O adiamento inédito dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio para 2021, por conta da pandemia do novo coronavírus (covid-19), deu alívio à maioria dos atletas, mas ocasionou também vários impasses para a viabilização do evento no ano que vem. Para entender melhor tais dificuldades, a Agência Brasil consultou a opinião de diversos especialistas.

ASPECTOS ESPORTIVOS / Antes do adiamento dos Jogos, o Brasil tinha 178 atletas garantidos nas Olimpíadas em 25 modalidades. Após a mudança da data de realização do evento, as incertezas tomaram conta desse processo. Bárbara Schausteck de Almeida, doutora em educação física pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), explica como a situação afeta os esportistas.
“É um desafio para todos. Alguns atletas têm sua carreira toda programada para ter seu pico de desempenho em uma edição olímpica. Nem sempre é possível prolongar esse desempenho por mais tempo, mesmo que um ano pareça pouco”, disse.
Outra polêmica é o apelo que já vem crescendo de atletas do futebol para que a idade limite do torneio olímpico seja alterada de 23 para 24 anos. “É preciso bom senso para não prejudicar os atletas. Retirar os jogadores por questão de idade nesse momento traria um prejuízo grande às seleções. Isso, é claro, no contexto desse adiamento dos Jogos em um ano”.

PREJUÍZOS / Estima-se que o prejuízo do Japão com o adiamento de Tóquio 2020 possa chegar a R$ 13 bilhões. Em entrevista ao jornal japonês Nikkei, o diretor executivo do Comitê Local, Toshiro Muto afirmou: “Não temos como precisar o valor. E quem vai pagar isso? Não preciso dizer que não serão discussões fáceis e não sabemos quanto tempo vão durar”.
Em teleconferência com jornalistas do mundo todo nesta quarta-feira (25), o presidente do COI, Thomas Bach, afirmou que o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, se comprometeu a ajudar: “Todos vão ser impactados, não só os atletas. Temos que fazer desses Jogos um símbolo de união”, defendeu o dirigente do COI.
Anderson Gurgel, professor de marketing esportivo da Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo, fez uma análise do impacto financeiro da decisão tomada pelo COI e pelo governo japonês.
“Esse anúncio traz alívio ao mundo esportivo, em função da pandemia da covid-19, mas também traz apreensão e preocupações. Essa preocupação se sustenta no argumento anterior do COI de segurar a possibilidade de os Jogos ocorrerem este ano, pedindo aproximadamente um mês para confirmar o adiamento, por conta da complexidade de negociações e organização do evento. Mas, após cederem e aceitarem adiar as competições, eles não definiram em que mês de 2021 ocorrerá as Olimpíadas.”

LOGÍSTICA / A dificuldade se deve ao tamanho do evento, que conta com mais de 30 federações representando as modalidades participantes, sendo necessário para o Comitê Organizador conversar com todas, em busca de acertos completos.
Sem falar da logística do país-sede. Uma das preocupações é a Vila Olímpica. Muitos apartamentos que iriam receber os atletas já estavam sendo negociados para serem entregues depois dos Jogos. Cerca de 25% das 5.632 acomodações já teriam sido vendidas.
Os impactos financeiros também afetam acordos comerciais com patrocinadores e da transmissão do evento.

SIMBOLISMO / Pela primeira vez na história das Olimpíadas, o evento foi adiado, e o ineditismo da decisão também pode trazer consequências, considera a professora Katia Rúbio, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).
“É a quebra de um ritual sob o qual nasceram os Jogos Olímpicos, que é o respeito ao calendário quadrienal conforme acontecia na antiguidade. Nos tempos atuais, essa questão divina deixa de existir. Mas ela permanece comO ritos simbólicos”, afirmou.

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Adiamento inédito gera um ‘impasse olímpico’ em 2021
Quebra da sazonalidade rigorosa da realização dos Jogos abre uma ’ferida’ na tradição imposta por necessidade maior