Folheando o calendário, em busca do mês de junho, Paulo foi arrebatado por um conjunto de lembranças e recordações. Começando pelo convite da empresa, para fazer um curso na Escola Senac, nas férias escolares. De um modo especial, da chegada triunfal e estilosa, na sala de aula, de uma certa garota, na noite daquela segunda-feira, 12 de junho de 1976.
Perante uma sala praticamente lotada, Yasmin, sentou-se justamente numa carteira à sua frente. Percebendo que estava na presença de uma garota, que sempre idealizou em seus sonhos, Paulo, não teve dúvidas, que seria inevitável uma paquera no decorrer do curso, devido ao seu carisma, perfume, charme e um jeitinho arrebatador. A semana voou, sobre o curso, Paulo, não sabe dizer muita coisa.
Mas sobre aquele encontro mágico e inesquecível, que ocorreu naquela noite de segunda-feira, Paulo, consegue recordar e relatar muita coisa. Do interesse mútuo, em demonstrar através da paquera, do olhar, do sorriso, uma discreta e fascinante admiração que os envolvia. Um dos colegas de classe, percebendo um clima de romance no ar, exclamou – Não se esqueçam de convidar-me para o casamento!
O curso chegou ao fim no dia 16, numa sexta-feira, com um coquetel aos participantes e a entrega do certificado de conclusão do curso, realizado pela Escola Senac. Na saída da escola, Paulo e Yasmin, ficaram algum tempo ainda conversando, com o objetivo de retardarem o máximo possível, a despedida que se aproximava. Na partida, trocaram olhares afetuosos, na incerteza de que um dia pudessem se reencontrarem novamente.
Yasmin não tinha residência fixa em Marília, pois morava em Tupã e ficava apenas durante a semana em uma república de estudantes, para poder trabalhar durante o dia e à noite cursar a Faculdade de Serviço Social, retornando para sua casa todo sábado de manhã. Como era de se esperar, foi um final de semana, repleto de recordações e saudades.
Mas como reencontrá-la e dizer-lhe que estava apaixonado? Não teve dúvidas, na segunda-feira de manhã, dia 19 de junho, tomou a decisão de descobrir o endereço da república em que Yasmin morava em Marília. Aproveitou o intervalo do horário do almoço, passou em uma floricultura e mandou-lhe rosas, com um cartãozinho dizendo – “Hoje faz uma semana que conheci a garota mais bacana do mundo”.
À noite, foi até a república para vê-la e saber das novidades, como quem sonda a possibilidade de um final feliz, em função de um reencontro planejado. Ao vê-lo no portão da casa, Yasmin deu um sorriso e o convidou para entrar. Apresentado aos demais estudantes, conversaram um bom tempo na sala, acompanhado de um cafezinho. Na saída, ao se despedirem não resistiram e se beijaram apaixonados.
Um olhar carinhoso, um abraço apertado e a certeza de que estavam namorando. Aquele medo imaturo, que Paulo sentia em perdê-la, desapareceu como que por encanto, surgindo em seu lugar, um mundo de sonhos, que passaram a desfrutarem juntos. Vivendo intensamente cada momento, através dos encontros, dos telefonemas diários, em função do interesse recíproco em saber se estava tudo bem.
Nos finais de semana, em que Paulo viajava junto com Yasmin para Tupã e ficava hospedado na casa de seus pais, podia desfrutar do carinho de sua família. Quando Yasmin ficava em Marília, aproveitavam para passear pela cidade; de saborearem as deliciosas pizzas brotinho (mini pizza), na Pizzaria Capri, acompanhada de uma Coca-Cola; dos filmes inesquecíveis, entre eles, Grease (Nos Tempos da Brilhantina), apresentados pelo Cine Peduti; dos beijos, dos carinhos e dos planos idealizados de uma vida à dois.
Mas como nada é eterno, se não tivermos o propósito de eternizá-los, começaram a surgir os primeiros sintomas de separação. Depois de sucessivas discussões tolas, sempre rolava uma lágrima no rosto de Yasmin, por um amor que se encaminhava para seu final. Mesmo procurando de todas as formas, dialogar e demonstrar o quanto um era importante para o outro, bastando para isso, respeitar as opiniões adversas.
Apesar de tentarem contornar os obstáculos, os argumentos não foram suficientes. Numa dessas noites frias, sem luar e sem estrelas, Yasmin disse adeus e foi embora. Sem saber o que dizer, Paulo aceitou a sua decisão e acabou por perder para sempre o seu sorriso, seus abraços, seus beijos e seus carinhos. Em seu lugar, ficou apenas a tristeza e as saudade do fim de um grande amor.
Desde então, o sol não irradiou mais o mesmo brilho, as flores não embelezaram mais os jardins, a lua não deixou as noites mais poéticas e as músicas românticas, não transmitiram mais emoção e alegria. De um modo geral, tudo perdeu a graça. Paulo não obteve mais notícias de Yasmin, a ponto de não saber se ela está sozinha ou com alguém. Feliz ou quem sabe, como ele, à espera de um reencontro.
Com a foto de Yasmin sorrindo, no porta-retrato, ainda sobre o rack da sala, neste dia em que se comemora o “Dia dos Namorados”, Paulo devaneia com seu olhar distante, como que perdido no labirinto do passado.
Carlos R. Ticiano é advogado, romancista e colunista.
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