Difícil encontrar alguém, que não tenha um caso para relatar, com relação a um provável relacionamento amoroso, no extenso universo de um ambiente de trabalho, academia, escola, shopping, condomínio, caminhada, entre outros. Uma simples paquera, um pedido de namoro e a possibilidade até de um casamento. No caso de Carlos, Márcia, Sônia e Anna, não fogem a exceção, uma vez que todos trabalhavam numa mesma empresa.
Todos colegas de trabalho, dividiam diariamente o mesmo espaço, na área destinada ao departamento jurídico. Era claro e notório, uma aproximação muito mais que uma simples amizade, entre Carlos e Márcia. Havia uma química entre eles, selada por uma infinidade de bilhetinhos românticos, trocados diariamente ao longo do dia. Sem falar dos longos papos que rolavam entre ambos, no espaço reservado da empresa, para uma água ou um cafezinho.
Dentre uma infinidade de bilhetinhos, destaco em off – Carlos, você é o Richard Gere dos meus sonhos! Márcia, você é a Julia Roberts da minha vida! Ao final do expediente, havia uma imensidão de bilhetinhos na gaveta de Carlos. Uma infinidade de bilhetinhos na clássica bolsa preta de Márcia. Achar um bloco de anotações disponível naquele departamento, era uma missão impossível.
Ao chegar em casa certo dia, Ivone solicitou uma lixa de unha para sua filha, que respondeu – Pega na minha bolsa mãe! Ao abri-la, deparou-se com tantos bilhetinhos, que para achar a lixa, teve que esvaziar a bolsa. O que significa isto? Indagou Ivone! Em vez de lixas de unha, batom, escova de cabelo, e outros itens, você resolveu colecionar papel? Márcia, meio desconcertada, diante da situação caótica, tentou dentro do possível, explicar o inexplicável.
No ambiente em que trabalhavam, Sônia percebendo que o namoro entre ambos era uma questão de tempo, resolveu agir discretamente. Uma vez que tinha uma certa quedinha por Carlos, até então obscura e reprimida. Com olhares de uma gatinha manhosa e carente, Sônia foi se aproximando sorrateiramente, como quem não quer nada. Pego de surpresa, Carlos até tentou ignorar as investidas, mas não obteve sucesso.
Num momento de fraqueza, acabou caindo em suas armadilhas ardilosas, sucumbindo sem resistência a um beijo com gosto de café, desfechado pela rival no reservado da empresa. A partir deste incidente, seu relacionamento com Márcia começou a esfriar, a ponto dos poucos bilhetinhos que trocavam, expressarem pouco sentimento. O barquinho de um promissor namoro começava a naufragar.
Não demorou muito para Márcia perceber que estava inserida em um triângulo amoroso, onde certamente sairia com o coração ressentido. Anna acompanhava ansiosa o desfecho daquele enredo, uma vez que ainda tinha esperanças que Carlos ficasse com ela. Seu objetivo, era em um único e certeira golpe de mestre, colher os frutos de uma doce vingança pessoal.
Tudo por que ainda cultivava um certo rancor, pelo fato de Carlos ter ignorado seus sentimentos, num passado não muito distante. Apesar de saber o risco que estava correndo, Anna ainda alimentava a doce ilusão de reconquistá-lo, ou em último caso – Se ele não pode ser meu, não será de mais ninguém. Mas como não vivemos num enredo de novela, em que o autor manipula o destino dos personagens, o desfecho entre os quatro envolvidos fora surpreendente.
Márcia, diante do impasse em se definir por qual caminho seguir, com relação ao futuro, deixou a empresa e recomeçou sua vida como estagiária. Na faculdade em que cursava direito, conheceu Thiago e se tornaram grandes amigos. Depois de saírem juntos algumas vezes, começaram a namorar. O namoro prosperou, formados em Direito Empresarial, se casaram, montaram seu próprio escritório de advocacia e vivem felizes na companhia de um belo casal de filhos.
Sônia, o pivô da separação, desiludida e descrente de um provável relacionamento, deixou a empresa e iniciou um curso para se tornar comissária de bordo. Uma vez formada, entrou para uma companhia área de aviação e se especializou em voos internacionais. De namoro com James, um comandante de aeronave, de origem americana, vive viajando pelo mundo e fazendo planos de se casarem e fixarem residência nos Estados Unidos.
Anna, apesar de não conseguir seu intento, se deu por satisfeita em ver que nem Márcia e tão pouco Sônia saíram vitoriosas. Decidida a não investir num jogo de ilusões, deixou a empresa e dedicou-se apenas aos estudos. Diante do convite um amigo, que se formará com ela no curso de publicidade, viajou para a França, onde atualmente é uma das mais requisitas em anúncios publicitários. Ao lado de seu namorado Thierry, vive curtindo a bela e romântica Paris.
Carlos, como era se se esperar também deixou a empresa, cursou jornalismo e se tornou um excelente colunista de um renomado jornal. Apesar de alguns namoricos, acabou solteiro, vivendo preso a um passado em meio a recordações e lembranças. Certo dia, encontrou em uma gaveta uma caixinha cheia de bilhetinhos. Entre eles, destaco em off – Em toda manhã uma esperança. E toda tarde uma saudade!
Mas como todo coração solitário, um dia encontra uma estrela cadente, Carlos foi visto recentemente na companhia de Lúcia. Uma garota que conhecerá na adolescência. Mas aí, já é uma outra história…

Carlos R. Ticiano é advogado, romancista e colunista.

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Triângulo nada amoroso