Os efeitos da paralisação das atividades sobre a economia, iniciados na segunda quinzena de março, na esteira do avanço da pandemia de covid-19 sobre o País, se aprofundaram em abril, mostra o Boletim de Acompanhamento Setorial da Atividade Econômica, lançado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) nesta quarta-feira, 27. Os pesquisadores do Ipea projetam, sempre na comparação de abril com março, tombos de 36,1% na produção industrial, de 28,4% nas vendas do varejo e de 23,7% no volume de sérvios prestados.
As projeções do Ipea miram as três grandes pesquisas sobre a atividade setorial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e levam em conta tanto o efeito de carregamento do desempenho do primeiro trimestre sobre abril quanto dados coincidentes – de pesquisas qualitativas a dados diários sobre transações comerciais – já informados sobre o mês passado.
Na próxima sexta-feira, 29, o IBGE divulgará o PIB do primeiro trimestre, mas as pesquisas de abril sobre a indústria, o comércio varejista e o setor de serviços serão conhecidas apenas na primeira quinzena de junho.
A mais recente projeção do Ipea para o PIB aponta queda de 1,8% em 2020, no pior cenário, traçado no fim de março. Agora, segundo Carvalho, os pesquisadores do instituto revisarão a estimativa após a divulgação dos dados do primeiro trimestre pelo IBGE. O economista chamou atenção para o elevado nível de incerteza, que dificulta até mesmo a elaboração das projeções com base em modelos estatísticos.
Na produção industrial, o tombo de 36,1% em abril ante março, após a retração de 9,1% em março ante fevereiro, será puxado pela fabricação de veículos e de artigos para vestuário, conforme as projeções do Ipea. Com isso, a produção registrará queda de 44,6% ante abril de 2019.
O Ipea destacou as retrações em indicadores coincidentes como a produção total de automóveis (-95%), o fluxo de caminhões em rodovias (-19,1%) e o nível de utilização de capacidade instalada (Nuci) na indústria de transformação que, na Sondagem da Indústria da Fundação Getulio Vargas (FGV), caiu 18 pontos percentuais em abril.
Diante disso, o Ipea projeta o tombo histórico de 92,9% na produção de veículos automotores em abril ante março, conforme a segmentação feita na pesquisa do IBGE. Já a produção de artigos de vestuário deverá registrar queda de 14,6% em abril ante março A produção de celulose e papel e a fabricação de alimentos deverão se destacar, com desempenho superior ao das demais atividades.
No comércio varejista, os veículos também deverão ser o destaque negativo, com queda de 62,2% em abril ante março. Tanto que as vendas do varejo ampliado, que inclui as os segmentos de veículos e material de construção, deverão cair 34,7% na mesma base de comparação. No varejo restrito, que exclui as lojas de carros e de material de construção, a queda deverá ficar em 28,4%. Até as vendas dos supermercados, que avançaram 14,6% em março sobre fevereiro, deverão passar para uma retração de 5%.