Pesquisadores reprogramam células humanas para se adaptarem a válvulas cardíacas de porcos usadas em transplantes
O transplante de órgãos de animais para humanos alcançou um novo avanço. Em um estudo, células humanas foram reprogramadas para se tornarem compatíveis com uma válvula cardíaca de porco — um mecanismo que controla o fluxo sanguíneo. Essa parte do coração do animal foi transplantada com sucesso para um roedor durante experimentos conduzidos por cientistas da Northeastern University.
A técnica, que consiste em “semear” tecido humano em órgãos de animais, não utiliza vírus nem células-tronco e pode ser aplicada em outras partes do corpo no futuro. Detalhes da pesquisa foram publicados na revista Bioactive Materials.
As limitações do transplante de válvula cardíaca
Em casos extremos, quando as válvulas do coração não funcionam corretamente e causam problemas como obstrução e insuficiência cardíaca, é necessário realizar a substituição cirúrgica.
Atualmente, existem válvulas bioprotéticas ou mecânicas que podem substituir as válvulas danificadas. No entanto, essas soluções têm limitações, especialmente em pacientes em crescimento. Como os dispositivos não podem se expandir, em alguns casos, é necessário realizar múltiplos transplantes ao longo da vida.
As válvulas aórticas de porcos, estruturalmente semelhantes às humanas, são uma solução promissora, mas nosso corpo tende a rejeitá-las. Pesquisadores encontraram uma forma de resolver esse problema.
Nova abordagem reprograma células humanas
- O primeiro passo para tornar uma válvula suína compatível com humanos é reprogramar células adultas da pele.
- Os cientistas usaram ambientes mecânicos e químicos para transformar as células da pele humana em tecido de válvula cardíaca.
- O próximo passo foi “descelularizar” a válvula de porco, ou seja, remover suas células sem afetar sua estrutura.
- Depois, a válvula “descelularizada” recebeu as células humanas reprogramadas. A terceira fase consistiu em transplantar a estrutura, neste caso, de um porco para um rato imunocomprometido.
- A válvula transplantada durou dois meses, o que equivale a cerca de 5 anos humanos, e todo o processo de preparo da estrutura cardíaca levou 20 dias.
Alternativa de transplante mais segura
Um dos principais benefícios do novo método é que ele não utiliza vírus para adaptar o órgão, tornando-o uma alternativa mais segura para transplantes. Ning Wang, professor de bioengenharia na Northeastern, explica:
Sabemos que o uso de vírus pode causar infecção. Mesmo vírus que não causam infecção grave ainda podem gerar tumores.
Ning Wang em comunicado da Northeastern Global News.
Além disso, os cientistas não reprogramaram as células da pele em células-tronco, o que, segundo Wang, poderia gerar tumores. Em vez disso, modificaram-nas diretamente em células da válvula cardíaca.
A técnica mostrou-se altamente eficiente, podendo reprogramar 1 milhão de células em 66 milhões. O próximo passo é testá-la em animais mamíferos maiores e, eventualmente, em humanos.
Fonte Olhar Digital