A coleta seletiva de lixo é uma realidade distante em Marília. O poder público ainda não iniciou um programa para fazer o serviço, mas promete a implantação a partir de 2021.
“Os bairros abrangidos hoje são selecionados pelas cooperativas organizadas. Estudos estão em andamento para busca de recursos e implantação da coleta oficial já em 2021”, declarou Vanderlei Dolce, secretário municipal do Meio Ambiente e Limpeza Pública.
Enquanto isso, Marília joga dinheiro fora destinando resíduos ao aterro sanitário de Quatá, riqueza que poderia gerar renda.
Um custo duplo, já que também se paga combustível para fazer o transbordo dos resíduos – Quatá fica a 100 quilômetros de Marília. Ao todo, entre 230 e 240 toneladas por dia de lixo doméstico são destinadas ao aterro, uma riqueza que, literalmente, está sendo jogada no lixo e degradando o meio ambiente.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, o tempo de decomposição dos materiais recicláveis varia de 6 meses (papel) até mais de 1 mil anos (vidro) – leia mais no quadro.

Prioridade
O secretário reforça que, após a implantação do tratamento de esgoto, a coleta e reciclagem dos resíduos sólidos urbanos passam a ser prioridade.
“Temos um Ecoponto na zona sul, que já recebe materiais recicláveis, e outros três Ecopontos estão previstos para funcionar em 2021. O apoio às cooperativas será intensificado, em promoção à inclusão social. Além da segregação dos recicláveis, estamos elaborando projeto para realização da compostagem, que será utilizada em hortas comunitárias e hortas escolares”, afirmou.
Marília está na lista dos 33% dos municípios paulistas que não fazem coleta seletiva no Estado, segundo levantamento feito pelo TCE-SP (Tribunal de Contas do Estado de São Paulo).
A quantidade de lixo reciclada por dia hoje em Marília é irrisória, produto de iniciativas pontuais, como a Cotracil (Cooperativa de Trabalho Cidade Limpa), a Recicla Marília e a Reciclart Coleta Seletiva.
A prefeitura sequer dispõe de dados oficiais sobre o percentual de lixo que é reciclado hoje em Marília por meio dessas iniciativas.
“Não temos os dados com precisão, haja vista o número de informais que coletam anonimamente. Estes informais receberão cadastramento, caso se interessem, e passarão a fazer parte de cooperativas apoiadas pelo poder público”, afirmou o secretário.

Modelo ideal
Especialista em resíduos sólidos, a docente da USP Sonia Valle Borges de Oliveira explica que a falta de uma coleta seletiva gera perdas sociais e ambientais.
“Redução da possibilidade de renda para os mais carentes, diminuição da vida útil dos aterros com materiais de difícil decomposição, poluição e o uso de combustível para transporte desnecessário de recicláveis”, lista.
Segundo a docente da USP, o melhor modelo de coleta seletiva para uma cidade não é o 100% feito de porta em porta com todo o custo para a agente público.
“Esse trabalho deve ser dividido com a população: Ecopontos de coleta que o cidadão leve os recicláveis até eles e de lá, não só o serviço público, mas também iniciativas privadas, com parcerias público-privadas, fariam o ciclo a partir dos Ecopontos, encaminhando para cooperativas e centrais de triagem”, conclui.