Se fizermos uma enquete com os adultos, para saber se na adolescência nunca aprontaram das suas, provavelmente todos dariam sua mão à palmatória. Diante das inúmeras brincadeiras ou artes propriamente ditas, algumas consideradas inocentes, outras nem tanto, a garotada aprontava e deixava seus pais muitas vezes perplexos, sem saber o que dizer ou que fazer.


Não faltava imaginação e criatividade para colocar a balbúrdia em prática. Mais cedo ou mais tarde, brincando no quintal, no pátio da escola, na calçada da rua, sozinhos, na companhia dos irmãos ou colegas, lá vinha arte. Algumas consideradas inocentes, outras nem tanto. Apesar das meninas, serem menos arteiras do que os meninos, a galera não deixava por menos.
Como no dia em que Victor e seus colegas, prenderam um gato dentro de uma gaiola. Depois de andarem com o bichano preso na gaiola por algum tempo, como se fosse um passarinho, resolveram soltá-lo. O gato, como um leão selvagem, quando escapa de uma jaula, saiu em disparada, enfurecido e disposto atacar o primeiro que encontrasse pela frente. Nunca mais se teve notícias do gato…


Jogar peteca no quintal era uma algazarra. Mas sempre tinha um que exagerava no tapa, e mandava a peteca no quintal do vizinho. Para recuperá-la, era preciso que Rafael e Gabriel subissem no muro para distrair o cachorro, enquanto o mais corajoso, no caso Daniel, pulava o muro para buscá-la. Era preciso ser rápido, pois o cachorro Flash, não estava para brincadeiras. Mas às vezes, o pior acontecia…
Sair na captura de um sorveteiro, era um alvoroço e uma diversão, na certeza de que alguma trapalhada iria acontecer. Quando viam-no passando na esquina, a turma saia correndo em disparada para alcançá-lo e comprar o sorvete preferido. Na expectativa de encontrar o palito premiado, o sorvete era devorado em segundos. Laura, a mais engraçadinha da turma, na pressa em pedir o sorvete, certa vez exclamou – O meu é de “abaixa aqui”! Foi uma gargalhada geral…


Era freqüente, brincar de esconde-esconde dentro da igreja, enquanto a professora Maura, não chegava para iniciar à aula de catecismo. Qualquer lugar servia para se esconder, como na sacristia, atrás do altar, debaixo do banco, na torre do sino, dentro do confessionário. Até o dia em que um desatento, no caso o Lucas, não percebendo que o padre Antônio estava no confessionário fazendo uma confissão, entrou para se esconder. Neste dia, sobrou até para o sacristão…

Descer a calçada em um carrinho de rolimã, era uma aventura digna de uma corrida de Fórmula 1. Talvez nem Max Verstappen, na hora da largada, gostaria de ter Daniel e Rafael na primeira fila. Muito menos, coragem para encarar os buracos e as pedras soltas da calçada, que momentaneamente se transformava em pista de corrida. Para sair de casa, era mais seguro aguardar a entrada do safety car…


Uma vez por mês, Dona Maria (italiana) aparecia na casa dos pais de Alice, pedindo para que ela escrevesse uma carta para a sua filha, que morava em São Paulo. Carta ditada, escrita e envelopada, lá ia a turma toda deliciar-se da variedade de frutas, que ela cultiva na chácara em que morava. A goiabeira com suas goiabas brancas e vermelhas eram as preferidas. Certo dia, na tentativa de pegar uma manga, Elisa caiu da mangueira e quebrou o braço. Foi um Deus nos acuda…


Certa vez, a mãe de Júlia e Daniel, pediu para que fossem comprar farinha de mandioca para fazer uma farofa e alface para fazer uma salada. De volta do supermercado Pastorinho, ao entregarem a sacola para Dona Anna, ela percebeu que não era exatamente o que pedirá para comprar. Diante do erro, Dona Anna, exclamou – Hoje vamos ter farofa feita com farinha de milho e salada de tomate com acelga. Quero ver quem vai reclamar…


No pátio da escola, na hora de formar fila para adentrar à sala de aula, sempre aprontavam com a professora Rosalina. Como de costume na Semana da Pátria, era costume cantarem o hino da Independência do Brasil – Já podeis, da Pátria filhos, ver contente a mãe gentil. Já raiou a liberdade, no horizonte do Brasil. O mais espevitado da turma, no caso o Gabriel, quase gritando no final da fila, exclamava – Japonês, da Pátria filhos…


Com a intensão de acabar com o corre-corre da garotada, seu Nelson, pai de Lucas e Sofia, pediu para que fossem buscar um disco de vinil do Roberto Carlos, na casa do seu Ataliba. De volta, todos correndo, avistou Lucas com a capa, Sofia com o disco e Victor com a capa plástica. Na pressa, Sofia deixou escapar o disco, que saiu rolando pelo corredor. A faixa com a música “Nas curvas da estrada de Santos”, nunca mais foi a mesma…

Jogar bola na rua, muito embora perigoso, era inevitável. De um lado Gabriel, Victor e Lucas, do outro lado Rafael, Fábio e Daniel. Times formados, hora de mostrar quem sabia de fato, jogar, driblar e fazer gol. Na tentativa de um passe à distância, às vezes a bola decolava, atingindo à vidraça da janela do vizinho. Vidro quebrado, jogo acabado, prejuízo para os pais. Bola confiscada por tempo indeterminado…
Quando o dentista aparecia na sala de aula, convocando alguns alunos para uma avaliação dentária, era um desespero geral. Certa vez, a caminho do consultório, Daniel, um dos quatro alunos convocados pelo Dr. Marcelo, conseguiu desvencilhar-se da turma, sem que ninguém percebesse, só voltando à escola no dia seguinte. Incrédulo, o dentista perguntou – Mas não eram quatro alunos?…

Carlos R. Ticiano é advogado, romancista e colunista.

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Artigo por Carlos R. Ticiano – Peripécias de adolescentes