Artigo por Carlos R. Ticiano
Pode se dizer sem medo de errar, que seus caminhos já estavam traçados, mas por capricho do destino, ainda não tinha surgido a oportunidade de se conhecerem. Por incrível que pareça, apesar de morarem no mesmo condomínio, não se conheciam, talvez pelo fato de Maria Cecília morar no 8° andar e Luiz Henrique no 12° andar do Residencial Vale das Flores.
Luiz Henrique, ainda ressentido por um noivado desfeito às vésperas do casamento, não tinha olhos e nem intensão de encontrar um novo amor, que pudesse fazê-lo esquecer o passado. Maria Cecília, uma jovem bonita e alegre, morava com Maria Laura, sua filha de oito anos, fruto de uma relação imatura. O fato de ter vivido um relacionamento mal sucedido, não à fizera uma pessoa triste e sem esperanças de encontrar um verdadeiro amor.
Talvez por viverem reclusos e não se exporem muito, quase não eram vistos nos finais de semana. Não gostavam muito de sair, mas devido a insistência dos amigos que tinham em comum e não sabiam, às vezes aceitavam o convite. Um mistério, até certo ponto curioso, pelo fato de morarem no mesmo residencial e nunca terem se cruzados no elevador, nem tão pouco saberem da existência um do outro.
Justamente por terem amigos em comum, foram convidados para a cerimônia de casamento de Heloísa e Fernando, que costumavam frequentar de forma assídua seus apartamentos, como no dia em que foram levar o convite de casamento. Como cupidos, Helô e Nando, como eram conhecidos, viviam falando sobre a intenção de apresentá-los, por acharem que tinham muita coisa em comum.
A oportunidade não surgiu, o tempo passou e o dia do casamento de Heloísa e Fernando chegou. Na igreja, Maria Cecília e Luiz Henrique, sentados em lugares opostos, não imaginavam nem em sonhos, a surpresa que os aguardavam. Luiz Henrique, talvez por se lembrar do seu casamento naufragado, se sentia de certa forma desambientado, não vendo à hora que a cerimônia acabasse.
Maria Cecília, ao contrário, se imaginava no lugar da noiva, uma vez que não tivera a oportunidade de realizar este sonho. Mas por capricho do destino, considerando que a igreja estava lotada, num simples olhar, destes que muitas vezes damos ao nosso redor, sem qualquer intensão de fixar o olhar em alguém, Luiz Henrique, deparou-se com a presença de Maria Cecília. Como num impulso, não resistiu ao desejo de voltar à olhar algumas vezes.
Uma jovem bonita, trajando um elegante vestido na cor rosa pastel, cabelo preso de um lado, por uma presilha e um lindo sorriso no rosto. Por intuição, Maria Cecília, também passou a olhar discretamente para o lado oposto, como que percebendo que alguém também à olhava, e que de certa forma chamava-lhe à atenção, pela sua elegância em estar trajando um elegante terno na cor azul-marinho.
Num desses olhares que se repetiram várias vezes, Luiz Henrique percebeu que havia uma garotinha do seu lado. Terminada a cerimônia, todos foram saindo logo após o casal de noivos e seus olhares acabaram se desvencilhando, não conseguindo mais manter um contato visual. A caminho do salão de festas, ao lado da igreja, Luiz Henrique, por ter parado por alguns instantes para conversar com um amigo, demorou um pouco mais para chegar.
Andando por entre as mesas, percebeu quase no fundo do salão a jovem que o tinha perdido de vista logo após a cerimônia, sentada sozinha com a tal garotinha. Decidido a desvendar um enigma, se aproximou e perguntou – Você está esperando mais alguém? Atenciosa, Maria Cecília respondeu – Não! Se você quiser fazer companhia a mim e à minha filha Maria Laura, fique à vontade.
Devidamente apresentados, um diálogo amistoso se iniciou entre eles, como se já se conhecessem a muito tempo. Na tradicional passagem do casal de noivos pelas mesas, Heloísa e Fernando ao vê-los juntos conversando exclamaram – Vocês dois juntos! Como isso aconteceu, se nem chegamos a apresentá-los como era nossa intenção? Talvez por obra do destino, respondeu Maria Cecília sorrindo.
Não sei se perceberam, exclamou Helô e Nando, como que querendo dar um empurrãozinho – Vocês formam um lindo casal. Estamos torcendo para que este encontro possa se consolidar, pois queremos ser os padrinhos deste casamento. A partir daquele encontro, Luiz Henrique e Maria Cecília passaram a sair juntos com frequência, o namoro foi uma questão de tempo.
A garotinha Maria Laura, apegada a Luiz Henrique, em certa ocasião questionou – Vocês vão se casar? Ambos se entreolharam e Maria Cecília respondeu – Você quer ser a “dama de honra” da mamãe na igreja? Neste caso, já posso então chamá-lo de papai? Emocionado, Luiz Henrique exclamou – Desde que eu possa também chamá-la de filha.
Alguns meses depois, o casamento foi realizado no civil e no religioso, selando em definitivo a união de dois corações, com uma festa no salão paroquial aos parentes e amigos que tinham em comum. Sobre às mesas, uma lembrancinha do enlace matrimonial, com um cartãozinho – “A vida é uma arte de encontros, embora ainda existam tantos desencontros pela vida”.
Dias desses, passeando juntos com a filhota pelo shopping, Maria Laura exclamou – Papai, vamos tomar sorvete? Numa troca de olhares felizes, Luiz Henrique e Maria Cecília, com lágrimas nos olhos, responderam – Só se for de chocolate!
Carlos R. Ticiano é advogado, romancista e colunista.