Os Estados Unidos vêm testando caças F-16 pilotados por inteligência artificial (IA) capazes até de superar os humanos em certos aspectos.
A tecnologia já é utilizada pelos EUA desde setembro, temendo concorrência com a China. Em entrevista à Associated Press, Frank Kendall, secretário da Força Aérea dos EUA, detalhou como foram os testes.
Kendall participou de um dos testes, em voo que durou uma hora, pois queria comprovar pessoalmente a eficácia da IA no controle dos caças F-16. “É um risco de segurança não o ter. Neste ponto, precisamos disso”, disse à agência de notícias.PUBLICIDADE
O voo foi acompanhado pela AP e pela NBC, mas mais detalhes sobre o teste não podem ser revelados por enquanto por questões de segurança operacional.
IA nos caças F-16: desde setembro de 2023
- Os caças F-16 pilotados por IA começaram a ser testados em setembro de 2023;
- O protótipo do projeto tem nome de “Vista” (assim como o fracassado sistema operacional da Microsoft);
- Os testes estão sendo realizados na Base Aérea de Edwards – mesmo local onde, em 1947, Chuck Yeager superou a velocidade do som pela primeira vez na história;
- A Força Aérea destacou ser muito difícil desenvolver uma IA que pilote aeronaves de combate;
- Mesmo assim, os EUA objetivam construir cerca de mil caças equipados com a tecnologia e que os pilotem;
- Até agora, desconhece-se qualquer outra nação que esteja em testes tão avançados com a tecnologia em aeronaves de combate;
- Apesar da preocupação dos militares estadunidenses em especial com os chineses, o que se sabe é que a China possui a IA, mas que ainda não conseguiu testá-la fora dos simuladores.
Mesmo que a China começasse os testes em breve (se realmente não estão fazendo isso atualmente), a AP considera difícil que alcançassem voos práticos rapidamente, ao menos, atingindo o nível de evolução dos EUA e dos testes em laboratório.PUBLICIDADE
Teste
No teste, o Vista sobrevoou Kendall em manobras ultrarrápidas a mais de 880 km/h, colocando pressão com força cinco vezes maior que a da gravidade (que é de 9,8 m/s²) no corpo da aeronave.
Ela chegou a ficar próxima de outro caça – este pilotado por um humano –, cerca de 300 m de distância. Após uma hora de acrobacias, Kendall deixou a cabine satisfeito, afirmando que viu o bastante durante o voo para confiar na IA, que segue aprendendo.
A IA que está operando os F-16, primeiro, aprende milhões de pontos de dados em simulador e, depois, testa o que aprendeu e concluiu em voos reais. Os dados coletados nos voos para valer voltam para o simulador, no qual a IA os processa para aprender ainda mais.
Até que você realmente voe, “é tudo adivinhação”, disse o piloto-chefe de testes, Bill Gray. “E. quanto mais tempo você leva para descobrir isso, mais tempo leva para você ter sistemas úteis.”
Em cerca de 12 voos-teste, a IA já conseguiu vencer pilotos shumanos em alguns deles.
Dominar a IA por segurança e dinheiro
A vontade dos EUA de dominar a tecnologia é motivada não somente por questões de segurança nacional, mas gira, também, em torno de questões econômicas. Hoje em dia, a produção de caças F-35 sofre com atrasos que podem, ocasionalmente, causar prejuízos que rondam os US$ 1,7 trilhões (R$ 8,67 trilhões, na conversão direta).
Por sua vez, os caças operados por IA e sem nenhum piloto humano no controle podem ser, consequentemente, mais compactos e baratos para fabricação. Ainda, podem voar sem risco de perda de pilotos, principalmente da vida deles. Kendall considera que este é o futuro da aviação de combate.
Preocupações
Contudo, existem grupos humanitários que estão preocupados com as consequências do uso de aeronaves tripuladas pela IA. O principal receio delas relaciona-se com a maneira como a tecnologia poderá atacar alvos e diferenciá-los entre alvos militares e civis inocentes.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha, por exemplo, considera que as armas autônomas “são causa imediata de preocupação e exigem resposta política internacional urgente”. Além disso, a instituição aponta que “existem preocupações generalizadas e sérias sobre a cedência de decisões de vida ou morte a sensores e software”.
Por sua vez, Kendall procurou acalmar os ânimos, afirmando que as aeronaves de combate pilotadas por IA serão sempre supervisionadas por humanos quando precisarem acionar suas armas acopladas.