Numa tarde chuvosa e fria de inverno, saindo apressado de uma cafeteria no centro da cidade, Danilo deparou-se com uma cigana, que o interpelou com a intenção de ler à sua mão. Pessoa incrédula, no sentido de não ter a curiosidade ou receio em saber o que poderá advir no futuro, no tocante a adivinhações, continuou andando sem dar atenção à cigana.
Mas ela insistiu – Não fuja do seu destino! Uma bruxinha lhe espera! Pensando no que ela estaria querendo dizer, quando se referiu a uma bruxinha à sua espera, ficou visivelmente encabulado. Mesmo à contra gosto, permitiu-lhe que lesse à sua mão. De imediato ela foi dizendo – Vejo nas linhas de suas mãos, que em breve, uma bruxinha vai cruzar o seu caminho. Como um vento arrebatador entrando através de uma janela.
Diante de tal previsão, Danilo a interrompeu, considerando a previsão, de certo modo, de mal gosto. Procurando ser gentil, agradeceu-lhe, tirou do bolso algumas moedas, entregou-lhe e foi saindo apressado. A cigana o olhou fixamente, sorriu com um ar de mistério e lhe disse – Não se esqueça! Uma linda e cativante bruxinha!
Visivelmente encabulado com as palavras da cigana, que ficaram ressoando em sua cabeça, Danilo seguiu o seu caminho. Devido à sua rotina de trabalho e de estudos, o assunto em questão, acabou se desanuviando de sua cabeça. Passado algumas semanas, ao procurar por uma vaga no estacionamento de um shopping, observou que uma jovem ao sair do seu carro, deixou cair algo da sua bolsa.
Por ter estacionado seu carro próximo ao dela, recolheu o objeto, que se tratava de uma pequena agenda e foi ao seu encontro, no intuito de alcançá-la. Agradecida e devidamente apresentados, Tainá perguntou – Você também veio ao shopping fazer compras? Não! Respondeu Danilo. Na realidade, eu vim apenas passear.
Como que sem jeito, em pedir-lhe um favor, Tainá arriscou – Eu vim comprar um presente para uma amiga, que vai fazer aniversário. Se for possível, você não faria a gentileza de acompanhar-me pelo shopping e ajudar-me a escolher o presente? Confesso que estou sem saber exatamente o que comprar para uma adolescente. Sua opinião, com certeza vai me auxiliar na escolha.
Surpreso com o pedido, Danilo respondeu que sim e lá foram os dois conversando e olhando as vitrines das lojas e trocando opiniões sobre o que comprar para uma jovem que completaria apenas dezesseis anos. Andando pelos corredores, depois de passarem em frente à diversas e variadas lojas, decidiram entrar em uma relojoaria.
Não foi difícil encontrar algo, a ponto da atendente da loja dizer – Seu namorado tem bom gosto! Esta gargantilha é linda! Diante do comentário, ela olhou para ele e sorriu. Saindo da loja, Danilo à convidou para tomar um café. Sentados na praça de alimentação, conversando amistosamente, Danilo percebeu que Tainá transmitia uma magia especial.
Sua expressão, sua delicadeza, sua voz, seu perfume, seu olhar, tudo o impressionava, a ponto de se lembrar da previsão da cigana – Uma bruxinha vai cruzar o seu caminho! A conversa entre os dois, prosperou a tal ponto, de Tainá convidá-lo para acompanhá-la na festa de aniversário de sua amiga. Intrigado com certas evidências e hipnotizado com seu charme, não resistiu e aceitou o convite.
Ao chegar em sua casa à noite para buscá-la, Tainá o convidou para entrar. Na sala, sentado no sofá, esperando que ela terminasse de se aprontar, Danilo percebeu sobre os móveis e na parede da sala, alguns símbolos esotéricos, como a Cruz Egípcia, a Estrela de Davi, a Lua Tripla, o Olho de Hórus e outros símbolos. Quando Tainá voltou, perguntou-lhe – Você é esotérica? Sim! Mas não estou me referindo à prática de bruxaria. As pessoas consideram o esoterismo enigmático, como sendo uma prática baseada apenas em fenômenos sobrenaturais. No entanto, mesmo que as aparências demonstrem o contrário, há uma ordem que rege todos os fenômenos, como por exemplo, a sucessão do dia pela noite. Entrelaçando assim, ao mesmo tempo, o natural com o sobrenatural.
Mesmo submergido num cenário confuso de ideias, tentando distinguir o que era real do que era fictício, Danilo, não se furtou de acompanhá-la, diante do compromisso assumido. Um ambiente agradável, pessoas carismáticas, relacionamento amigável e entre vários assuntos, o esoterismo predominava nas rodinhas de bate-papo. Quase ao final da festa, ao som da música “Segredos” interpretada por Roberto Frejat, o casalzinho se rendeu a um beijou. Um beijo romântico e ao mesmo tempo enigmático, desses que acontecem de forma involuntária, selando talvez, o inicio de um namoro promissor, rodeado de mistérios.
De volta a casa de Tainá, trocaram um selinho e se despediram, na certeza de que novos encontros aconteceriam, sendo desnecessário tentar desvendar o que suas vozes, gestos e olhares queriam dizer, pois era evidente, que ambos estavam descobrindo o mistério que envolve o sabor e a doçura do amor.Passado alguns dias, saindo apressado da cafeteria, Danilo se deparou novamente com a cigana, que o havia interpelado recentemente. Antes que pudesse falar alguma coisa, ela foi dizendo – Eu lhe avisei! Você apenas não esperou eu dizer de que forma, essa bruxinha iria cruzar o seu caminho. Dizendo isto, desapareceu misteriosamente.
Coincidência ou não, do céu descia um chuvisqueiro, acompanhado de um vento gelado, em mais um dia frio de inverno.

Carlos R. Ticiano

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Um amor de bruxinha