Crianças de origem pobres, talvez irão receber uma bola e uma boneca.
O Natal, está se tornando obsoleto, devido a enxurrada de anúncios e promoções oferecidas pelas lojas físicas e principalmente pelas lojas virtuais. Fica difícil não ceder à tentação das lojas e não sair carregando uma infinidade de sacolas, diante de um shopping center, todo decorado com adereços natalinos, como manda a tradição da época. Quem consegue ficar indiferente?
Como não ser abduzido pelas novidades, que são despejadas diariamente pela mídia e não se entregar aos prazeres das compras, muitas vezes, comprando até o que não precisa. Mas a tentação de se sentir atualizado com todos os tipos de bens perecíveis, nos faz sentir temporariamente felizes. Mesmo que tendo que estourar o limite do cartão de crédito.
Por essas e por outras, o Natal se torna triste. Os preços são altos, as crianças são carentes, a democracia é restrita, os adultos são quadrados, as mensagens são evasivas, os sorrisos são falsos, as esperanças são remotas e o Papai Noel é careta. Os tradicionais cartões natalinos, com suas mensagens de Feliz Natal, foram substituídos pelas redes sociais, que se encarregam de enviá-los pelo WhatsApp, Facebook, Instagram e outros meios digitais.
O ser humano esquece que o Natal na sua essência, é uma das maiores festas do mundo cristão, onde celebramos solenemente o nascimento do Menino Jesus em Belém, na província romana da Judéia. Como toda data festiva, o Natal é rodeado de lendas e muitas histórias, a começar pela data que não era fixa, nos primórdios da humanidade.
Os romanos, por exemplo, comemoravam unicamente a chegada do inverno. Apenas a partir do século IV, através do decreto do Papa Júlio I, é que foi oficializada como sendo a data do nascimento de Jesus. A ideia de se fazer uma árvore decorada, nasceu na Alemanha, pelo célebre Martinho Lutero (Monge Agostiniano), que ao passar por uma floresta em uma noite estrelada, percebeu a beleza e o encanto dos pinheiros cobertos de neve. De volta à sua casa, reproduziu a cena com um pinheirinho, algodão, enfeites e velas acesas.
O Papai Noel, com sua imagem do bom velhinho, foi inspirada no bispo Nicolau, de origem Turca. Um senhor de bom coração, que tinha o costume de ajudar as pessoas pobres, deixando saquinhos com moedas, próximas das chaminés das casas. O tradicional Papai Noel, trajando roupa vermelha com detalhes em branco e cinto preto, conhecido como Santa Claus nos Estados Unidos, foi criação do cartunista Thomas Nast, de origem Alemã.
O presépio, representando o nascimento do Menino Jesus em uma manjedoura, ao lado de José e Maria, dos animais e na presença dos três reis magos, conhecidos por Baltazar, Gaspar e Melchior, foi idealizado na Itália, por São Francisco de Assis. Este gesto dos magos, de levarem presentes (ouro, incenso e mirra), acabou por influenciar a troca de presentes entre as pessoas, nesta época do ano.
Diante de uma tradição milenar, na noite do dia 24 de dezembro, se tornou um costume reunir à família para realizar uma alegre e festiva confraternização. Dar uma desacelerada no corre-corre do dia a dia, de reencontrar pessoas que a muito tempo não vemos e de realizar o tradicional amigo secreto.
Os tempos são outros, mas o hábito continua atravessando gerações. Na porta das casas, uma enorme guirlanda. Na sala de estar, uma árvore de natal abarrotada de penduricalhos, iluminada por lâmpadas coloridas de led à piscar. Um presépio todo ornamentando e um Papai Noel “high-tech”, cantando e dançando ao som da música Jingle Bells.

Carlos R. Ticiano é advogado, romancista e colunista.

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E então, Feliz Natal!