A vida impõe desafios a João Carlos Rodovalho desde 2001, quando teve diagnosticado o primeiro de cinco sarcomas de Ewing. O tumor maligno, que acomete ossos e partes moles e o levou, primeiro, a amputar a perna esquerda a partir do joelho, espalhou-se e o obrigou a retirar parte do pulmão esquerdo. “Se estou vivo hoje, se tenho qualidade de vida e consigo fazer as minhas coisas, é por causa do esporte”, resume à Agência Brasil.
O esporte o ensinou a enfrentar os limites impostos pelos comprometimentos causados pelo câncer. Hoje, é ele próprio quem se desafia. João Saci, como é conhecido, encarará o Monte Everest, montanha de maior altitude no planeta, com pico 8.848 metros acima do nível do mar, na fronteira entre o Nepal e o Tibete.
O desafio do goiano de 36 anos é chegar ao acampamento-base, a 5.364 metros, onde os alpinistas que seguem até o cume ficam para se aclimatar. Ele monitora a situação do coronavírus (Covid-19) no continente, uma vez que a vizinha China é o epicentro da doença, mas mantém a previsão da viagem para abril.
FAMÍLIA / João está com tudo organizado para o desafio. Falta só deixar a família mais tranquila. “Eles são tudo para mim. Quando falei que iria para o Everest, não gostaram muito (risos). Mas, de certa forma, eles entendem que esses desafios fazem parte da minha vida, da minha história”, comenta.
História que começou debaixo d’água. João foi nadador por 14 anos, começando antes mesmo do câncer. Após a doença, aderiu à natação paralímpica, convivendo com astros da modalidade, como os medalhistas Daniel Dias e Clodoaldo Silva. Competiu na classe S9 (entre a categorias físico-motoras, que são 10, é uma das de menor comprometimento) e quase foi à Paralimpíada de Atenas, na Grécia, em 2004. “Fiz o índice, mas, para a convocação, o critério era ter marca em mais de uma prova”, recorda.
João deixou as competições nas piscinas, mas nunca o esporte – que o acompanha desde o Colégio Militar onde estudou em Goiânia. “O esporte me ajudou a recuperar rápido das cirurgias e da quimioterapia. Eu cheguei a pesar 54 quilos. Eu tenho 1,85m, então imagina como eu estava magro. Mas sabia que iria me recuperar porque meu corpo estava preparado”, destacou o atleta, formado em gestão financeira e que hoje é palestrante.
SUPERAÇÃO / A estimativa é que a aventura no Everest dure em torno de 20 dias. Para João, concluir o desafio será deixar uma mensagem de superação. “O câncer me apareceu cinco vezes em 15 anos. Mesmo assim, eu me formei, fiz pós-graduação, consegui ser atleta e continuo me dedicando ao esporte, porque ele é essencial. A doença tentou impedir, por algum momento tive que parar para me cuidar, mas, quando voltei, corri atrás dos objetivos. A cada dia, são pequenas vitórias que, no fim, somam-se numa vitória grandiosa”, encerra.