Eu era adolescente quando assisti a um culto de jovens em que o conhecido pregador Bill Bright, um gigante na fé, idealizador e pioneiro da Cruzada Estudantil Para Cristo, falando acerca do circunspecto tema da tomada de decisões na fase jovem, usou a analogia do coelho para ilustrar as decisões rápidas, intensas, numerosas e muitas vezes inseguras. Lançando mão da figura do elefante, ele fez menção àquelas pessoas que demoram, pensam, analisam e só depois decidem. Anos depois, ouvi Robert Lay fazendo analogia a lanchas que podem fazer manobras em alta velocidade e transatlânticos que precisam planejar até mesmo pequenos desvios da rota. Mais do que nunca, precisamos ser o elefante de Bill Bright e o navio do Robert Lay. Nascemos como fruto da decisão dos pais e passamos a vida tomando decisões, mas grande parte das decisões que tomamos, foram mal pensadas ou movidas pelo ímpeto das emoções. Recentemente usei num sermão a narrativa do homem que no limite de suas forças, um homem atentou contra a própria vida com uma arma de fogo. Ouvindo o tiro, o vizinho entrou naquele apartamento, e, ao lado do corpo, encontrou, uma carta assim escrita: “Não deu para suportar. Passei a noite toda como um louco pelas ruas. Fui a pé…, pois não tinha condições de dirigir. Perdi meu emprego por injustiça feita contra mim. Nada mais consegui. Ontem, me telefonaram, avisando-me que minha casinha no campo havia sido incendiada. Estava ameaçado de perder este apartamento, por não ter conseguido pagar as prestações, por falta de condições financeiras… Só me restou um carro, tão desgastado que nada vale. Afastei-me de todos os meus amigos, com vergonha desta humilhante situação, e agora, chegando aqui em casa, não encontrei ninguém… Fui abandonado e levaram até as minhas melhores roupas! Perdão.” O vizinho dirigiu-se ao telefone para chamar a polícia. Quando a polícia chegou verificou que havia um recado na secretária eletrônica do telefone. Era a voz da mulher do morto, dizendo o seguinte:

  • Alô, amor, sou eu! Ligue para a firma. O engano foi reconhecido, e você está sendo chamado de volta ao emprego na próxima semana. O dono do apartamento disse que tem uma boa proposta para não o perdermos! Estamos na nossa casinha de campo. A história do incêndio era trote! Isso merece uma festa, não merece? Nossos amigos estão vindo para cá. Um beijo! … Ah, já coloquei suas melhores roupas no porta-malas do seu carro. Vem, estamos esperando por você!
    É evidente que citei um exemplo extremamente caricato, mas o conselho essencial que quero deixar é este: “Evite tomar decisões com as emoções à flor da pele.” Decisões tomadas à guisa das emoções em pico, são inseguras e questionáveis. Consideremos que jamais podemos neutralizar emoções, nem achar que nunca precisaremos tomar decisões urgentes e instantâneas. No entanto, devemos estar cientes de que as melhores decisões são tomadas quando equalizamos lógica e emoção.
    Um bom começo é identificar algumas emoções mais perigosas e que restringem, isto é, limitam nossa perspectiva mental. Por exemplo, não obstante o entusiasmo ser um estado de espírito que nos leva ao otimismo, momentos de extrema alegria não são adequados para a tomada de decisões importantes. Eles nos remetem às compras impulsivas, por exemplo. Por outro lado, a tristeza nos deixa menos exigentes conosco. Com o ego desprovido de salvaguarda, as decisões serão no estilo “tanto faz”. Uma senhora, certa vez, falando de seu casamento mal escolhido, disse: “Eu era tão triste e solitária que para mim, um mísero sinal de atenção seria o céu. Então casei com o primeiro que se dispôs a me dar um pouco de atenção.” Pior ainda é quando precisamos decidir em meio ao estresse e cansaço mental. Estresse é uma palavra muito ouvida em nossa sociedade. Segundo o dicionário Aurélio, estresse é “um conjunto de reações do organismo a agressões de origens diversas, capazes de perturbar-lhe o equilíbrio interno”. O estresse cria cortisol, bem como inúmeras outras substâncias químicas em nosso organismo, e isso reduz radicalmente nossa capacidade de raciocinar coerentemente. Foi descoberto que juízes na comissão de indultos de uma prisão israelense davam liberdade condicional aos prisioneiros dependendo do horário do dia. Os prisioneiros que apareciam de manhã recebiam liberdade condicional cerca de 70% do tempo e os que apareciam no fim do dia só recebiam 10% do tempo. Decisões movidas pela ira talvez sejam as mais danosas. Um estudo mostra que na hora da ira intensa, a adrenalina percorre nosso corpo e o sangue flui com mais rapidez para as mãos e aí pode acontecer o minuto de bobeira que estraga uma história de vida. Refiro-me ao fato de que numa discussão acalorada alguém com as mãos tomadas por sangue e adrenalina pode desferir um soco ou puxar um gatilho, sem que seu caráter seja mau. Em suma, não julgue suas emoções como inimigas da razão, mesmo porque não conseguiríamos viver sem elas. Apenas compreenda que em momentos em que estamos dominados por elas, nossas escolhas serão integralmente influenciadas.
    Até chegar a hora de relaxar à noite, você toma uma média de 35000 decisões no dia. Nesse contexto, é difícil saber como tomar sempre as melhores decisões, mas um bom começo é: “Não tome decisões no estilo coelho ou lancha. Não se deixe levar pelas emoções em alta. Seja o elefante ou o transatlântico.” Deus, através do profeta Jeremias nos fala: “Enganoso é o coração humano e desesperadamente corrupto. Quem o conhecerá?” (Jeremias 17.9) Reconheça a fragilidade do seu senso de direção quando estiver tomado pelo “coração” – na época de Jeremias, cria-se que o coração era o órgão responsável pelas emoções. Outra dica é: procure ser alguém cheio  do Espírito Santo, pois um dos aspectos do fruto do Espírito é o domínio próprio, isto é, a capacidade de não se deixar levar pela intempestividade do momento. Que Deus no dê graça para tal.

*Rev. Marcos Kopeska
Pastor da 3ª IPI de Marília, Terapeuta Familiar Sistêmico, capelão da PM SP e escritor.

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