As universidades particulares perderam 265 mil estudantes – que abandonaram o curso ou trancaram matrícula – em abril e maio, aponta levantamento do Semesp, sindicato que representa o setor do ensino privado no Brasil. A evasão foi quase 32% maior, ante o mesmo período de 2019, quando foram registradas 201 mil desistências. Segundo a entidade, o cenário traz outro alerta: no mínimo 11,3% dos estudantes devem terminar o ano inadimplentes, com ao menos uma mensalidade atrasada.
Só em maio, a evasão teve alta de 14,3%, puxada por cursos presenciais. A rede privada reúne 75,4% (6,3 milhões) das matrículas de graduação, conforme o Censo da Educação Superior de 2018 do Ministério da Educação (MEC), o mais recente.
Pesquisa da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes) apontou, em junho, que 82% dos estudantes dizem que a perda de renda foi o principal motivo para interromper os estudos. Realizado de 28 a 31 de maio, o levantamento ainda concluiu que 42% dos alunos estão sob risco de desistir dos estudos – 5% a mais do que o declarado em março, no início da pandemia.
O Semesp prevê que julho será ainda mais complicado, comprometendo a captação das instituições, já atingidas por queda de 70% nas buscas por cursos superiores, em comparação com o mesmo período em 2019. “Nosso grande termômetro é o interesse nas buscas do Google”, diz Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp.
Ele diz que a Medida Provisória (MP) 936, que permite a redução de salários e jornada durante a crise, prejudicou os alunos. Esses fatores, alinhados à queda na previsão do PIB e recorde de desempregados no País, constroem cenário “preocupante” para o setor.
Valéria Félix, de 22 anos, mal havia começado o 1.º semestre de Psicologia em São Paulo quando a pandemia chegou. Foram só duas semanas de aulas presenciais antes de voltar à casa dos pais, em Frei Lagonegro, no interior de Minas. A irmã dela, Ângela, que pagava seus estudos, perdeu o emprego que tinha em um bar e, até agora, não conseguiu outro.
E, assim, fica difícil para a família arcar com a mensalidade de R$ 360, valor já reduzido graças ao desconto do Programa de Inclusão Universitária (Priuni), parceria da Uninove com ONGs da Grande São Paulo.
No início, a necessidade de trancar o curso deixou Valéria deprimida. Agora, ela diz que está aceitando melhor. “Não é só comigo que isso acontece. Quando der, quero voltar.”
A migração das aulas físicas para as virtuais sem desconto das mensalidades dos alunos tem impulsionado movimentos estudantis pela redução dos valores, pois, segundo eles, as instituições de ensino viram suas contas de água, luz e manutenção caírem.