A sociedade é mais receptiva a pessoas que possuem autocontrole, sendo percebidas como competentes, justas, sinceras e simpáticas. É o que aponta a pesquisa “Percepção de autocontrole dos brasileiros”, realizada pela Instituto Locomotiva. Para Álvaro Machado Dias, sócio do Instituto Locomotiva, os dados mostram que a associação do autocontrole a algo positivo pode ser explicada pelas tragédias recentes vivenciadas no país.
“Os brasileiros estão angustiados com as atitudes irracionais que perpassam o tecido social. Estamos em busca, como sociedade, por um pouco mais de autocontrole. Um pouco menos de loucura do ponto de vista social do termo”, explica. A pesquisa quantitativa foi realizada com 1.682 participantes com idades entre 18 e 77 anos. Sendo que 51,1% foram mulheres e 48,9% homens.
Os dados apontam que, ao contrário do que muitos dizem, as pessoas mais autocontroladas não são vistas como controladoras, frias ou dotadas de estilo robótico. E a maioria dos participantes (52%) demonstra interesse em se relacionar com pessoas de elevado autocontrole.
Os resultados ainda mostram que o baixo autocontrole tende a diminuir com a escolaridade, ou seja, pessoas que completaram o ensino superior tendem a ser 62% menos propensas ao autodescontrole.
A pesquisa ainda aponta que pessoas com maior autocontrole tendem a ser mais velhas (entre 41 e 50 anos), 79% buscam a felicidade a partir de um modelo eudaimônico (ideal de felicidade baseado na experiência de estar realizando sua missão pessoal na vida), e 21% consideram que a felicidade é alcançada atingindo seu prazer máximo (modelo hedônica).
“A sensação de controle foi reforçada durante a pandemia tanto porque as pessoas tiveram que se segurar (controlar) mais, o que aumentou a consciência sobre a importância dessa capacidade, quanto pela razão oposta, porque muitos sentiram um descontrole na polarização e na tensão social que tomaram conta do ambiente institucional, conforme mapeado pela Locomotiva, por meio de diversos outros estudos, que complementam este aqui”, explica Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva.
Porém, o autocontrole não está sempre associado a experiências positivas. A literatura psicanalítica, por exemplo, é repleta de casos clínicos de pessoas sofrendo com sintomas repressivos, desenvolvidos durante dinâmicas comportamentais orientadas ao aumento do autocontrole. Do mais, há evidências de que o autocontrole pode reduzir a criatividade.

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Brasileiros enxergam pessoas com autocontrole como competentes e justas