O movimento na entrada da Cidade Velha de Jerusalém estava fraquíssimo às 19h40 (13h40 de Brasília). “Guerra, né?”, disse Abdullah, vendedor de bugigangas perto do portão de Jaffa.
O conflito em si se apresentou no mesmo momento, com o alerta de ataque aéreo bastante esperado desde a tarde, quando os EUA disseram que o Irã estava prestes a agir. Começava o ataque de mísseis contra Israel.
Sem correria, lojas fecharam suas portas, e três policiais empurraram os incautos que faziam vídeos esperando a ação para dentro de um recesso nas pedras da cidade dos três monoteísmos. Não era um bunker, mas parecia.
O sinal de telefonia inconstante típico de Israel impedia atualizações, mas quando o aplicativo funcionava era possível ver o mapa do país coalhado de pontos de alerta. Tecnicamente, estar na Cidade velha, onde fica a sagrada mesquita de Al Aqsa, desestimularia ações contra o local.
Mas destroços são agnósticos, e a defesa aérea de Israel logo se fez ouvir. A reportagem contou umas 15 explosões enquanto as sirenes soavam, o que durou nove longos minutos.
Os policiais liberaram a saída, só para o processo se repetir por mais dois minutos. No céu, além da explosões, o rastro de mísseis iranianos rumo a Tel Aviv e o risco rápido dos projéteis do sistema Domo de Ferro. Antes deste episódio, isso só tinha acontecido no ataque retaliatório do Irã em abril.
Tudo cessa, e é possível rumar de volta ao hotel, jantar de trabalho cancelado por “force majeure”. No caminho, vida normal: famílias na rua, alguns frequentadores de bares.
Perto do calçadão da rua Ben Yehuda, no centro, um novo alarme, desta vez com um sistema público de emergência. Segundo um morador, isso nunca tinha acontecido, o que sugeria algo mais sério. O repeteco da ação não parecia nos planos dos donos de restaurantes, que reabriam suas portas.
Policiais determinavam a entrada numa loja de departamentos quase na esquina com a rua Jaffa. Um simpático vendedor indicou o caminho para uma porta corta-explosivos no meio de um depósito de malas e bolsas, lugar inusitado para um bunker, mas inteligente: o local dava acesso ao sistema de escadas do edifício.
Eram 20h26, e o sentimento semelhante ao de ucranianos na escadaria do metrô de Kiev, checando o smartphone, era tangível. Quatro minutos depois, sirenes finalizadas, todos liberados. A noite, que não é lá essas coisas em Jerusalém, estava encerrada. Ao menos, é o que todos esperam.
FOLHA