
Créditos: Imagem ilustrativa criada por IA – uso editorial.
Alguns adidos militares e oficiais superiores brasileiros lotados no exterior estão recebendo valores que beiram R$ 150 mil por mês, somando salário e indenizações em dólar. As cifras superam em mais de 100% o salário do presidente da República, hoje fixado em R$ 41,6 mil. Enquanto isso, no Brasil, sargentos e praças afirmam precisar fazer bicos nas ruas para fechar as contas de casa, expondo a disparidade dentro das próprias Forças Armadas.
Os dados foram obtidos no Portal da Transparência do Governo Federal e revelam uma estrutura de remuneração que inclui não apenas o soldo, mas uma série de verbas indenizatórias que praticamente cobrem todas as despesas do militar e de sua família durante a missão internacional. Conforme levantamento publicado por Lúcio Vaz na Gazeta do Povo, há casos de oficiais com ganhos líquidos muito acima da média da carreira militar.
Rendas em dólar superam salários do presidente
O capitão de mar e guerra Sérgio Fernandes, adido militar no Reino Unido e na Noruega, teve renda bruta média de R$ 75,6 mil entre março e agosto deste ano, totalizando R$ 454 mil em seis meses. Além disso, recebeu R$ 430 mil em indenizações, com média mensal de R$ 71 mil. Somando os dois valores, a despesa mensal da União com o oficial chegou a R$ 147 mil — o equivalente a quase quatro vezes o que ganha um general no Brasil.
Outro exemplo é o também capitão de mar e guerra Luciano da Silva Maciel, adido no Japão desde abril do ano passado. Em março, seu rendimento bruto foi de R$ 100 mil, e a média mensal do semestre ficou em R$ 67 mil, alcançando R$ 402 mil. As indenizações, por sua vez, chegaram a R$ 382 mil, o que representa um ganho total de R$ 131 mil por mês entre março e agosto.
O capitão André França de Carvalho registrou R$ 99 mil de soldo em março e abril, mas teve redução para R$ 43 mil mensais de maio a agosto. Ainda assim, acumulou R$ 373 mil de renda bruta e R$ 376 mil em indenizações no semestre, com média total de R$ 124 mil mensais. Já Carlos Costa de Oliveira, adido militar na China, obteve R$ 402 mil de rendimentos brutos e R$ 217 mil de verbas indenizatórias, somando uma média mensal de R$ 103 mil.
Indenizações elevam padrão de vida dos adidos
As chamadas indenizações cobrem praticamente todos os custos do oficial no exterior: moradia, transporte, escola dos filhos e até jantares de representação. Entre as principais rubricas estão a Indenização de Representação no Exterior (IREX), o auxílio-familiar e a ajuda de custo, pagos em dólar.
A Lei nº 5.809/1972 define que a IREX “compensa as despesas inerentes à missão”, variando de acordo com o custo de vida local e o posto ocupado. Já o auxílio-familiar garante 10% do valor da IREX para o cônjuge e 5% para cada filho menor de 21 anos, ou até 24 se ainda for estudante. Também têm direito filhas solteiras e mães viúvas que dependam financeiramente do militar.
Esses valores são pagos adiantados, com a justificativa de custear mudança, viagem e instalação no novo posto. O problema, apontam especialistas, é que a falta de transparência e critérios objetivos faz com que essas indenizações assumam caráter de complementação salarial, inflando os ganhos dos adidos e gerando críticas dentro da própria tropa.
Enquanto isso, na base da hierarquia…
Enquanto adidos e oficiais vivem com salários expressivos no exterior, sargentos, cabos e soldados em território nacional relatam dificuldades financeiras. Muitos afirmam ter de recorrer a bicos noturnos, como motoristas de aplicativo, seguranças particulares e até entregadores, para complementar a renda.
“Tem soldado, cabo e sargento rodando Uber, vendendo produto, empreendendo em nome de terceiros para complementar a renda, porque o soldo não cobre o básico. Isso é preocupante, pois a necessidade pode levar bons militares a caminhos errados. É preciso olhar com atenção para quem carrega o peso do serviço diário nas Forças Armadas.”
A discrepância entre o topo e a base reacende o debate sobre privilégios e distorções salariais nas Forças Armadas, especialmente em tempos de restrições orçamentárias. O tema é sensível, mas vem ganhando espaço em grupos de militares nas redes sociais, que pedem mais transparência nos critérios de designação e nas indenizações pagas em dólar.
A informação foi divulgada por Lúcio Vaz, jornalista com mais de 30 anos de carreira cobrindo política e gastos públicos. Ele é conhecido por revelar supersalários, mordomias e desvios de recursos em diferentes esferas do poder. Vaz já trabalhou em O Globo, Folha de S.Paulo e Correio Braziliense, e foi premiado com o Embratel e o Latinoamericano de Jornalismo Investigativo pela descoberta da Máfia dos Sanguessugas.
Enquanto generais reclamam de “salários baixos”, sargentos dizem rodar Uber para sobreviver: “o soldo não cobre o básico”
De acordo com matéria recente do portal Sociedade Militar, a fala do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro Filho, sobre as “dificuldades financeiras” dos generais gerou forte reação na base das Forças Armadas, que se diz esquecida pelo governo e vive à beira do endividamento.
A declaração de Múcio, feita no Senado, de que oficiais generais “vivem com dificuldades” após 50 anos de serviço, foi vista como um desrespeito por sargentos, cabos e soldados que lutam para pagar as contas. Nas redes sociais, a revolta tomou força: militares da ativa e da reserva denunciaram a desigualdade interna, lembrando que muitos precisam fazer bicos, vender produtos e até dirigir aplicativos para complementar o salário.
Comentários publicados nas páginas da tropa revelam o clima de insatisfação: “O dia que eu ver oficial tendo que fazer bico na rua pra fechar as contas de casa, me compadeço! A princípio, só vejo os praças como tendo soldos verdadeiramente defasados”. Para grande parte da base, o ministro ignora a realidade de quem realmente sustenta as Forças Armadas no dia a dia — aqueles que “carregam o peso do serviço”, mas continuam invisíveis nas discussões sobre reajustes salariais.
Fonte: Sociedade Militar
Fonte: Diário Do Brasil