Patrícia é uma daquelas jovens que ao se tornar independente, optou por morar sozinha. Mas assume que não consegue manter organizado seu apartamento, nem tão pouco, sua própria vida. A desorganização em sua rotina diária, chega ao ponto, de às vezes ter que sair correndo, para não perder o horário programado, das escalas de seus voos.
Comissária de bordo, de uma companhia aérea, Patrícia, por falar fluentemente o idioma inglês, faz somente voos internacionais, passando mais tempo no ar do que em terra. Tendo isso como desculpa, não consegue manter uma regularidade em seus adventos, seja na capital catarinense e nem tão pouco, com relação aos compromissos rotineiros.
Suas folgas, alternadas por dias diferentes da semana, colabora de certa forma, com sua indisciplina particular e social. Seu apartamento, com tantas coisas fora do lugar, não é um exemplo de organização, mas um labirinto intransponível, devido a bagunça que impera naquele reduto. Mas sim, um fiel retrato de um imóvel em reforma, daquelas que não têm previsão de seu término.
Devido as suas viagens ao redor do mundo, Patrícia vive trazendo souvenir de diversos países, que têm a oportunidade de conhecer. Sobre o rack da sala, dispersos entre vários objetos, é possível ver réplicas da Estátua da Liberdade, da Torre de Pizza, do Relógio Big Ben, do Arco do Triunfo, da London Eye, da Torre Eiffel, entre tantos, de vários países.

Em um expositor, ocupando boa parte da parede da sala, Patrícia exibe uma coleção de xícaras de café, de fazer inveja a qualquer colecionador. São xícaras de diversos tamanhos e formatos diferentes, que trazem em seu logotipo, a marca do café, o nome da cafeteria, ou as vezes, até o país de origem, onde ela teve a oportunidade de degustar o cafezinho.
Quando vai ao shopping, não consegue apenas visualizar as roupas expostas nas vitrines das lojas, de forma compulsiva, acaba entrando e adquirindo algumas peças, que muitas vezes, nem está precisando. O simples prazer de comprar, saindo carregando uma infinidade de sacolas é o suficiente para elevar o seu ego.
Nos programas de final de semana, quando não está viajando, ao combinar com as amigas para saírem juntas, se torna um drama escolher a roupa que vai vestir. Diante de um guarda-roupa lotado, com uma variedade de vestidos, saias, blusas, sapatos, bolsas, cintos e outros apetrechos, que compõe o look de uma mulher, Patrícia se vê em dúvida.
Algumas peças, por incrível que pareça, ainda se encontram com suas respectivas etiquetas da loja em que foi adquirida. No reservado do guarda-roupa, tido como sapateira, uma infinidade de sapatos, nos mais variados tipos e cores. Escolher o modelo e a cor do sapato que vai usar, combinando é claro, com a roupa, é mais um dilema para Patrícia.
De namoro, com um comandante de avião, de uma companhia aérea americana, que conhecera, numa dessas escalas de voos internacionais, Patrícia e James, fazem planos de se casarem e morarem no Brasil. No que James, concorda plenamente, por gostar especialmente do estado da Bahia, com seu Elevador Lacerda, o primeiro elevador urbano do mundo, a unir a cidade baixa à cidade alta.
De comum acordo, começaram a procurar um novo apartamento, de certa forma maior e mais acolhedor, próximo do Aeroporto Internacional de Florianópolis, conhecido por Hercílio Luz.
Depois de várias buscas e visitas, através de diversas imobiliárias, optaram por um, que parece preencher todos os requisitos que buscavam.
Casamento marcado, momento de começar a desentulhar e organizar em caixas, tudo que habitavam o apartamento. Objetos dos mais variados possíveis, expostos ou simplesmente camuflados em alguma gaveta, armário ou perdidos em algum canto qualquer. Uma tarefa árdua, diante de tanta coisa, que Patrícia talvez nem se lembrasse que tinha.
Nessa triagem para encaixotar, James sugeriu – Inicialmente, vamos fazer uma seleção do que serve e do que não serve. Em seguida, vamos descartar e jogar fora o que não presta e doar para uma entidade de caridade o que ainda têm utilidade, principalmente roupas, agasalhos e calçados. Diante do caos em que se encontrava o apartamento, Patrícia concordou plenamente.
Agindo desta forma, nos tempos disponíveis em que estavam de folga, foram se organizando e decidindo o que levar do guarda-roupa, dos objetos de decoração e dos utensílios diversos. Não escaparam da faxina, nem a farmacinha e seus remédios com prazo de validade vencidos, bijuterias quebradas e cosméticos que não utilizava mais.
Nessa nova caminhada de vida conjugal, Patrícia e James, começam a colher os frutos, por terem conseguido colocar em prática uma organização diária. Uma conquista, que Patrícia, reconhece que não conseguiria idealizar sozinha. James, com seu sotaque americano, exclama – A organização, não retrata apenas uma transformação radical e definitiva, mas passos conscientes, em busca do ideal que objetivamos.
Vivendo num apartamento paradisíaco, totalmente organizado, sentados no sofá, tomando café em suas canecas coloridas, James diante dos arroubos de Patrícia, em comprar tudo que vê, nos sites das lojas virtual, pergunta – Realmente precisamos fazer está compra?

Carlos R. Ticiano é advogado, romancista e colunista.
cr.ticiano@gmail.com

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Organização e disciplina