Artigo por Carlos R. Ticiano
Alguns documentários de cunho cultural, têm como objetivo mostrar a grande importância histórica e cultural dos países. Toda essa herança consagrada, alinhadas à grandiosidade das construções, retratam de forma relevante os principais pontos turísticos. Destacando os inúmeros museus, igrejas teatros, castelos, monumentos, palácios, catedrais, fontes, praças e parques históricos.
Sem falar dos traços da arquitetura visto com detalhes nas fachadas, principalmente das edificações do velho continente. Tudo convivendo num mesmo cenário, onde o antigo e o novo se entrelaçam num mesmo patamar, de forma conjunta e harmoniosa, mantendo na memória dos saudosistas e mostrando aos mais jovens, como eram as edificações antigamente. O passado, o presente e o futuro se completando.
Diante desta demonstração de superação, seriedade, capacidade, recuperação e evolução, que vejo principalmente no continente americano, europeu e asiático, chego a triste conclusão de que estamos no caminho errado. O Brasil além de não preservar quase nada, ainda se dá ao luxo de destruir o passado, ignorar o presente e não planejar o futuro.
Em Singapura, tudo ou quase tudo é proibido. Degustar um lanche e jogar a embalagem no chão, beijar a namorada na boca em público, atravessar à rua fora da faixa de pedestre, adquirir chicletes sem receituário nas farmácias, comer ou fumar na estação de metrô, acarretam multas exorbitantes. Chibatadas ainda é uma forma de punição, para quem vandalizar à cidade de alguma forma. Ao desembarcar no aeroporto, um aviso – Tráfego de drogas resulta em pena de morte.
Em Portugal, além de se apreciar o fado e saborear os pastéis de Belém, é indispensável subir e descer as ladeiras da cidade, a bordo dos lendários bondinhos amarelos. Em 1872 começaram a circular os primeiros bondes puxados por cavalos, somente a partir de 1900 é que surgiram os primeiros bondes elétricos. Atualmente dos 76 quilômetros que existiam, são percorridos apenas 26 quilômetros, mas nem por isso, os bondinhos portugueses perderam a beleza, a importância e o charme.
Na Europa, a engenharia foi eficiente ao idealizar e construir estradas que são verdadeiros cartões postais. Na Romênia, a “Transfagarasan Road” foi construída na parte mais alta dos Cárpatos, com uma elevação de mais de 2000 metros, tendo mais viadutos e túneis do que qualquer outra estrada. Na Noruega, a “Atlantic Ocean Road” é uma estrada de 8 quilômetros com 8 pontes, construída por cima de um arquipélago. Ela atrai à atenção pela sua curva acentuada, que aparenta que o veículo vai sair voando.
No Japão, a bicicleta faz parte da cultura japonesa, sendo o terceiro país com o maior número de bicicletas do mundo, perdendo apenas para a Holanda e Dinamarca. A bicicleta se tornou uma opção de transporte para milhões de japoneses não só pela razão sustentável. Na realidade, demonstra uma tendência cultural muito antiga, que já atravessou várias gerações e que ainda persiste atualmente, utilizada praticamente por 99% da população.
Nos Estados Unidos e na Europa, os postos de gasolina não possuem frentistas, o próprio motorista abastece o carro, vai até a loja de conveniência, informa qual a bomba que utilizou e efetua o pagamento. Nos Estados Unidos os jornais são vendidos em máquinas instaladas nas calçadas, hotéis e aeroportos. Para adquirir um exemplar, basta colocar uma moeda correspondente ao valor na máquina, abrir o compartimento e retirar o jornal.
Na Austrália, o transporte público é moderno e estruturado, oferecendo ônibus, trens, bondes e balsas. As leis no país são consideradas rígidas, principalmente com relação ao consumo de bebidas alcóolicas em locais públicos e com as regras do código de trânsito. Os produtores rurais, instalam e deixam seus produtos para serem vendidos, em bancas ao longo das estradas. As pessoas interessadas em adquirir alguma coisa, escolhem o que desejam e colocam o dinheiro em uma caixinha.
Nestes quesitos, o Brasil é um exemplo explícito de descaso, seja de que ângulo for visto e analisado sobre os mais diversos aspectos, entre eles, o social e o econômico. Vivenciamos de forma clara e evidente, uma total incapacidade de preservar, idealizar e projetar o futuro. Com a chegada do ônibus e posteriormente do metrô, desativaram os bonitos e charmosos bondes, e as tradicionais estações ferroviárias, com seus saudosos e atraentes trens.
Para edificar novas e modernas casas e edifícios, derrubaram os antigos e tradicionais casarões e prédios, construídos na época pela arquitetura “Art Déco”, que traziam um estilo de artes visuais, arquitetura e design nas fachadas das indústrias, moradias, igrejas e escolas. Para construírem novas e modernas praças, destruíram as antigas com seus formatos octogonais, coretos e monumentos históricos.
De volta à realidade brasileira, tenho a impressão de que o Brasil não serve de exemplo para ninguém. Lamentavelmente fugimos da escola, não fizemos à lição de casa, ficamos em recuperação e acabamos reprovados. Por isso e por outros motivos, temos que voltar urgentemente ao pré-primário, pois temos muito ainda o que aprender
Carlos R. Ticiano é advogado, romancista e colunista.