Sob curadoria de Héloïse Conesa e Marly Porto desde 2022, a coleção iniciou em 2019 sob a impulsão de Denise Zanet, empreendedora brasileira vivendo na França já há mais de 30 anos
Crédito: Isis Medeiros
A Bibliothèque Nationale de France (BnF), em Paris, celebra a fotografia brasileira, criando « Un fonds photographique brésilien à la BnF » , testemunha da diversidade, rigor e talento dos fotógrafos contemporâneos no país. A coleção chega ao fim de 2024 com 60 fotógrafos e 727 fotografias, números que fazem desta, uma das maiores coleções públicas fora do Brasil.
A curadoria, assinada por Héloïse Conesa, Ricardo Fernandes (2019 à 2021) e Marly Porto busca evidenciar o atual cenário de produção fotográfica brasileira e os diferentes aspectos de um país com dimensões continentais, contemplando aspectos como: abrangência nacional, questões ambientais, ecologia, história e releitura da história, decolonialidade, diversidade cultural, comunidades periféricas, técnicas e processos expandidos do fazer fotográfico.
“Trabalhamos para que os fotógrafos brasileiros ocupem cada vez mais o seu lugar dentro do cenário artístico internacional”, afirma Marly Porto.
A coleção de fotografias da Bibliotèque nationale de France é fruto de uma longa história que começou com o nascimento dos primeiros processos fotográficos. Hoje, conta com aproximadamente 10 milhões de imagens de mais de 15.000 fotógrafos que viveram desde meados do século XIX, contemplando toda sua pluralidade: fotojornalismo (Robert Capa, Gilles Caron, Marc Riboud, Annette Léna, Jean-Philippe Charbonnier, Henri Cartier-Bresson, René Burri, Raymond Depardon, Martine Franck, Gilles Peress James), moda (Guy Bourdin, Helmut Newton), retratos (Isabelle Waternaux, Florence Chevallier), paisagens (Missão fotográfica da DATAR, Thibaut Cuisset), além dos pioneiros do século XIX (Niépce, Nadar, Le Gray, Disdéri, Atget…). Já a coleção de fotografias brasileiras conta em seus arquivos um vasto conjunto de autores (Boris Kossoy, Sebastião Salgado, Miguel Rio Branco, Nair Benedicto, Regina Vater, Cássio Vasconcellos, Carlos Freire…) e enriqueceu de forma substancial nos últimos cinco anos graças ao mecenato oferecido por Denise Zanet.
“A escolha da BnF como instituição acolhedora desta coleção vem da vontade de afirmar o talento da cena fotográfica brasileira no âmbito internacional. É nesta continuidade que nós criamos este ano, a primeira residência para fotógrafos brasileiros na França: com a Aliança Francesa do Brasil e a BnF, Caio Rosa será o primeiro premiado a beneficiar desta bolsa que comporta um bilhete de avião, moradia, apoio logístico, a entrada na coleção e uma dotação de 6 mil euros. Eu tenho uma grande ambição para esta residência que desejo acontecer todos os anos, com o apoio de grandes instituições : o Institut de France, a Cité Internationale des Arts, Air France e o Réseau Diagonal que colabora com a logística e movimento do fotografo durante a residência.», afirma Denise Zanet.
A coleção Un fonds photographique brésilien à la BnF chega com o objetivo de preservar e celebrar a arte fotográfica brasileira fora do país, apresentando um período abrangente da história nacional: dos anos 1970 até a atualidade. Composta por um conjunto de obras de renomados fotógrafos brasileiros como Bob Wolfenson, Cristiano Mascaro, Mario Cravo Neto (1947-2009), Rogério Reis, Rosângela Rennó, Vik Muniz e Claudia Jaguaribe, e talentos emergentes como Rogério Vieira, Luiz Baltar, Tanara Stuermer e Roberta Sant’Anna.
“Trata-se de uma das maiores coleções públicas de fotografia brasileira fora do Brasil, não apenas pela quantidade, mas, principalmente, pela singularidade da seleção das imagens, cujos critérios envolvem abrangência geográfica e histórica, pertinência do ensaio, relevância estética do trabalho do artista, diversidade temática, entre outros”, destaca Marly Porto.
No acervo, encontramos fotografias de populações marginais representadas por imagens de povos originários (Valdir Zwetsch e Ana Mendes), de comunidades afrodescendentes (Júlio Bittencourt e Robério Braga), de gênero (Rosa Gauditano e Élle de Bernardini) e de populações que vivem na pobreza ou periferia das grandes cidades (Luiz Baltar). Imagens que promovem a reflexão crítica sobre questões sociais (Marcos Prado e Márcio Vasconcellos), políticas (Yan Boechat) e ambientais (Raphael Alves). Já as belezas naturais do Brasil podem ser vistas na produção autoral de Ricardo de Vicq, Claudio Edinger e Roberto Linsker. Sobre ações ligadas aos campos da pesquisa de imagens, historicidade, vivências comunitárias, preservação de memória oral e visual as fotografias são de João Mendes e Afonso Pimenta (Retratistas do Morro).
Enquanto releituras de obras como a do fotógrafo teuto-brasileiro Alberto Henschel podem ser vistas no ensaio de Fernando Banzi, no qual ele traz novas cores, camadas e texturas ressignificando a questão histórica e estrutural relacionada à população negra brasileira. Processos fotográficos expandidos como os apresentados nos trabalhos de Cris Bierrenbach e Bianca Dacosta, se juntam também à coleção e demonstram a potência e a criatividade da fotografia brasileira contemporânea. Cada obra é uma janela para narrativas profundas e complexas, capturadas através de lentes habilidosas que transmitem tanto documentação quanto expressão artística. Por meio da iniciativa, a BnF visa não apenas preservar a memória visual do Brasil, mas também fomentar um diálogo internacional sobre questões essenciais, como identidade, meio ambiente e justiça social.
A coleção não só enriquece o acervo da BnF, mas também reforça seu compromisso com a diversidade cultural e artística global. Fundada em 1530, a Bibliotèque Nationale de France é uma instituição pública de prestígio mundialmente conhecida por um acervo inestimável e pela preservação da história e cultura. A inclusão da coleção brasileira reafirma seu papel como guardiã da memória visual global.