Como se dizem atualmente, quando chega a sexta-feira – Sextou! Assim, a turma do barulho, como é conhecida as moças e rapazes, que fazem parte da patota, se encontram em um point qualquer da cidade. Como num ritual sagrado, costumam comemorar o dia tão esperado da semana, no intuito de esquecerem a rotina do trabalho.
Esses encontros, denominados de happy hour, vem logo após o expediente da sexta-feira e levam a galera a se reunirem previamente em um restaurante, pizzaria ou lanchonete, para acompanhados de uma bebida e um tira gosto, baterem um papo descontraído, ao som de uma música ambiente. Que pode advir de um som ao vivo ou de um playback.
Essas reuniões informais de final de semana, acontecem normalmente em um ambiente habitual. O importante, segundo a turma do barulho, é a escolha da mesa, que deve ficar em um ponto estratégico, onde se possa ter uma visão completa do ambiente e do vai e vem das pessoas. Estrategicamente instalados, começar a zoeira geral.
Aninha, estilista, não perde a chance de tecer seus comentários – Olha o traje de mau gosto daquela garota! Luiz Felipe, advogado, diante da sugestão de uma autodefesa, declina – Seria como ter um advogado imaturo e um cliente ingênuo. Sônia, sanitarista, não deixa de observar – A higiene neste estabelecimento, deixa muito a desejar. Gustavo, articulista, adora mencionar um jargão jornalístico – Certo presidenciável, anda mastigando a lata e jogando a sardinha fora. Tamires, nutricionista, sempre têm uma observação sobre o cardápio – A alimentação não está nada nutritiva. Roberto, cinéfilo, sobre o filme Titanic, vive reiterando – O coração de uma mulher é como um oceano, cheio de segredos.
Vanessa, psicóloga, vive analisando o comportamento das pessoas – Olha aquele casal iniciando uma DR (discussão da relação). Thiago, cartunista, não perde a ocasião para uma frase feita – Inspiração, fé e um bom café! Daniela, professora, atenta a gramática do cardápio, indaga – Escreveram “mortandela” em vez de mortadela. Que absurdo!
Carlos, estiloso, desconfortado com a música ambiente, exclama – Não aguento mais ouvir pagode! Admirados, todos falam ao mesmo tempo – Como pode um rapaz alto, moreno, cara de sambista, dizer que não gosta de pagode. Você está falando sério? Pagode não é minha praia, respondeu Carlos! Vamos fazer uma enquete e saber o gosto musical de cada um? Ninguém se pronunciou, diante da sugestão.
Passados alguns dias, a rapaziada decidiu programar uma pescaria. Aprontaram toda tralha e partiram numa manhã ensolarada de sábado, prometendo às garotas, que trariam peixes para o tira-gosto, de logo mais à noite. O que elas não sabiam, é que eles estavam indo num desses pesqueiros particular, com pesque-pague.
Brincadeiras à parte, espetadas de anzol no dedo, escorregões na beira do lago, peixes levando a vara embora, sol escaldante sobre a cabeça e para completar, cerveja quente, pois alguém se esqueceu de colocar gelo na caixa de isopor. Diante do fracasso iminente, resolveram recolher as tralhas e partiram de volta, sem a companhia dos peixes.
Retornando pela estrada esburacada de terra, Roberto teve à ideia de passar por um supermercado, para comprar alguns peixes. Thiago completou – Boa ideia! Assim não vamos passar por pescadores fracassados. Atento à direção do carro, que parecia pesada, Carlos notou que havia algo errado com um dos pneus do carro, achando melhor parar em um borracheiro, para averiguar o problema.
Enquanto o borracheiro manuseava o macaco hidráulico, para retirar o pneu do carro, podia se ouvir, vindo de um radinho de pilha, a música 50 Reais (Naiara Azevedo), que dizia em sua letra – Você está de brincadeira! Então é aqui o seu futebol, toda quarta-feira? Não sei se dou na cara dela ou bato em você! Mas eu não vim atrapalhar, sua noite de prazer! E para ajudar pagar a dama, que lhe satisfaz – Toma aqui uns 50 reais!
Incomodado com a música, Gustavo exclamou – Se este borracheiro não arrumar logo esse pneu, eu jogo este radinho naquele balde cheio d’água. Todos se entreolharam e disseram – Você não gosta de música sertaneja? Não! Respondeu Gustavo. Alguém têm alguma objeção? Carlos respondeu – Eu não gosto de pagode! Gustavo de sertanejo! Quem é o próximo a declarar sua opção musical?
Pneu recuperado, Luiz Felipe se prontificou a pagar o borracheiro. Coincidência ou não, para espanto de todos, entregou-lhe uma nota de 50 reais. Como combinado, passaram em um supermercado e levaram alguns peixes, como troféu da pescaria fictícia. Não sem deixarem de contar as garotas, aquelas histórias de pescador – Deixamos escapar um peixe de meio metro! No que exclamou, Sônia – Conta, mas não mente!
Noite chuvosa, resolveram se reunir na casa de Aninha. Conversa vai, conversa vêm, um fala uma coisa, outro fala outra, Vanessa se levantou e inseriu um pen drive no mini system, com músicas gospel. Como pairou um silêncio profundo no ambiente, Vanessa perguntou – Alguém não gosta de música gospel?

Carlos R. Ticiano é advogado, romancista e colunista.
cr.ticiano@gmail.com

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Estilo musical…