Os incêndios em território brasileiro, principalmente no Pantanal e na Amazônia – os piores em quase 20 anos -, além de destruírem biomas e áreas cultivadas, têm comprometido com gravidade a qualidade do ar na América do Sul. De acordo com dados divulgados nesta segunda-feira, 23, pelo Serviço de Monitoramento da Atmosfera do Copernicus (CAMS), as emissões geradas pelos incêndios na região têm ficado acima da média.
No Brasil, as emissões acumuladas em 2024, até 19 de setembro, chegaram a 183 megatoneladas de carbono (Mt CO2). O dado do Observatório Europeu Copernicus leva em consideração três condições: total de focos de incêndios, as emissões de carbono geradas e ainda a extensão das áreas afetadas.
A emissões estão relacionadas aos incêndios florestais da região amazônica, em particular nos estados do Amazonas e de Mato Grosso do Sul, que abriga a maior parte das zonas úmidas do Pantanal. O total acumulado anual de emissões de carbono estimadas é o mais elevado dos 22 anos do conjunto de dados de emissões de incêndios CAMS, com pouco mais de 28 e 15 megatoneladas de carbono, respectivamente.
Amazônia e Pantanal: dados do Copernicus mostram áreas com concentração de incêndios no Brasil, em tons mais escuros, e o deslocamento das fumaças (Copernicus/divulgação)
Bolívia
As emissões de carbono de incêndios florestais da Bolívia para 2024 são já o total anual mais elevado no conjunto de dados CAMS GFAS, em meados de setembro, com 76 megatoneladas de carbono, ultrapassando o anterior total anual mais elevado de 73 megatoneladas de carbono estabelecido em 2010. Só o mês de setembro é responsável por uma parte significativa deste total, com pouco mais de 32 megatoneladas de carbono.
Os incêndios florestais na região do Pantanal desempenharam um papel significativo no recorde de emissões do Brasil, mas o seu impacto no recorde da Bolívia foi moderado, enquanto uma quantidade significativa das emissões da Bolívia teve origem em Santa Cruz, aponta o Copernicus.
De acordo com o levantamento, a ocorrência desses incêndios florestais pode ser considerada fora do comum, mesmo quando se leva em conta que, entre julho e setembro, registra-se o período em que normalmente ocorrem esses fenômenos na região.
As temperaturas extremamente elevadas que a América do Sul tem registado nos últimos meses, a seca de longa duração indicada pela baixa umidade do solo e outros fatores climatológicos contribuíram, provavelmente, para o aumento significativo das emissões causadas por incêndios, da fumaça e dos impactos na qualidade do ar, esclarece o Copernicus.
“Em 2024, a atividade dos incêndios florestais na América do Sul tem sido claramente superior à média, especialmente na região amazônica e nas zonas úmidas do Pantanal. A fumaça gerada tem tido um impacto muito para além da proximidade dos locais onde os incêndios têm estado a arder, chegando mesmo a cruzar o Atlântico”, diz Mark Parrington, cientista sênior do Serviço de Monitorização da Atmosfera Copernicus (CAMS) do ECMWF, por meio de nota.
Ainda segundo o cientista, o movimento das fumaças e os impactos na qualidade do ar são um indicador da escala e da intensidade dos incêndios. Por isso, segundo Parrington, “é imperativo continuar a monitorizar estes incêndios florestais e as suas emissões para acompanhar o seu impacto na qualidade do ar e na atmosfera”.
Efeitos na saúde
Ainda de acordo com o Copernicus, os incêndios florestais e as suas emissões levaram à degradação da qualidade do ar em grande parte do continente, com a fumaça se estendendo do Equador a São Paulo. A previsão do CAMS Aerosol Alerts para 20 de setembro mostra níveis elevados de partículas PM2.5 na região amazônica. As PM2.5 são partículas finas, em suspensão, com um diâmetro inferior a 2,5 micrómetros.
As partículas em suspensão têm sido associadas a doenças e a mortes causadas por doenças cardíacas ou pulmonares. A Organização Mundial da Saúde tem provas científicas para afirmar que a exposição mais nociva a partículas em suspensão é a exposição prolongada a partículas finas (PM2.5).
EXAME