Segundo a Agência Espacial Europeia, ao menos três satélites ou grandes partes de foguetes caem na Terra todos os dias

Representação artística elaborada com Inteligência Artificial de satélites destruídos pela reentrada na atmosfera caindo no mar. Crédito: Flavia Correia via DALL-E/Olhar Digital

Todos os dias, pelo menos três satélites desativados ou partes grandes de foguetes caem na Terra. Os dados foram divulgados no início do mês no novo Relatório do Ambiente Espacial, elaborado anualmente pela Agência Espacial Europeia (ESA), que monitora o aumento do lixo gerado pelas atividades humanas em órbita.

Embora muitos desses objetos queimem ao entrar na atmosfera, a quantidade total de fragmentos ao redor do planeta só cresce. Em 2024, mais de 1.200 satélites ou partes de foguetes caíram na Terra. Além disso, há milhares de pequenos pedaços de lixo espacial circulando em altíssima velocidade.

Em resumo:

  • Em 2024, houve mais de 1.200 reentradas de satélites e pedaços de foguete na atmosfera da Terra;
  • Isso significa que, em média, três pedaços grandes de lixo espacial caem no planeta;
  • A maioria vem de megaconstelações como a Starlink, cujos satélites são trocados a cada cinco anos;
  • A queima desses objetos libera poluentes que afetam a camada de ozônio e o clima;
  • Enquanto isso, milhões de fragmentos continuam em órbita;
  • Mesmo com medidas de controle, o acúmulo de detritos ameaça a segurança das atividades espaciais.

Mais de 46 mil fragmentos de detritos espaciais com mais de 10 cm de largura transitam na órbita da Terra neste momento. Crédito: ESA

Existem quase 10 mil satélites ativos em órbita

No total, existem mais de 45 mil objetos maiores que 10 centímetros orbitando o planeta. Muitos são restos de colisões, explosões ou satélites antigos que já não funcionam. Só neste ano, foram adicionados ao ambiente orbital mais de três mil fragmentos rastreáveis. Também aumentou o número de satélites ativos: já são cerca de 9.300.

Em entrevista ao Space.com, o astrofísico Jonathan McDowell, referência mundial no monitoramento de detritos espaciais, disse que só no dia 4 de abril, três objetos reentraram na atmosfera: dois satélites Starlink, da SpaceX, e um satélite militar russo lançado em 1981. McDowell afirma que os satélites da constelação Starlink já são a maioria dos objetos que retornam atualmente – tendência que deve crescer.

A SpaceX planeja lançar até 30 mil satélites Starlink. Se isso acontecer, poderemos ter cerca de 15 reentradas por dia. Outras empresas, como a Amazon, e países como a China também estão investindo em megaconstelações.

Esses equipamentos costumam ser substituídos por modelos mais modernos a cada cinco anos. Após esse período, são desorbitados para queimar na atmosfera e não se tornar lixo espacial. Mas, mesmo com essa cautela, o aumento de reentradas traz novas preocupações.

Representação artística elaborada com Inteligência Artificial de um satélite destruído pela reentrada na atmosfera caindo no mar. Crédito: Flavia Correia via DALL-E/Olhar Digital

Reentrada de lixo espacial prejudica camada de ozônio

Um grave problema é que muitos desses satélites são feitos de alumínio, que se transforma em óxido de alumínio ao queimar na atmosfera. Esse composto pode prejudicar a camada de ozônio, que protege a Terra dos raios ultravioletas do Sol. Ele também pode afetar a temperatura nas camadas superiores da atmosfera.

A professora Eloise Marais, química atmosférica da University College London, na Inglaterra, alerta que estamos entrando em “território inexplorado”. Segundo ela, as reentradas estão liberando mais poluentes metálicos e óxidos de nitrogênio do que nunca. “Esses poluentes contribuem para a destruição do ozônio e podem alterar o equilíbrio climático”.

Uma equipe liderada por Marais está criando um inventário para medir a poluição causada por lançamentos e reentradas. O objetivo é entender melhor os impactos dessas partículas metálicas e prever possíveis consequências a longo prazo.

Outro risco crescente é o de que partes desses objetos não queimem totalmente e cheguem ao solo. A maioria dos satélites é projetada para se desintegrar ao reentrar, mas nem sempre isso acontece. O satélite russo Kosmos 1340, por exemplo, que caiu em 4 de abril deste ano, tinha cerca de 2,5 toneladas, e alguns pedaços podem ter sobrevivido à queda.

Lixo espacial é um problema crescente
Representação artística do trânsito orbital intenso de lixo espacial em torno da Terra. Crédito: Frame Stock Footage / Shutterstock

Embora a chance de que esses fragmentos atinjam alguém seja pequena – já que a maior parte da Terra é oceano ou deserto – incidentes recentes mostram que o risco existe.

Em fevereiro de 2024, pedaços queimados de um foguete Falcon 9 caíram na Polônia e na Ucrânia. Em março, um fragmento de metal de 10 centímetros perfurou o telhado de uma casa na Flórida, nos EUA. O pedaço vinha de uma estrutura de baterias descartada da Estação Espacial Internacional (ISS) em 2021.

“Estamos jogando os dados toda vez que temos uma reentrada”, disse McDowell. “Mais cedo ou mais tarde, alguém pode se machucar”.

“Trânsito orbital” está cada vez mais perigoso

Mesmo com os esforços das empresas para conduzir reentradas controladas, o relatório da ESA alerta que ainda há muitos objetos deixados em órbita. Isso aumenta o risco de colisões, que geram novos fragmentos.

Segundo a agência, mesmo que 90% das espaçonaves sejam removidas de forma adequada, a quantidade de detritos ainda continuará a crescer. Isso porque os fragmentos resultantes de colisões anteriores permanecem por muito tempo em órbita.

Na chamada órbita baixa da Terra (LEO), onde está a maioria dos satélites, o número de objetos ativos já se aproxima da quantidade de lixo espacial. Isso torna o “trânsito orbital” mais perigoso, com maior risco de choques.

Além dos objetos grandes, monitorados por telescópios e radares, existem milhões de fragmentos menores. Estima-se que haja mais de um milhão com tamanho entre um e 10 centímetros, e mais de 130 milhões ainda menores. Apesar do tamanho, esses detritos viajam a velocidades altíssimas e podem causar danos severos a espaçonaves.

O desafio agora é encontrar soluções para frear esse crescimento. Agências espaciais e empresas estão estudando tecnologias para remover lixo do espaço, como braços robóticos, redes e até lasers.

O futuro da exploração espacial depende de um ambiente orbital mais seguro. Caso contrário, o acúmulo de lixo pode tornar certas órbitas inutilizáveis, dificultando comunicações, navegação, observação da Terra e missões científicas.

Fonte: Olhar Digital

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