Vejo muitos casos de pré-adolescentes com necessidades especiais que interrompem as visitas regulares ao terapeuta, seja pelo maior esforço exigido dos pais, ou porque eles próprios não veem tanto resultado.
Isso me faz pensar que essas pessoas precisam de estímulo desde criança para manter uma vida em sociedade, sem a antiga prática de esconder o paciente dentro de casa. Apesar de se falar muito da terapia na infância, é importante que haja o estímulo tanto nesse início da vida quanto após os 10 anos de idade, para a manutenção dos ganhos de força muscular, da coordenação e habilidades de socialização e vida diária.
Na terapia ocupacional, são trabalhadas as questões sociais, os aspectos sensoriais, em prol do convivo diário para amenizar dificuldades futuras. Por meio de recursos e atividades específicas, as sessões estimulam as habilidades funcionais de pessoas de todas as idades, de acordo com suas necessidades individuais.
Seja no caso de atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, dificuldades de aprendizado ou outra condição que limite as capacidades motoras, sensoriais ou cognitivas, elas podem se beneficiar do tratamento. O acompanhamento terapêutico também traz mais autonomia para as atividades do dia a dia, bem-estar e qualidade de vida seja qual for sua idade.
Me lembro de dois adolescentes que acompanhei há alguns anos e que ainda comiam com colher para não se machucarem. Quando foram convidados a um acampamento, treinamos por meses o uso do garfo e faca para que pudessem se integrar. E deu certo! Foi motivo de grande satisfação para eles. Outro exemplo: uma paciente de 15 anos estava se preparando para sua grande festa de aniversário, tradicional na idade dela. E como a pessoa com dificuldade de locomoção vai usar salto alto? É possível sim, e treinamos junto com a fisioterapia para que ela realizasse esse sonho. A inclusão é possível na prática, e não pode ser mero discurso!
A comunidade que recebe esse paciente na vida diária também pode receber dicas, seja por meio dos pais ou do próprio terapeuta, para ajudá-lo a se movimentar e interagir.
Por outro lado, quando esse paciente fica muito tempo em casa, acaba se habituando a condições que não se reproduzem no exterior. Quando ele sai, acaba se irritando com o som, a luz, as conversas e outras pessoas, porque não está acostumado, e surgem picos de estresse que podem assustar a família e bloquear essas saídas. Portanto, o ideal é que haja o costume de sair desde criança, pensando na socialização.
Outro fator importante é que a família seja acompanhada em terapia psicológica desde o diagnóstico da patologia, e que o crescimento do filho seja seguido de adequações no comportamento que permitam a continuidade da vida em sociedade.
O mundo precisa se adaptar e incluir o diferente, e não apenas o paciente deve se esforçar para se incluir. Isso passa por aceitação e convívio – algo que, esperamos, a próxima geração, que tem amigos na escola com deficiência, saiba manejar melhor.
- Syomara Cristina Szmidziuk atua há 31 anos como terapeuta ocupacional, e tem experiência no tratamento e reabilitação dos membros superiores em pacientes neuromotores. Faz atendimentos em consultório particular e em domicílio para bebês, terapia infantil e juvenil, para adultos e terceira idade. Desenvolve trabalho com os métodos RTA e terapia da mão, e possui treinamento em contenção induzida, Perfetti (introdutório), Imagética Motora (básico), Bobath e Baby Course (Bobath avançado), entre outros