Além das fakes News, outro fenômeno está mobilizando a equipe de inteligência da Polícia Federal de Marília para as eleições municipais em outubro deste ano. A “Deep Fake” usa inteligência artificial para fazer montagens com pessoas públicas, como celebridades e políticos, substituindo rostos e vozes em vídeos que confundem internautas.
O delegado José Navas Junior revelou detalhes sobre a mudança da atuação da Polícia Federal de Marília durante o período eleitoral. “Nós trabalhávamos com prevenção, orientando os candidatos sobre o que era permitido e o que configurava crime eleitoral. O advento da internet mudou nossa atuação, sendo ela uma plataforma eleitoral gigantesca”, explica.
A evolução digital permitiu mais acesso e, de certa maneira, democratizou o conhecimento. No entanto, a ferramenta aumentou a frequência de crimes na rede, como a Fake News. As notícias falsas são criadas para persuadir leigos na internet e prejudicar grupos adversários, na maioria dos casos políticos.
“Como se não bastasse o caos que já era a internet, agora temos que lidar com o Deep Fake”, relata Navas. “São aplicativos muitas vezes domésticos que trocam os rostos de pessoas em vídeos, com direito a sincronização de movimentos labiais, expressões e tudo mais”.
Neste ano, a Polícia Federal já conta com uma equipe especializada de policiais e servidores capacitados para identificarem os crimes realizada na internet. O efetivo estará em alerta ao conteúdo disparado na internet durante as eleições municipais do Brasil.
Questionado sobre detalhes de como ocorre esse acompanhamento, o delegado Navas manteve em sigilo as ferramentas utilizadas pela Polícia Federal. “Exatamente como é feito, vou ficar te devendo as informações [risos]. Se não eu vou contar como nós trabalhamos”, finalizou.
Como o delito é bastante recente, o crime ainda não está previsto no Código Penal Brasileiro, porém a Polícia Federal costuma enquadrar as ações como falsidade ideológica e estelionato, por exemplo. A pena varia de um a cinco anos de prisão em regime fechado e multa.
FAZER JUSTIÇA COM A JUSTIÇA
A Polícia Federal conta com alta tecnologia utilizada na prevenção e repressão de crimes eleitorais. Apesar da modernidade, uma das barreiras para atuação da polícia é a própria Legislação Brasileira, que permanece desatualizada.
Em entrevista ao jornal D Marília, Navas foi indagado se a Justiça Brasileira é lenta. “Vamos fazer Justiça com a Justiça. A Justiça age no tempo que a Legislação permite que ela aja. Eu estaria sendo leviano se eu dissesse que a Justiça é tardia. Ela não tarda e sim utiliza o tempo da nossa Legislação, que precisa ser aperfeiçoada!”, destaca o delegado.
“Nós precisamos de métodos mais eficazes, tanto para a Justiça quanto para a Polícia, para chegarmos nos infratores e efetivamente conseguirmos aplicar nossos métodos, a nossa tecnologia”, explica. “Muitas vezes não conseguimos aplicar há tempo ou não conseguimos aplicar porque não tem a previsão legal para isso. Eu diria melhor ainda, não é nem a Justiça ou a polícia, nós precisamos modernizar o próprio sistema”, complementou Navas.
O chefe da Polícia Federal de Marília revela que, apesar da eficiência do setor de inteligência da unidade, a falta de legislação impede uma repressão ostensiva contra a criminalidade.
“Nenhum juiz em sã consciência quer atrasar, procrastinar ou se furtar de uma medida. Assim como também nenhum delegado, promotor ou procurador. Infelizmente o sistema precisa evoluir muito. Ficamos muito travados. Muitas vezes temos tecnologia e conseguiríamos fazer algo com a tecnologia que nós temos, mas não há previsão legislativa para usar e assim não conseguimos utiliza-la”, declarou o delegado.