Divulgação / American Zoetrope

Desde os primeiros momentos de “O Estranho que Nós Amamos”, o espectador é inundado por uma série de sentimentos contrastantes, alguns mais suaves e outros quase brutais. O papel de Sofia Coppola é central, conduzindo o projeto com sua visão única e sensível, capaz de explorar profundamente a psique humana, especialmente a feminina.

Coppola se depara com a complexa narrativa de John McBurney, um cabo do Exército da União ferido durante a Guerra Civil Americana (1861-1865) e que, em um ato de desespero, deserta do 66º Regimento. A adaptação de “The Beguiled”, romance de Thomas P. Cullinan de 1966, é suavizada por Coppola, mas ela mantém a essência moralmente ambígua dos personagens, como também foi visto na versão de 1971 dirigida por Don Siegel.

Em 1864, na Virgínia, Amy, a mais jovem interna do internato feminino administrado por Martha Farnsworth, encontra McBurney gravemente ferido sob um salgueiro-chorão e decide levá-lo para casa. A interação entre Oona Laurence e Colin Farrell é tocante, e a fotografia de Philippe Le Sourd, com seu uso magistral de luz e sombra, adiciona uma atmosfera sombria à cena. A jornada de McBurney até a propriedade, com a ajuda de Amy, esgota suas últimas forças, e ele chega quase morto aos pés da tutora, interpretada por Nicole Kidman, que é chamada às pressas pela jovem Laurence.

Kidman, com sua habilidade de revelar as múltiplas camadas de seus personagens, combina elementos de suas performances anteriores em “Os Outros” (2001) e “Dogville” (2003). Kirsten Dunst, uma colaboradora frequente de Coppola, interpreta Edwina, um raio de luz em um ambiente dominado pelo silêncio e ordem femininos. A tensão aumenta à medida que Edwina e Alicia, a provocante personagem de Elle Fanning, começam a competir pela atenção de McBurney.

Coppola dirige o filme de forma a destacar a complexidade moral de todos os personagens, conferindo a “O Estranho que Nós Amamos” um ar de tragédia romântica reminiscentes de Giovanni Boccaccio ou Gregório de Matos. A reviravolta no clímax do filme revela as contradições escondidas no mais profundo de cada personagem. A resolução encontrada por Farnsworth para lidar com McBurney pode causar um misto de alívio e desconforto, refletindo a natureza dual do ser humano, ao mesmo tempo bendita e diabólica.

Filme: O Estranho que Nós Amamos
Direção: Sofia Coppola
Ano: 2017
Gêneros: Drama/Suspense
Nota: 9/10

Por Helena Oliveira da Revista Bula

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