por Juliana Vanin
Em maio de 2020, após dois meses de distanciamento social, o Instituto Bem do Estar e a NOZ Pesquisa e Inteligência conduziram a primeira fase do mapeamento Saúde da Mente & Pandemia. A pesquisa contou com mais de 1.500 participantes, que relataram alterações nos sentimentos e reações – sintomas relacionados tanto à depressão, quanto a ansiedade. Os resultados, ressalto, são preocupantes.
Na primeira fase da pesquisa, foi observado que 42% dos respondentes estavam saindo de casa menos de uma vez por semana. Pode-se notar que quanto maior era o nível de isolamento pessoal, maior eram as reações físicas e os sentimentos ligados à ansiedade e à depressão. Algumas sensações se destacaram, como medo e insegurança.
Os depoimentos coletados na pesquisa deixaram claro que o medo não era proveniente de um só fator, mas de todas as consequências e incertezas causadas pela pandemia, tanto relacionadas a saúde – ficar doente, contaminar alguém e até mesmo da morte – assim como aquelas relacionadas aos aspectos econômicas, como perda de renda e desemprego.
Observou-se que 80% dos que haviam sido demitidos entre março e maio de 2020 estavam mais inseguros, sendo 33% muito mais inseguros. Entre os que tiveram dispensa temporária (suspensão do contrato), 81% se sentiam mais inseguros. Já entre os que estavam trabalhando e não tinham sofrido nenhuma alteração na rotina, o percentual foi de 58%. Portanto, pode-se afirmar que a instabilidade econômico-financeira é um forte fator para maior insegurança.
No mesmo maio, a Organização das Nações Unidas (ONU) já destacava a necessidade urgente de aumentar investimentos em serviços de saúde mental durante a pandemia da Covid-19. Conforme afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), “o impacto da pandemia na saúde mental das pessoas já é extremamente preocupante”. Ele ressaltou que “o isolamento social, o medo de contágio e a perda de membros da família são agravados pelo sofrimento causado pela perda de renda e, muitas vezes, de emprego”. Especialistas apontam que as doenças mentais serão a quarta onda da pandemia, no entanto, o estudo que conduzi em parceria com o Instituto Bem do Estar comprova que essa “onda” já está entre nós; e ela constitui um verdadeiro tsunami.
Passados seis meses da primeira fase do mapeamento Saúde da Mente & Pandemia, o Brasil atingiu desemprego recorde, com 13,8 milhões de pessoas desempregadas. O dado é da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Mensal (PNAD Contínua), divulgados em 30 de outubro, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mostra taxa de 14,4% de desempregados. Análises publicadas pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) demostram que a desigualdade no acesso a direitos básicos como saúde, saneamento e trabalho tornam a periferia e suas populações mais vulneráveis e afetadas de forma mais grave à pandemia da Covid-19. A ideia que o vírus atinge a todos é real, mas seus efeitos podem ser muito diferentes, conforme afirmou a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima: “a capacidade de proteção e de resposta a isso é diferente num país desigual como o nosso”.
As consequências são muitas, e entre elas os efeitos na saúde mental da população brasileira. A OMS, novamente em outubro, alertou sobre a necessidade de mais recursos financeiros serem destinados para a saúde mental, à medida que a pandemia continua com uma demanda ainda maior de programas direcionados na área. Estimativas pré-covid-19, destacadas também pela entidade, revelam que cerca de US$ 1 trilhão em produtividade econômica é perdido anualmente apenas com a depressão e a ansiedade; em contrapartida, a cada US$ 1 gasto em cuidados, US$ 5 retornam para a sociedade.
A segunda fase do mapeamento Saúde da Mente & Pandemia pretende levantar dados sobre os efeitos dessa nova realidade em que vivemos, mas já com as consequências econômicas e os efeitos de mais de oito meses da pandemia na saúde mental dos brasileiros, para continuar a gerar informações, de forma consistente e precisa. Além disso, diante desse novo contexto, pretende-se focar na população economicamente ativa, na juventude e nas periferias.
O projeto seguirá até janeiro de 2021 com o mapeamento final – Sociedade de Vidro na Pandemia, o qual contará com a comparação dos dados levantados e uma análise propositiva do impacto do isolamento social na saúde da mente, possibilitando apoiar iniciativas direcionadas ao setor e assim contribuir com a sociedade. Para participar da pesquisa e saber mais sobre o projeto, basta acessar www.bemdoestar.org/pesquisa-sade-da-mente-e-a-nova-realidade.
Quer colaborar? Se você tem uma empresa, escola ou um projeto social e quer colaborar com o estudo – divulgando aos colaboradores e estudantes –, envie um e-mail para mobilizando@bemdoestar.org
Juliana Vanin é economista formada pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduada em Finanças pelo Insper. Especialista em Pesquisa de Mercado, Inteligência de Negócios, Planejamento Financeiro e Estratégico, fundou, em 2015, a NOZ com o objetivo de unir conhecimentos de Economia Comportamental, Pesquisa, Planejamento Estratégico, Financeiro e de Marketing.