Ao mesmo tempo que o uso de IA nas eleições tem seus riscos, tecnologia pode facilitar disseminação de informação e acessibilidade
*Por Alessandra Montini, diretora do LabData, da FIA
A proliferação de fake news durante as eleições representa uma das maiores ameaças à democracia, pois notícias falsas se espalham rapidamente nas redes sociais, muitas vezes com o objetivo de manipular a opinião pública e distorcer a realidade.
Uma pesquisa do Instituto DataSenado revelou que metade dos brasileiros considera difícil identificar se uma notícia é verdadeira na internet. Enquanto 72% dos entrevistados acreditam ter recebido notícias falsas nos últimos seis meses, 81% acham que as notícias falsas podem afetar significativamente o resultado eleitoral.
Dentro desse cenário, a Inteligência Artificial (IA) surge como uma aliada crucial para os eleitores, ao identificar, analisar e mitigar a disseminação de informações enganosas. Ferramentas de IA, como algoritmos de detecção de padrões e análise de linguagem natural, têm a capacidade de monitorar grandes volumes de dados em tempo real, sinalizando conteúdos duvidosos e oferecendo verificações rápidas de fatos, atuando como uma espécie de escudo digital que protege a integridade das eleições.
Além de monitorar e sinalizar conteúdos enganosos, plataformas que utilizam IA podem criar ambientes mais seguros para os eleitores, oferecendo mecanismos de filtragem que ajudam a distinguir entre informações verdadeiras e boatos. Esse papel é essencial para garantir que as decisões dos eleitores sejam informadas e baseadas em fatos concretos, e não em desinformação. No entanto, a implementação dessas tecnologias precisa ser transparente, de modo que os processos de verificação sejam claros e compreensíveis para o público, evitando que a IA se transforme em uma ferramenta de censura disfarçada.
Outra dificuldade que muitos eleitores enfrentam durante o período eleitoral é o volume de informações, que pode tornar a escolha de um candidato um processo confuso e exaustivo. A IA se destaca também na personalização dessas informações, auxiliando o eleitor a encontrar rapidamente os dados mais relevantes sobre candidatos e suas plataformas, de acordo com seus interesses e preocupações. Com assistentes virtuais e algoritmos de recomendação, a IA pode fornecer conteúdos personalizados sobre temas específicos, como saúde, educação ou segurança pública, guiando o eleitor em um mar de informações e promovendo um engajamento mais consciente e direcionado.
A educação eleitoral é outro ponto em que a IA pode contribuir significativamente, preparando os eleitores para um voto mais consciente e informado. Chatbots inteligentes podem responder a perguntas frequentes sobre o processo eleitoral, explicar como funcionam os sistemas de votação e esclarecer dúvidas sobre propostas dos candidatos. Esses recursos são especialmente úteis para jovens eleitores, pessoas com menor acesso à educação formal ou indivíduos que não estão familiarizados com os mecanismos eleitorais.
Ambientes interativos impulsionados por IA, onde os eleitores simulam cenários de votação e aprendem sobre o impacto de suas escolhas, ajudam a fortalecer a cultura democrática, tornando o processo de votação mais acessível e compreensível para todos.
A IA também desempenha um papel essencial na inclusão de eleitores, especialmente daqueles que enfrentam barreiras físicas ou de acesso. Ferramentas como leitores de tela, assistentes de voz e sistemas de tradução automática permitem que mais pessoas, independentemente de suas condições, possam participar ativamente do processo eleitoral.
Por exemplo, eleitores com deficiência visual podem se beneficiar de descrições detalhadas de materiais de campanha, enquanto tecnologias de reconhecimento de fala podem auxiliar eleitores com deficiência auditiva a acompanhar debates e discursos. Assim, a IA promove uma inclusão que vai além da acessibilidade física, criando um ambiente eleitoral onde todos se sintam parte do processo democrático.
O futuro das eleições está cada vez mais interligado à inovação tecnológica, e cabe a todos – governos, empresas de tecnologia e sociedade civil – trabalharem juntos para que essa tecnologia promova um ambiente eleitoral mais justo, inclusivo e representativo. Dessa maneira, o eleitor deixa de ser um mero espectador e assume o papel de protagonista na construção do seu próprio futuro político, amplificando suas decisões e tornando-as mais conscientes e inclusivas.
Por Alessandra Montini
Fonte: Olhar DIgital