Não que eu seja fã de camisetas, mas confesso que seus desenhos e frases, chamam minha atenção. Talvez por mera coincidência, acabei sem querer, em meio a um festival de camisetas num shopping. O drama começou na cancela eletrônica, devido à fila interminável de carros para entrar e em seguida, encontrar uma vaga disponível no estacionamento.
Dentro do shopping, para qualquer lado que eu olhasse ou andasse, topava com gente indo e voltando, tal qual formigas a caminho de um formigueiro. Sem falar nas crianças correndo e trombando com as pessoas. Para não me estressar, acabei por sentar-me em um banco já apinhado de gente e fiquei olhando perplexo o vai e vem das pessoas. Todas rigorosamente vestidas com camisetas, trazendo frases humoradas.
Toda estilosa, uma moça de andar pedante, com uma que dizia – Fui com a sua cara, mas estou voltando para devolvê-la. Olho para lado e vejo um rapaz usando um boné ao contrário, com uma que dizia – Economize água, tome banho comigo. Olhando ao meu redor, deparei-me com uma garota tipo top model, com uma que dizia – Gente feia é igual a qualquer pessoa, apenas feia. Um pouco mais distante, uma senhora de meia idade, com uma que dizia – Não perturbe! Mulher com TPM disposta a fazer uma DR.
No final do corredor, avistei um senhor de bigode e cavanhaque, com uma que dizia – Vote no candidato Otelo. O rei do chinelo. Continuando, deparei-me com um senhor, com uma que dizia – Qual o meu hobby? Cerveja, cerveja, cerveja. Não precisei ir muito longe, para esbarrar-me em uma senhora, com uma que dizia – Sou gorda e daí! A geladeira é minha ou é sua? Mais adiante, um rapaz de cabelos longos, barbudo e de óculos ray-ban, com uma que dizia – Não tomo juízo. Porque já tomo cerveja. Sem falar de um jovem estudante com cara de letrado, com uma que dizia – Dois mais dois = cinco (inflação inclusa).
Sentindo-me perseguido pelas camisetas, resolvi tomar um sorvete e na fila uma jovem elegante, com uma que dizia – Não me leve a mal, leve-me à Paris. Peguei o sorvete e deparei-me com jovem olhando uma vitrine, com uma que dizia – Cuidado! Solto em condicional. Sentei-me novamente em um banco, do lado um adolescente, com uma que dizia – Final de semana deveria levar uma multa por excesso de velocidade. Do outro lado do banco, um senhor de bermuda listrada, com uma que dizia – Se for beber, não hesite! Basta me chamar, que vou junto.
Na praça de alimentação, uma jovem, digamos “BBG” (se é que você me entende), com uma que dizia – Gosta de coxa e peito? Compre um frango. Um pouco mais distante, um senhor calvo de barba ruiva, com uma que dizia – Larguei a bebida! Só não me lembro onde. A caminho de uma loja de departamentos, deparei-me com uma donzela, com uma que dizia – Se a pizza que vem de moto demora, imagina o príncipe encantado que vem a cavalo. A caminho da escada rolante, um senhor com cara de manobrista, com uma que dizia – E Deus criou o homem. E o homem criou o fusca.
Subindo a escada rolante, um rapaz careca, com uma que dizia – Não empurre, mantenha à distância e não buzine. Uma jovem fora do peso, na fila do self-service, com uma que dizia – Sou do signo de fome, com ascendente em lanches. Um senhor de barba branca, com cara de antipolítico, com uma que dizia – Nem PT, nem PSDB, eu quero é você! Um rapaz com cara de apressadinho, com uma que dizia – Têm que ser hoje, amanhã eu não venho. Um jovem de bermudas, semblante místico, com uma que dizia – Não falo palavrões, apenas sugiro alguns destinos.
Esperando a porta automática se abrir, um rapaz despreocupado, com uma que dizia – Não costumo chegar atrasado, apenas faço suspense. Um garotinho de boné, com cara de peralta, com uma que dizia – Agite e leia a bula antes de usar. Um senhor caminhando com certa dificuldade, com uma que dizia – Não sou velho, sou de uma excelente safra. Um rapaz moreno de porte atlético, com uma que dizia – Sou do samba, futebol, cerveja e churrasco. Uma jovem grávida olhando a vitrine, com uma que dizia – Não discuta comigo, estou gravida. Um rapaz com cara de economista, com uma que dizia – Aceita um crédito consignado?
Sentado com os amigos, um barbudo com tatuagens no braço, com uma que dizia – Dinheiro não compra felicidade, mas compra cerveja. Uma jovem com cara de intelectual, com uma que dizia – Pode ficar, conversar, mas não precisa encostar. Um rapaz, estilo galã, com uma que dizia – Não sou especial, sou uma edição limitada. Um jovem com cara de bad boy, com uma que dizia – Ninguém pediu a sua opinião, obrigado! Um senhor com cara de letrado, com uma que dizia – Preparem seus currículos, hoje eu vou dar trabalho. Uma adolescente, com óculos fundo de garrafa, com uma que dizia – Não sou antipática, sou míope.
Na tentativa de fugir das camisetas, resolvi ir ao cinema. Mas desisti da ideia logo na entrada, ao ver um filme em cartaz, sendo apresentado em “avant-première”, com o título – O império das camisetas volta a atacar! Resolvi sair de fininho e ir embora. Afinal, foi um daqueles dias para se esquecer. A caminho da porta, cansado de ter visto tantas camisetas, percebi que da mesma forma que eu olhava para as pessoas, elas também me olhavam. Quando para minha surpresa, percebi que eu também usava uma camiseta, que dizia – Problemas todo mundo tem! Até Frankens Tein.

Carlos R. Ticiano

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Festival de camisetas