Créditos: depositphotos.com / VadimVasenin

A seca que atinge o Brasil em 2024 é a maior dos últimos 44 anos, segundo o levantamento do Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden) solicitado pelo g1. Essa estiagem, que já se prolonga por 12 meses, está causando prejuízos significativos na agropecuária brasileira, especialmente para pequenos produtores que não possuem sistemas de irrigação eficientes.

A agricultura familiar, que responde por cerca de 70% do alimento que chega às mesas dos brasileiros, é a mais impactada. A falta de chuvas não só compromete a produção como também favorece a proliferação de incêndios, prejudicando ainda mais o setor agrícola em regiões como São Paulo, onde lavouras de cana-de-açúcar já foram severamente afetadas.

Como a seca afeta o preço do feijão, da carne bovina e da laranja?

O aumento nos preços de alimentos como a carne bovina, o feijão e a laranja é uma consequência direta da estiagem prolongada. Neste artigo, exploramos como a seca afeta esses produtos essenciais e o impacto esperado para os consumidores brasileiros.

A seca e o aumento do preço do feijão

A produção de feijão carioca, o mais consumido no Brasil, está sofrendo com a escassez de chuvas. Segundo Marcelo Lüders, presidente do Instituto Brasileiro de Feijão e Pulses (Ibrafe), cerca de 8 das últimas 10 safras foram perdidas devido à estiagem. A curta duração do ciclo de cultivo do feijão, em torno de 70 dias, faz com que até mesmo pequenos períodos sem chuva comprometam a plantação.

Principais fatores que afetam a produção de feijão

  • Escassez de chuvas: Mesmo pequenos períodos sem água comprometeram a plantação.
  • Proliferação de pragas: A seca facilita a disseminação do mosaico-dourado, transmitido pela mosca-branca.
  • Redução de safras: A 2ª safra do grão teve um prejuízo de 15%, e a 3ª safra foi 11% abaixo do padrão.

Esses fatores devem resultar num aumento de até 40% no preço do feijão carioca até o final do ano, conforme Lüders.

Como a seca impacta o preço da carne bovina?

A seca está degradando os pastos, atrasando o processo de engorda dos bovinos e, consequentemente, reduzindo a oferta de carne no mercado, de acordo com Fernando Henrique Iglesias, economista da consultoria Safras & Mercado. Isso tende a elevar os preços da carne bovina, especialmente em um cenário de alta demanda e boas exportações.

Fatores que influenciam o preço da carne

  • Degradação dos pastos: A seca reduz a quantidade e a qualidade do pasto disponível.
  • Incêndios: Mais frequentes durante a seca, incendios destroem estoques de alimentos para os criadores.
  • Aumento da demanda: A alta exportação eleva ainda mais os preços no mercado interno.

O economista Iglesias reforça que a alta demanda pela carne no mercado interno e externo deixa a disputa pelo produto mais acirrada, elevando os preços.

Por que a laranja está mais cara?

Os preços da laranja e do suco de laranja vêm aumentando desde o final de 2023 e devem continuar em alta. Além da seca, que prejudica severamente as safras, fatores como altas temperaturas e epidemias de doenças — como o greening — também afetam a qualidade e a produtividade das frutas.

Principais problemas na produção de laranja

  1. Estresse hídrico: Períodos longos sem chuva afetam o florescimento.
  2. Altas temperaturas: Temperaturas superiores a 35°C durante o florescimento levam ao abortamento de frutos.
  3. Doenças: A incidência de greening diminui a produtividade das plantas.

O Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) revelou que o suco de frutas aumentou 7,46% nos últimos 12 meses, e a laranja pera subiu 41,12% no mesmo período. Segundo Fernanda Geraldini, pesquisadora de frutas do Cepea/Esalq – USP, o Brasil pode levar até três safras para repor os estoques de suco, o que mantém os preços elevados.

Tem água para produzir?

A irrigação poderia ajudar a mitigar os efeitos da seca, mas apenas uma pequena parte dos produtores brasileiros tem acesso a sistemas de irrigação eficazes. Sandra Bonetti, secretária de meio ambiente da Contag, explica que a irrigação exige grandes estruturas e é inacessível para muitos agricultores com poucos recursos.

Soluções alternativas para pequenos produtores

  • Águas de reuso: Utilizar águas de reuso pode ser uma alternativa viável.
  • Cisternas: Armazenar água da chuva para irrigação.
  • Agroflorestas: Integração de árvores às lavouras para conservar a umidade do solo.

Apesar dessas iniciativas, a seca severa e prolongada demonstra que os pequenos produtores são os mais vulneráveis, especialmente em regiões Norte do país onde a locomoção é difícil.

Secas mais recorrentes?

A estiagem atual é resultado de uma sequência de eventos climáticos, incluindo o El Niño de 2023, que reduziu as chuvas e aumentou as temperaturas. O desmatamento na Amazônia também agrava o problema, pois a floresta tem papel crítico na distribuição de umidade pelo país.

Expectativas futuras

  • La Niña: A previsão de um novo evento em setembro de 2024 pode trazer chuvas, mas não resolverá a situação.
  • Aquecimento global: Projeções do IPCC indicam aumento de 1,5°C na temperatura do planeta entre 2030 e 2050.

Esses fatores sugerem que secas mais frequentes e intensas são uma realidade crescente, exigindo mudanças urgentes na gestão de recursos hídricos e práticas agrícolas no Brasil.

Revista D Marília / Fonte: Terra Brasil Notícias

Compartilhar matéria no
Especialistas preveem aumento de até 40% no preço do feijão até o final do ano