Aos 31 anos, Patrícia Gonçalves era considerada legalmente cega, uma definição usada para identificar pessoas com perda de visão grave, mesmo que não sejam totalmente cegas. Nos Estados Unidos, o termo legal aplica-se a alguém cuja capacidade para ver detalhes a uma certa distância seja de 20/200 ou pior no olho com melhor visão, mesmo com uso de óculos ou lentes de contacto.
Para ter alguma noção, uma pessoa com visão normal consegue ver até cerca de 60 metros, enquanto uma pessoa legalmente cega só consegue ver até aproximadamente seis metros. No caso de Patrícia Gonçalves, que concluiu um mestrado na Universidade de Oxford, era legalmente cega sem óculos devido a uma combinação de astigmatismo e miopia extrema.
No entanto, segundo o “The Telegraph”, graças à LASIK (Laser-Assisted in Situ Keratomileusis), um tipo de cirurgia a laser que surgiu nos anos 1990, mas que foi agora combinada com Inteligência Artificial (IA), Patrícia tornou-se a primeira pessoa no Reino Unido a ser submetida a uma intervenção que promete oferecer aos doentes uma visão ainda melhor do que teria em condições habituais. A portuguesa passou a ter uma visão de 20/16, que é melhor do que 20/20, a referência para a visão considerada normal.
Programa de IA
O procedimento implicou a digitalização dos seus olhos e a criação de um clone digital dos globos oculares da paciente. A seguir, um programa de IA fez várias experiências com a réplica digital até conseguir criar um processo personalizado para tratar a visão de Patrícia Gonçalves.
A intervenção cirúrgica, realizada na clínica privada Focus Clinics, em Londres, foi conduzida pelo cirurgião David Allamby. “Patrícia usa óculos desde os cinco anos, é legalmente cega sem óculos e não consegue ver a enorme letra ‘E’ no topo da tabela do teste de visão”, explicou o especialista ao jornal inglês.
“A sua melhor visão antes da operação era pior do que 20/200 e com óculos era apenas 20/20. Hoje, consegue ver 20/16, ou seja, melhor do que 20/20, e ganhou mais uma linha na tabela de testes”, acrescentou.
A Eyevatar, uma tecnologia de clones digitais, demora cerca de dez minutos a analisar o olho e a recolher dados antes de um computador emitir cerca de dois mil feixes laser diferentes para analisar qual terá o melhor impacto na visão.
Pacientes com outros problemas também podem ganhar uma “super visão” graças à primeira cirurgia ocular personalizada do mundo. A tecnologia inovadora, realizada pela primeira vez no Reino Unido este mês, cria um clone digital em 3D dos olhos de um paciente.
O tratamento é adaptado para atender às necessidades específicas do paciente, alcançando melhores resultados do que com cirurgias refrativas a laser.
O clone digital, denominado ‘Eyevatar’, duplica a forma como o paciente enxerga. Isso permite que os cirurgiões operem virtualmente e aperfeiçoem os resultados.
Surpreendentemente, os ensaios sugeriram que o tratamento — que custa 6.500 libras (cerca de R$ 48 mil) para ambos os olhos — pode resultar em uma visão melhor do que a normal. Ou seja, o tratamento pode fazer com que os olhos identifiquem a forma e o contorno dos objetos e distinguam detalhes finos sem a necessidade dos óculos.
Os primeiros resultados sugeriram que também a cirurgia pode melhorar a visão noturna – algo nunca visto antes em cirurgias oculares a laser.
Ele acrescentou: “A tecnologia está em desenvolvimento há quase 20 anos e é um grande avanço. Isso significa que agora podemos realizar a cirurgia virtualmente e tratar seus olhos muitas vezes dentro do computador antes para refinar e remover desvios.”
Revista D Marília
Fonte: CNN Portugal. Por Sônia Ramalho