Foto: Reprodução/Agência Brasil/Tomaz Silva.

No final de 1994, a plantação de cacau na Bahia começou a definhar, levando consigo a saúde e a felicidade de Deodato, um plantador de cacau. Após anos cultivando a terra com dignidade, a praga da vassoura-de-bruxa começou a destruir suas plantações, comprometendo o sustento de sua família. A história de Deodato, tristemente, não é única, e representa milhares de outras famílias afetadas por essa catástrofe.

Durante os anos 80 e 90, a Bahia, um dos maiores centros produtores de cacau do mundo, sofreu um dos ataques biológicos mais devastadores de sua história. Introduzida de maneira deliberada, a praga da vassoura-de-bruxa, causada pelo fungo Moniliophtora perniciosa, dizimou plantações e resultou em profundas consequências sociais e econômicas. A queda dramática na produção levou o Brasil do posto de um dos maiores exportadores de cacau para o de um importador.

A Praga Vassoura-de-Bruxa: O que foi?
A vassoura-de-bruxa é uma doença que ataca várias partes do cacaueiro, deformando ramos e prejudicando o desenvolvimento das plantas. Suas consequências são devastadoras, e a incapacidade de controlar a praga rapidamente resultou em uma crise sem precedentes. Mas como essa praga chegou às plantações baianas? A descoberta é dolorosa.

Como aconteceu
O documentário “O Nó – Ato Humano Deliberado” trouxe à tona uma história sombria: a introdução da vassoura-de-bruxa às plantações na Bahia foi planejada e executada por cinco funcionários da Ceplac (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira). Segundo denúncias, essa sabotagem visava desestabilizar o poder econômico da região e, potencialmente, beneficiar interesses corporativos ou políticos.

Famílias atingidas
Deodato não foi o único a sofrer. Claudio Dessimoni, outro lavrador entrevistado pela NPR, teve uma história parecida, mas com o agravante de ter perdido sua esposa para o desespero causado pela praga. No fim, mais de 200 mil trabalhadores da lavoura perderam seus empregos, e cerca de 800 mil pessoas foram forçadas a migrar para periferias empobrecidas.

Impacto econômico e social
Na época, o Brasil era o segundo maior exportador de cacau do mundo. Após a devastação, a produção caiu quase 75%, e o país caiu para o 13º lugar no ranking mundial. A destruição das plantações não só afetou a economia local, mas também causou um impacto significativo no mercado global de cacau.

A introdução da vassoura-de-bruxa trouxe consigo uma crise econômica que até hoje tem consequências. A Bahia, que era o coração do cacau, viu suas cidades se esvaziarem e a pobreza aumentar. Negócios locais que dependiam da produção de cacau fecharam, e os investimentos na região diminuíram drasticamente.

A Ceplac foi criticada pelas suas recomendações de combate à praga. Suas indicações, muitas vezes contraditórias, apenas pioraram a situação, contribuindo ainda mais para a destruição das plantações. Em vez de minimizar os danos, as práticas sugeridas pela comissão acabaram acelerando a disseminação da doença.

Alguém foi responsabilizado?
Até hoje, ninguém foi oficialmente responsabilizado pelo bioterrorismo. Mesmo Luiz Henrique Franco Timóteo, que confessou ter participado da disseminação da praga, nunca fora condenado. Sua justificação para o ato mudou com o tempo, criando ainda mais dúvidas sobre as verdadeiras intenções por trás do ataque.

Existem diversas teorias sobre as motivações por trás da introdução da vassoura-de-bruxa. Desde a tentativa de enfraquecer os barões do cacau até a justificativa de que a Ceplac queria garantir sua importância na indústria, as razões apresentadas têm sido questionadas e debatidas por especialistas e historiadores.

O futuro do cacau na Bahia
O futuro da produção de cacau na Bahia está em jogo. Novas tecnologias e métodos de cultivo estão sendo experimentados, mas a sombra do passado ainda assombra os produtores. A necessidade de regulamentações mais rigorosas e políticas de apoio aos agricultores é fundamental para garantir que catástrofes como essa nunca mais se repitam.

A história da vassoura-de-bruxa na Bahia é um lembrete cruel das vulnerabilidades na agricultura e dos riscos de bioterrorismo. Para avançar, é essencial aprender com os erros do passado e investir em medidas preventivas e suporte contínuo para os agricultores.

Com o devido apoio e inovação, espera-se que o cacau brasileiro possa reencontrar seu caminho e restaurar seu lugar de destaque no cenário internacional.

Revista D Marília / Fonte: Poder 360

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Membro do PT confessa ataque bioterrorista que destruiu a produção de cacau na Bahia
Foto: Reprodução/Agência Brasil/Tomaz Silva.